Identidade entre música, tempo e vida é o ponto forte em 'O quarteto'

Com direção de Dustin Hoffman, o filme tem como cenário, luxuoso asilo para músicos clássicos aposentados

por Estado de Minas 08/03/2013 08:30

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Diamomd Filmsm Brasil/Divulgação
O ator Dustin Hoffman estreia na direção com uma história sobre músicos aposentados (foto: Diamomd Filmsm Brasil/Divulgação)
Quando se sabe que 'O quarteto' é o primeiro filme dirigido pelo ator Dustin Hoffman, não há como deixar de vê-lo com olhos diferentes. Afinal, fica a curiosidade sobre como o veterano do meio vê seu campo de trabalho de uma vida inteira. Cinema é história contada com belas imagens, indica o primeiro longa dele como diretor. Mas, no centro de tudo, devem estar bons personagens vividos por atores capazes de dar “verdade” aos tipos. Cinema, para o ator, pode-se acrescentar, é também diversão, mas que, pelo alcance popular, deve (ou pode) ter alguma ousadia e generosidade (na forma de ver o mundo). 

Dustin Hoffman, em seu filme de estreia, traz história ambientada em luxuoso asilo para músicos clássicos aposentados. Que, anualmente, tem de fazer concerto com os residentes para angariar fundos para a instituição. No local, vivem Wilf (Billy Connolly), Reggie (Tom Courtenay) e Cissy (Pauline Collins). Com a chegada de Jean Horton (Maggie Smith), famosa cantora, surge a ideia de reunir novamente no palco quatro grandes nomes da ópera, que, no passado, eram um acontecimento. Há no filme enorme elenco de coadjuvantes, formado por músicos e cantores, homenageados nos créditos.

Que ninguém imagine que a longa experiência como ator e a vivência nos sets deram a Dustin Hoffman mestria na direção. 'O quarteto' é simpático, mas é obra de estreia de um diretor. Tem bons momentos e outros que ficam a desejar. É um filme caprichado especialmente no plano visual, e tem “buracos” na narrativa. De um lado, estão a caprichada direção de arte e fotografia, composições cuidadosas, movimentos de câmara suaves, que ajudam a construir atmosfera envolvente. De outro, história que tem contexto interessante, bons personagens, mas desenvolvimento irregular. 

Personagens interessantes, depois de um bom começo, vão perdendo a força e ficando superficiais, à medida que o desenvolvimento da história não cria contexto para que possam ir além do que mostraram depois de entrar em cena. Aspecto que pode ser observado em ponto crítico da narrativa: a entrada em cena de Jean Horton. A tensão provocada pela chegada da diva se dilui com ligeireza não justificada dramaturgicamente. Não por culpa da atriz. O mesmo, de alguma forma, ocorre com a trama. Há diversos momentos bonitos, mas não mais do que isso.

Um aspecto divertido é observar como Dustin Hoffman, um artista, fala da arte. Há comentários sobre o assunto (crítica, direção, sucesso, juventude, diferença entre artista e artesão etc.). Registram-se manias, rivalidades, vaidades do meio, mas o ator prefere enfatizar o companheirismo. Velhice em campos obcecados com a ideia de perfeição (como a música clássica) traz dramas. Até pelo adestramento coletivo, para que se perceba (e valorize) o “vigor” da juventude ou da maturidade (e só raramente a sabedoria da idade avançada). Charmosa, no filme, é a identidade entre música, tempo e vida. (WS)

Assista ao trailer:


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