Filme Em nome de Deus traz os bastidores de um ato terrorista na Ilha de Palawan

O diretor Brillante Mendoza se inspira em fatos para discutir as várias faces da violência política

por Mariana Peixoto 25/11/2012 09:46

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Divulgacao/Pandora Filmes
(foto: Divulgacao/Pandora Filmes)

Em maio de 2001, um grupo de turistas hospedado em resort na Ilha de Palawan foi sequestrado pelo Abu Sayyaf, grupo separatista fundamentalista que atua no Sul das Filipinas. Dentre aquelas 20 pessoas, as mais “valiosas”, por assim dizer, eram três norte-americanas: o casal de missionários Martin e Gracia Burnham e o peruano-americano Guillermo Sobero. O Abu Sayyaf pediu resgate de US$ 1 milhão pelo trio. Apenas Gracia Burnham sobreviveu. Quando voltou para os Estados Unidos, depois de passar pouco mais de um ano sob o jugo dos terroristas, ela publicou dois livros. Um deles foi parar nas mãos do cineasta filipino Brillante Mendoza, de 52 anos.

Intrigado com as várias questões que envolveram o sequestro, o diretor de cinema se questionou a respeito do que ia além daquele ato de violência. Foi a partir desses questionamentos que nasceu o filme Em nome de Deus. Exibido recentemente na programação do Indie Festival e da Mostra CineBH, ele chegará em breve às salas comerciais da capital.

Mendoza centrou em alguns pontos para construir sua narrativa: oferecer uma visão do grupo inteiro, tanto de sequestradores quanto de reféns; e mostrar os problemas sóciopolítico-religiosos que afligem a sociedade filipina. Para conduzir a história, foi convidada a atriz francesa Isabelle Huppert, presidente do júri da 62ª edição do Festival de Cannes, que deu a Mendoza o prêmio de melhor diretor por Kinatay, lançado em 2009. O convite, por sinal, foi feito em 2010, quando o cineasta se encontrou com a atriz em São Paulo.

Huppert interpreta Thérèse Bourgoin, francesa que trabalhava em organização humanitária nas Filipinas quando foi sequestrada por engano pelo Abu Sayyaf. “Foi uma experiência incrível dirigi-la. Uma vez que a cena lhe é explicada, ela sabe como andar sozinha, pois tem profundo entendimento de seu ofício”, afirma o diretor.

Ainda que a narrativa de Em nome de Deus percorra um ano, Mendoza filmou durante três semanas. A maior parte das cenas foi rodada em locações na selva. “Geralmente, levo mais tempo para me preparar. Trabalho muito na pré-produção para garantir uma filmagem suave e rápida”, explica o diretor, conhecido por ter pleno domínio da realidade que filma.

O DIRETOR

» Brillante Mendoza é formado em belas-artes, trabalhou em cinema, TV e teatro como diretor de arte. De 1990 a 2004, atuou no mercado publicitário

» Estreou no cinema em 2005, com Masahista. Dirigiu 16 filmes

» Seu longa mais conhecido é Kinatay, que lhe deu 13 prêmios, entre eles o de melhor diretor no 62º Festival de Cannes

» No fim do mês que vem, Mendoza vai lançar Sinapupunan, filme sobre um casal que procura barriga de aluguel para ter um filho. O longa concorreu ao Leão de Ouro no 68º Festival de Cinema de Veneza

Três perguntas para Brillante Mendoza:

1 - Alguns de seus filmes anteriores – Kinatay e Tirador, entre eles – são mais urbanos. Quais são os desafios de filmar na selva?
Eles foram grandes, simplesmente porque não há como controlar elementos naturais. Mas a melhor coisa para lidar com a natureza é o elemento surpresa. Faço uso disso para adicionar certa espontaneidade à beleza. O filme mistura 75% de incidentes reais e 25% de eventos fictícios. Como em minhas obras anteriores, há pelo menos três episódios pontuados por cenas poéticas: a visão que Thérèse tem da madrugada em que os sequestradores estão rodeados por halos; o ataque de cobras durante uma conversa entre reféns e sequestradores; e o encontro de Thérèse com o mítico pássaro muçulmano Sarimanok.

2 - A obra de Werner Herzog influenciou Em nome de Deus?
Na verdade, não. Fui desafiado por histórias de pessoas comuns envolvidas em situações extraordinárias. Meus filmes são uma oportunidade para que eu mesmo reflita sobre as realidades sociais. Ao mostrá-las, espero que o público comece a pensar no que pode fazer para tentar mudá-las. Em nome de Deus não é um filme apenas sobre a tomada de reféns no Sul das Filipinas, mas sobre a capacidade de uma pessoa sobreviver ao enfrentar situações extremas. Mostra como cada pessoa reage a situações em que a natureza pode ser dura.

3 - Filmar é um ato político?
A política, por si só, não é o principal elemento de meus filmes. Desde que seja parte das questões sociais, é inevitável que a política se torne, de alguma forma, parte integrante da história.

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