Diretor iraniano deixa imaginação ser o guia em Um alguém apaixonado

Muito mistério envolve a vida de Akiko (Rin Takanashi) no novo filme de Kiarostami

por Carolina Braga 07/12/2012 07:00

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Imovision/Divulgação
(foto: Imovision/Divulgação)
Se você pensar que nada é gratuito no cinema de Abbas Kiarostami, ao fim da projeção de Um alguém apaixonado sairá mais intrigado do que entrou. E isso é muito bom. Principalmente no mundo em que as respostas prontas têm sido servidas a todo momento, quase enlatadas. Confira horários e salas de exibição do filme em Belo Horizonte Veja mais fotos do filme Leia mais: Cineasta Mark Tonderai se arrisca sozinho na direção de A última casa da rua Documentário Jorge Mautner - O filho do Holocausto deve chegar aos cinemas em 2013 Angelina Jolie estreia como diretora e roteirista em filme sobre a guerra da Bósnia A nova produção do cineasta iraniano propõe interessante exercício de imaginação. A riqueza da trama dependerá muito mais do que você inventar, do que daquilo que de fato está explícito. Há lacunas – e muitas – a serem preenchidas. 
Se no bem sucedido Cópia fiel o diretor filma a Itália, desta vez, a história se passa no Japão. Logo na primeira cena, a jovem Akiko (Rin Takanashi) tenta convencer o noivo, pelo telefone, de está com uma amiga em um café. Ela não precisa dizer muito para que se perceba o nível de submissão da garota. Ainda assim, a menina mente. Surgem perguntas: quem é ela? O que faz da vida? Por que mentir? As dúvidas são crescentes. 
Akiko é convencida por um senhor a entrar em um táxi e ser levada para longe. Não há indicações de para onde ela vai, nem o propósito da viagem. É recebida pelo professor aposentado Takashi (Tadashi Okuno), que nos apresenta as outras nuances guardadas pelo roteiro, também assinado por Kiarostami. É a partir do encontro entre a jovem sufocada pelo companheiro e o senhor no vazio da solidão que as camadas do filme se revelam. Ainda assim, sobram perguntas. Será ela uma garota de programa? Qual a natureza da relação entre a jovem e o senhor? Nem a aparição do terceiro personagem chave, Noriaki (Ryo Kase), o esquentado noivo de Akiko, esclarece as coisas. Mais uma vez, há apenas sugestões.
Um alguém apaixonado é um filme enigma. Há nele contrastes de gerações, de modos de vida, de uso da tecnologia e, principalmente, das maneiras como as pessoas lidam umas com as outras. Mesmo sem ser explícito, Kiarostami consegue ser preciso. O diretor usa a discrição japonesa a serviço do roteiro. Os silêncios são marcantes. Pouco se fala. Muito se deduz, do início ao fim. 
A câmera é contemplativa. É como se o diretor desse o devido tempo para que o espectador elaborasse a história que existe por trás de cada movimento. Não há obviedades, a começar pelo título. Ao contrário do que ele possa sugerir, amor não é algo em questão no longa de Kiarostami. O filme fala muito mais sobre formas de amar. O nome é simplesmente referência à canção interpretada por Ella Fitzgerald, que obviamente se relaciona com os desejos do criador.   
Mais que mostrar alguém apaixonado, Kiarostami convida à reflexão sobre comportamentos. Afinal, o que significa estar apaixonado? Seria esse um estado capaz de justificar ações? Assista ao trailer do filme:


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