Cinema

João Miguel mostra um talento arretado

Workaholic baiano se destaca na TV depois de ganhar fãs e respeito por seus papéis no cinema

Ana Clara Brant

"Não me considero um dos maiores atores do país. Faço parte de um conjunto de pessoas talentosas"
Uma certa overdose – no bom sentido – de João Miguel tomou conta da telinha nos últimos tempos. O ator baiano, de 42 anos, pôde ser visto recentemente na TV em 'Xingu' (no papel de Cláudio Villas Boas), 'O canto da Sereia' (Só Love) e 'Gonzaga – De pai pra filho' (Miguelzinho). Agora, ele está gravando sua próxima incursão televisiva: a minissérie policial A teia, cuja exibição a Rede Globo anuncia para abril.


“Sempre estive muito ligado ao cinema, mas essa passagem para a televisão é bem coerente com o meu trabalho. Além de os filmes 'Gonzaga' e 'Xingu' ganharem formato para a TV, a série 'O canto da Sereia' tinha linguagem bem cinematográfica. Foi uma coincidência feliz tudo ir ao ar em dias tão próximos. Espero que tenha sido, sim, uma overdose boa”, brinca o ator.

Bastante empolgado com o novo trabalho, dirigido por Rogério Gomes e com roteiro de Bráulio Mantovani e Carolina Kotscho, João vai interpretar seu primeiro protagonista na telinha: o policial federal Jorge Macedo. Ele é inspirado no delegado Antônio Celso, que desvendou crimes famosos no Brasil. O ator conta que seu personagem é um homem incorruptível. “Ele é um caçador, um herói, mas sem aquela coisa norte-americana. Isso é o mais legal. Vem sendo muito interessante mergulhar nesse universo, pois você acaba percebendo todos os métodos de corrupção, os meandros do mundo da lei. É bem bacana. Protagonizar uma minissérie é carimbar o trabalho”, comenta João.

Com apenas uma novela no currículo, 'Cordel encantado' (2011), em que interpretava o cangaceiro Belarmino, João Miguel diz que essa experiência foi especial. Depois de rodar mais de 20 filmes em 10 anos, o ator tinha a curiosidade de experimentar teledramaturgia mais longa por meio de um personagem que se comunicasse com o público. “Belarmino me proporcionou algo fantástico: ele foi existindo cada vez mais na trama, numa dramaturgia aberta. Nunca tinha vivido isso, gostei demais”, ressalta.

O ator admite: se surgir outro convite assim e o papel “bater”, não terá como recusá-lo. “O que me interessa são os personagens; eles é que importam. Sempre procuro fazer alguém que me surpreenda e me permita viver uma experiência diferente. Quero me apaixonar por ele ao longo do trabalho”, resume.

Cinema

Desde seu primeiro papel de destaque na telona – o Ranulpho de 'Cinemas, aspirinas e urubus' (2005) –, o ator, curiosamente, pensou em desistir. Pelo fato de ser altamente concentrado, João passou a sonhar que estava filmando, revirava-se na cama e imaginou que não daria conta da missão. “Até falei com o diretor Marcelo Gomes que não queria mais fazer aquilo, que cinema não era para mim. Mas foi só ouvir o barulhinho da câmera para tudo passar. Estou aí até hoje”, lembra João Miguel. Ranulpho, aliás, rendeu-lhe os prêmios de melhor ator no Festival do Rio e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2005.

Tamanha dedicação e, claro, talento trouxeram premiações e reconhecimento ao baiano. Um dos elogios que mais o emocionaram veio de Walmor Chagas, recém-falecido, que o considerou o melhor ator de sua geração. Os dois não se conheceram pessoalmente. Embora o baiano seja admirador do colega veterano, ele nega o título.

“Não me considero um dos maiores atores do país. Faço parte de um conjunto de pessoas talentosas. Tem muita gente boa surgindo e outras vindo por aí. Ouvir essa declaração do Walmor é uma responsabilidade e uma honra. Não dá para a gente passar despercebido pela experiência de Walmor Chagas na Terra, tanto no âmbito artístico quanto no humano”, analisa.
Como Alecrim, em 'Estômago'

Além de 'A teia', João Miguel tem outros planos para este ano. Quer voltar aos palcos e deve encenar um espetáculo ao lado de Domingos Montagner, dirigido por Emílio de Melo. Escrever é outra de suas paixões. Ele planeja um roteiro para cinema e criar revista eletrônica que traga textos, anotações de filmes e informações sobre personagens.

“Sempre me enxerguei ator. Fazia teatro desde criança e mexia com circo, mas gosto muito de escrever. Escrevo muita coisa para mim. Tenho pensando em lançar a revista porque poderia me comunicar com as pessoas também por essa via. Quero me aprofundar em várias coisas. Sinto necessidade disso”, conclui.

CURRÍCULO

• No cinema

2013 – Éden
2012 – Gonzaga – De pai pra filho
2012 – Verônica
2012 – À beira do caminho
2012 – Xingu
2012 – Bonitinha, mas ordinária
2010 – A suprema felicidade
2011 – A hora e a vez de Augusto Matraga
2011 – Ex Isto
2010 – Jardim das folhas sagradas
2009 – Hotel Atlântico
2008 – Se nada mais der certo
2007 – Estômago
2007 – Mutum
2007 – Deserto feliz
2006 – O céu de Suely
2005 – Eu me lembro
2005 – Cinema, aspirinas e urubus
2005 – Cidade Baixa
2004 – Esses moços

• Na TV

2013 – O canto da Sereia
2011 – Força-tarefa
2011 – Cordel encantado
2007/2008 – A grande família
2008 – Casos e acasos
2005 – Carandiru, outras histórias