Mulheres na frente e atrás das câmeras no 45º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

A segunda noite de competição apresenta trabalhos femininos

por Felipe Moraes 19/09/2012 09:13

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Daniel Bustamante/Divulgação
Simone Spoladore em A memória do que me contam, de Lúcia Murat (foto: Daniel Bustamante/Divulgação )
 
A segunda noite de competição do 45º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro é feminina atrás e diante das câmeras. Em comum, os dois longas enquadram mulheres sob perspectivas sociais e políticas. No documentário Kátia (Piauí), Karla Holanda condensa 20 dias de filmagem num relato de 74 minutos sobre a primeira travesti eleita para um cargo político no país. Lúcia Murat, grande vencedora de 1989, com Que bom te ver viva, retorna à competição em filme estrelado por Irene Ravache, que, na 22ª edição, dividiu o Candango de melhor atriz com Andréa Beltrão (Minas Texas). Ambientado nos dias atuais, A memória do que me contam (Rio de Janeiro) recupera a experiência de 1968 por meio das lembranças de personagens que viveram os tempos de revolta política e frequentaram os porões da repressão militar.
A diretora carioca propõe trama sobre sonhos e perdas da militância brasileira de esquerda. Por isso, Ana, a personagem central, que está internada no hospital à beira da morte, aparece sempre como jovial guerrilheira, interpretada por Simone Spoladore. O estado precário de saúde motiva um reencontro de vários de seus amigos do passado na sala de espera do hospital, como Paolo (Franco Nero), italiano exilado no Brasil, a intelectual Zezé (Clarisse Abujamra), o professor Ricardo (Otávio Augusto) e o ministro da Justiça José Carlos (José Carlos Machado).
É a figura de uma cineasta chamada Irene (Irene Ravache) quem centraliza a reunião. Ela produz um título sobre a sua geração, com atenção especial aos feitos de Ana. Lúcia Murat, na posição de "diretora da diretora", se inspirou em Vera Silvia Magalhães, mentora do sequestro do embaixador norte-americano no Brasil em 1969 e morta em 2007 depois de várias internações, doenças e crises psiquiátricas, para compor a persona da revolucionária lembrada em A memória do que me contam. O diálogo dos velhos combatentes com seus filhos também ocupa espaço essencial na reflexão de Murat. "Hoje, cada um deles tem profissão diferente e outras relações com os filhos. O filme trabalha com essas dúvidas, culpas e contradições", conta.
 
OUTRO OLHAR
 
A piauiense Karla Holanda sabia que seu primeiro longa-metragem seria sobre Kátia Tapety desde que ouviu falar dela, a travesti que superou o conservadorismo familiar (os Tapety são nomes políticos fortes no Piauí) e se elegeu três vezes vereadora em Oeiras, primeira capital do estado (1759-1851). Holanda visitou a cidade em 2008, com duas amigas. Antes de produzir Kátia, fez imagens de pesquisa, gravou entrevistas e, já morando no Rio de Janeiro, decidiu se inscrever em edital para rodar o documentário.
Quando retornou a Oeiras, em 2010, para começar as filmagens, encontrou a protagonista do filme em situação completamente diversa. "Já não estava mais casada, não tinha sido reeleita, estava sem mandato. As coisas importantes da vida dela tinham mudado bastante. Mas isso acabou sendo positivo. A minha postura foi de ficar aberta ao que estivesse ocorrendo com ela. E essa mudança sempre era muito interessante. Kátia nos conduziu muito, tem temperamento solar, pra frente.
Ela encontrou uma estratégia de sobrevivência", revela a cineasta. Numa casa de nove filhos, Kátia foi impedida de estudar por ser um menino "efeminado". Nas duas primeiras vitórias eleitorais, teve que se submeter a testes para provar que sabia ler e escrever. "Não foi eleita pelos votos do movimento LGBT, mas pelos votos da comunidade. Mesmo antes de ser eleita, ajudava as pessoas em necessidades urgentes desse lugar, como tirar certidão de nascimento, agendamento de consultas médicas. Ela é extremamente importante na região", reforça. 
Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
Até dia 24. Nesta quarta-feira, às 19h, exibição dos documentários A cidade (curta-metragem) e Kátia (74min, PI). Às 21h, os curtas Mais valia (animação), Vereda (ficção) e A memória do que me contam (95min, RJ). Na sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Claudio Santoro. Ingressos: R$ 6 e R$ 3(meia-entrada). A classificação indicativa varia de acordo com os filmes. Informações: (61) 3325-6239 e www.festbrasilia.com.br.


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