'Lincoln' de Spielberg é filme que não revela muito sobre presidente americano

Longa-metragem biográfico aborda fim da vida de figura histórica

por Walter Sebastião 25/01/2013 07:00

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Dreamworks/Divulgação
Lincoln, com Daniel Day-Lewis, concentra-se nos últimos meses de vida do 16º presidente dos EUA (foto: Dreamworks/Divulgação )
É pouco produtivo ficar discutindo muito ou procurando “profundidade” nos filmes do diretor norte-americano Steven Spielberg. Os méritos das obras dele ficam explícitos na “superfície” da tela: é diretor que consegue fazer do cinema um espetáculo. No que há de melhor nessa palavra: imagens elaboradas com estonteante capricho, em todos os detalhes, que ficam admiráveis na tela grande. E também no que há de polêmico na expressão espetacular: tudo ganha ares tão grandiosos, que anula qualquer opinião ou reflexão sobre o mostrado. Aspectos que até podem ser bons em filmes de ficção e fantasia, à medida que materializam temas fantásticos, mas que, em obras de teor histórico, também uma face do trabalho do diretor, deixam sempre a sensação de mistificação.

Lincoln, o novo filme de Steven Spielberg, concentra-se nos últimos meses de vida de Abraham Lincoln (1809-1865), o 16º presidente dos Estados Unidos. E mais exatamente em janeiro de 1865 (o presidente foi assassinado em abril do mesmo ano), quando o líder está concentrado em articulações políticas para aprovação, na Câmara dos Deputados, da 13ª Emenda da Constituição, que põe fim à escravidão.

O que vamos ver na tela é crônica das maquinações para que a emenda seja aprovada. Novidade é a apresentação explícita, sem juízo de valor, de conchavos, chantagens, compra de votos inclusive oferecendo cargos no governo. Aspectos que não são laterais, mas o centro do filme. Até o limite de deixar a impressão que é o primeiro filme “político” do diretor.

O novo trabalho de Spielberg é, de fato, mais uma demonstração do artesão talentoso que o diretor é; e menos um dos bons filmes dele (ou de sua grife). Não é um filme chato, mas, muitas vezes, excessivamente longo (são duas horas e meia), até por ser focado exclusivamente em bastidores da política norte-americana do fim do século 19 (até mesmo o fim da Guerra Civil, que opôs Norte e Sul dos Estados Unidos, fica em segundo plano). O contexto norte-americano da época é de partidos em formação, direito de voto apenas para homens das elites econômicas, economia dividida entre os setores rural e industrial nascente. Contexto só conhecido pelo público de fora do país apenas em filmes de faroeste.

O filme não universaliza a história norte-americana, pelo contrário, torna ela ainda mais regional. Um bom e atualizado retrato de Abraham Lincoln, no cinema, era, mesmo, lacuna da cinematografia norte-americana (Steven Spielberg declarou que esse foi um dos motivos que o levou a fazer o filme). Mas apresentar o líder com enfoque tão fechado, abolindo história, formação, contextos, acaba deixando de lado temas universais. Como as nascentes lutas democráticas, a abolição da escravidão, a história moderna das Américas etc. E, especialmente, a necessidade de apresentação generosa (e não só olhando para o próprio umbigo), para públicos amplos, do personagem-título, um político de quem se conhece a estampa, mas não a história.
 
Assista ao trailer de 'Lincoln':
 

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