Filme de Breno Silveira conta a história de Gonzagão e Gonzaguinha, pai e filho às voltas com as dores da vida

BH guarda tesouros dos dois ídolos da música brasileira

por Sérgio Rodrigo Reis 22/10/2012 09:17

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Túlio Santos/EM/D.A Press
Louise Martins, a Lelete, diz que Gonzagão foi muito feliz na casa dela e de Gonzaguinha, na Pampulha (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
 

Breno Silveira se especializou em levar histórias de superação para a tela. Sua nova aposta, o filme Gonzaga – De pai para filho, segue essa receita. Inspirado na tumultuada relação entre dois ídolos da música brasileira – Gonzagão, o Rei do Baião (1912-1989), e seu filho Gonzaguinha, ícone da MPB (1945-1991) –, o diretor investe no tom novelesco para tentar atrair as multidões para as salas de cinema. Estão lá a bela fotografia do sertão e do Rio antigo, atores novos ou consagrados em desempenhos convincentes, a direção segura e o roteiro bem-amarrado. Mas o diferencial vem de algo que Breno domina como poucos: a emoção. Produzido pela Conspiração Filmes e com estreia marcada para sexta-feira, o filme se inspirou no livro Gonzaguinha e Gonzagão – uma história brasileira, de Regina Echeverria. De maneira simples, mas evitando simplismos, Breno Silveira vai tecendo a delicada relação entre pai e filho, sempre se pautando pelo tom emocional. Várias passagens marcantes da vida real ficaram de fora, pois a opção é clara: destacar aspectos menos conhecidos da trajetória de um e do outro. O filme oferece frescor. Também é excelente contribuição à preservação da memória (e da obra) da dupla. Gonzagão, que faria 100 anos em 13 dezembro, tem recebido várias homenagens no país. Nome emblemático da MPB oitentista, Gonzaguinha merece ter seu rico cancioneiro revisto e, sobretudo, apresentado às novas gerações. Com boas atuações, coube ao estreante Chambinho do Acordeom (Luiz Gonzaga) e a Júlio Andrade (Gonzaguinha) a missão de levar para a tela, à luz dos novos tempos, dois enredos. Um, já conhecido, traz a trajetória dos dois artistas. O outro, mais íntimo, mostra encontros e desencontros de pessoas que se amavam, mas levaram a vida inteira para descobrir isso.

Túlio Santos/EM/D.A Press
Pai e filho no porta-retratos no escritório de Gonzaguinha (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
SEU LUIZ Em família, Gonzaguinha era o Gonzaga. O Rei do Baião, por sua vez, atendia por seu Luiz. Ficção e realidade se misturam na trajetória dos dois ídolos – cuja memória é cercada, claro, por certo “folclore”. Gonzaguinha, por exemplo, não era a pessoa rancorosa e melancólica retratada pela imprensa na década de 1980. Pelo contrário. “Ele era bastante gentil”, afirma a mineira Louise Martins, a Lelete, que foi casada com o compositor durante 11 anos. O estigma, assegura Lelete, deve-se à personalidade forte do marido. “Resumindo: Gonzaga era verdadeiro. Nunca o vi em cima do muro. As pessoas têm medo de quem rasga a fantasia. Ele era assim”, afirma ela. A vida não foi fácil para o filho do Rei do Baião. A mãe era “pastora” de Ataulfo Alves – cantora bonita e independente, às voltas com o preconceito da sociedade. O pai, “um nordestino careta”, nas palavras da nora. A dúvida sobre a paternidade do garoto atormentava Gonzagão. Quando sua mulher, Odaléia Guedes, ficou tuberculosa, o artista a internou num sanatório em Santos Dumont, em Minas Gerais. Com o passar do tempo, o cantor passou a namorar uma mulher rica. “Ao saber que o marido estava de casamento marcado com outra, minha sogra fugiu do sanatório para tentar encontrá-lo no Rio de Janeiro. Como estava fraca, morreu”, relembra Lelete. Foi assim que Gonzaguinha ficou órfão. Coube aos padrinhos, Dina e Xavier, cuidar dele. O casal criou o filho de Gonzagão nas ladeiras do Morro de São Carlos, no bairro carioca do Estácio. Aos 12 anos, ele pediu para morar com o pai, mas foi rejeitado pela madrasta, Helena. Acabou no colégio interno, de onde saiu aos 16, depois de contrair tuberculose. Finalmente, foi para a casa do Rei do Baião. “A esposa do seu Luiz foi megera com ele. Mas adivinhe quem cuidou dela no fim da vida: Gonzaguinha”, conta Lelete. O ‘reaça’ Gonzagão era conservador, apoiava o governo militar. “Um era ‘reaça’, tinha no quarto a foto do Médici e outra do Geisel. Já o filho era comunista”, resume a nora de seu Luiz, referindo-se aos generais Emílio Médici e Ernesto Geisel, que comandaram o país depois do golpe de 1964.

 

Gonzaguinha guardava mágoa pelo fato de o pai priorizar a carreira artística, delegando sua educação a terceiros. Entretanto, partiu dele a aproximação, no fim da década de 1970. “Meu sogro estava péssimo de finanças e a carreira não ia bem”, relembra Lelete. Naquela época, Gonzaguinha fazia sucesso com suas canções engajadas, sambas e belas letras românticas. Ídolo da juventude, ele decidiu convidar o pai para a turnê batizada de Vida de viajante. Em 1981 – pela primeira vez –, a dupla subiu ao palco. Dali em diante, os dois se redescobriram. O afeto redobrou quando nasceu Mariana, filha de Lelete e Gonzaguinha. “Seu Luiz era apaixonado por ela. Já chegava na porta daqui de casa cantando ‘Eu vim pra ver Mariana/ Mariana’”, conta a nora.

Túlio Santos/EM/D.A Press
O carro de Gonzagão, emplacado em Exu, na garagem da Pampulha (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
 

 

Lelete ainda mora na casa que dividiu com o marido, na Pampulha, por 11 anos. As lembranças estão todas guardadas lá. O escritório de Gonzaguinha permanece como ele deixou: discos de ouro, prêmios, LPs e até móveis feitos pelo próprio artista dividem espaço com equipamentos eletrônicos. “Gonzaga era apaixonado por novidades. Chegou a comprar uma bateria eletrônica, aquela da canção Lindo lago do amor. Todo mundo o criticou”. Alguns tesouros de Gonzagão estão na casa da Pampulha. Como seu último automóvel, emplacado em Exu, sua terra natal, em Pernambuco. Em 1984, com diagnóstico de câncer de próstata, osteoporose e a visão bastante prejudicada pela catarata, Gonzagão veio se tratar em BH. “Depois da cirurgia, ele voltou a enxergar e ficou igual criança. Não me esqueço dele dizendo: ‘Nossa, minha nora! Você é bem mais linda do que eu imaginava’. Acho que tudo isso deu sobrevida a ele”, conclui Lelete.

 

(Conspiração Filmes/divulgação
Cena do Filme Gozaga - de Pai para Filho (foto: (Conspiração Filmes/divulgação)
Louco por música

 

O carioca Breno Silveira dirigiu 2 filhos de Francisco. A cinebiografia da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano vendeu 5,3 milhões de ingressos e é um dos blockbusters brasileiros. Este ano, o diretor lançou À beira do caminho, sensível road movie inspirado nas canções de Roberto Carlos. Gonzaga – De pai para filho (foto)  dará origem a minissérie na TV Globo. 

 

 

Veja abaixo o trailer oficial de Gonzaga – de Pai para Filho:


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