Diretor de Permanências, Ricardo Alves Júnior tem projeto de longa criado a partir do curta Tremor

Elon Rabin não acredita na morte deve ser filmado em 2014

por Gracie Santos 12/10/2012 07:00

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Matheus Rocha/Divulgação
Cena de Tremor, curta que dará origem ao longa Elon Rabin não acredita na morte (foto: Matheus Rocha/Divulgação)
Elon Rabin não sabe se sua mulher está viva ou morta. Ela desapareceu. Personagem de Tremor (Brasil, 15min), de Ricardo Alves Jr., interpretado pelo próprio Elon Rabin, ele nem estreou em curta e já tem futuro certo: vai ganhar um longa: – Elon Rabin não acredita na morte. Assim, terá mais tempo em cena para que possa revelar detalhes de sua vida, que se equilibra no fio da esperança. Afinal, se a única certeza na vida é a morte, quem é esse cara que não acredita no fim? “Rabin é um personagem que busca sua esposa. Ele não pôde ainda realizar seu luto, vive num estado trágico de incerteza. Não acreditar na morte é o que o move. É uma ideia lúdica, que faz com que ele observe seu cotidiano de maneira particular”, explica o diretor de Permanências (2011) e Material bruto (2006). Tremor, premiado em edital do Filme em Minas e orçado em R$ 79,5 mil, está em fase de finalização (no laboratório Cine Color, em São Paulo, onde ganha cópia em 35mm) e deve ser lançado no ano que vem. Já o roteiro do longa está sendo elaborado por Ricardo Alves Jr., em parceria com o português João Salaviza (de Arena, Cerro Negro e Rafa), em Londres, onde o diretor mineiro passa temporada de três meses. Ricardo Alves Jr. pretende filmar Elon Rabin não acredita na morte em 2014. “Com o projeto, participei dos dois laboratórios de coprodução, o BAL Encontro, do Bafici (festival de cinema independente de Buenos Aires, Argentina), onde ganhamos o prêmio o FidMarseille, que consistia em apresentar o projeto no FIDLAB, o encontro de coprodução do festival de Marseille (França). No FIDMarseille, recebemos o prêmio sublimagem, que consiste num apoio na finalização digital do filme”, revela Ricardo. Está nos planos dele manter o ator no elenco, mas nada foi acertado ainda.
Matheus Rocha/Divulgação
Elon Rabin deve dar vida ao personagem também do longa (foto: Matheus Rocha/Divulgação)
O diretor mineiro não costuma ter um ponto de partida movendo sua criação. “São diversos desejos e intenções cruzadas, que fazem com que uma obra seja realizada”, argumenta. Gosta “muito de filmar a presença das pessoas, seus gestos, olhares, silêncios e como essas pessoas se relacionam com os espaços.” Para o curta Tremor, Ricardo trabalhou o roteiro Diego Hoefel, cineasta e professor de cinema da Universidade Federal do Ceará (com quem fez o roteiro de Permanências e o argumento de Elon Rabin...). “Para o curta, Diego propôs situação dramática de um desaparecimento. Isso foi a chave para construirmos o roteiro. Para o longa, a situação já está definida. O trabalho agora é desenvolver essa situação, ir mais fundo no ponto de vista do nosso personagem,” conta Ricardo. Não é pelo fato de estar partindo de um curta para filmar seu longa que ele defende o método como regra. “Não acho que todo curta deva virar longa. Inclusive, não vejo isso nos meus curtas anteriores. Nesse caso particular, de Tremor, percebi que essa historia deveria ser contada numa narrativa mais longa. Foi quase um pedido da própria historia”, diz. Acostumado a mesclar ficção e documentário, ele afirma que, cada vez mais, seu interesse é contar historias, “mesmo que elas tenham uma linha narrativa muito tênue.” Para Ricardo, a questão de gênero (documentário e ficção) é ultrapassada. “Não vejo um filme pensando no que é real ou ficção. Vejo querendo ser levado a algum universo particular, seja com referências diretas da realidade ou não. Essa distinção só serve para a academia, não é o que me move a produzir imagens. Parto do princípio de que todo filme é uma fabulação sobre a realidade, com maior ou menor grau de interferência dela.”
Matheus Rocha/Divulgação
"Parto do princípio de que todo filme é uma fabulação sobre a realidade, com maior ou menor grau de interferência dela" Ricardo Alves Jr., cineasta (foto: Matheus Rocha/Divulgação)
Saiba mais Quem é Ricardo Alves Jr.
Mineiro de BH e formado em cinema pela Universidad del Cine, de Buenos Aires (Argentina), ele atua como diretor desde 2006. Seus trabalhos estão na fronteira entre cinema e artes visuais, tendo sido exibidos em espaços como o Centre Pompidou (Paris, França) e o Reina Sofia (Madri, Espanha). Permanências (2011), seu filme mais recente, teve estreia internacional na competição da Semana da Crítica de Cannes 2011. No Brasil, estreou no Janela Internacional de Cinema do Recife, onde recebeu o prêmio de melhor curta brasileiro, tendo sido exibido também no Rencontres Internationales Paris/Berlim/Madrid 2011-2012 e no Festival del Nuevo Cine Latinoamericano, de Havana. Seu primeiro curta, Material bruto (2006), recebeu diversos prêmios em festivais nacionais e internacionais, além de ser exibido no Video Zone-International Video Art Biennial, em Israel, e no VideoBrasil – Festival de Arte Eletrônica. Três perguntas para Ricardo Alves Jr. Você tem participado de júris, seleções de festivais, etc.. Como vê a cena brasileira atual? Terminei, com a curadora Lis Kogan, a curadoria da semana dos realizadores (que ocorre no Rio, em novembro) e acho que o Brasil, a cada ano, vem realizando filmes inquietantes, tanto na forma quanto no conteúdo. Digo isso não só como quem realiza trabalho de curadoria, mas também como espectador. Em 2011 e 2012, tivemos produção muito boa em longas. O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho; Girimunho, de Helvécio Martins Jr. e Clarissa Campolina; Historias que só existem quando forem lembradas, de Julia Murat; e Trabalhar cansa, de Juliana Rojas e Marco Dutra, são filmes de grande investida autoral, que revelam realizadores excepcionais. Muita gente nova? Tenho muita expectativa com relação aos primeiros longas de Anita Rocha (Mortos vivos); Gabriela Amaral Almeida (A mão que afaga); Marcelo Caetano (Na sua companhia); René Guerra (Sapatos de Aristeu) e Tião (Murro). São todos jovens realizadores que produzem curtas e estão desenvolvendo seu projeto de longa. São muito seguros da mise-en-scène cinematografia e que estão buscando histórias intimistas, com personagens fortes. Isso não é regra e, sim, uma observação. Desde que voltou ao Brasil (da Argentina), da mesma forma que muitos outros diretores brasileiros, você vive na ponte aérea. Essa é a única forma de seus trabalhos sobreviverem? Isso é algo que ocorre entre brasileiros ou é rotina no meio mesmo fora daqui? Comigo foi ocorrendo naturalmente, talvez pelo fato de meus curtas terem viajado bastante e isso gerar curiosidade. Ano passado, por exemplo, estive, durante quatro meses, em São Paulo, montando o primeiro longa de Michael Wahrmann (dos curtas Avós e Oma) , intitulado Avanti popolo, que estreia em novembro, no festival de Roma. Acho que o mundo está conectado e gosto muito dessa sensação de estar em trânsito. Não sei se é regra geral, mas ela se aplica, sem dúvida, a mim.

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