O inglês Sacha Baron Cohen vem desenvolvendo no cinema estética que sempre divide opiniões: comédias sarcásticas, que atacam tudo e todos. Com seu jeitão bizarro, ele fustiga hipocrisias contemporâneas, cúmplices das mais diversas violências. São histórias, interpretações, grosserias, insultos, agressões e por aí vai. Há quem diga que na origem das obras está a formação de historiador, cuja linha de pesquisa é buscar as raízes dos preconceitos no mundo contemporâneo. Mas não se deve ficar procurando lado positivo em uma “poética” que chama a atenção pela virulência com que interpela as convenções sociais.
Sacha Baron Cohen está de volta às telas com O ditador, trama movida por sósias trocados visando um golpe para implantar a democracia quando um general sanguinário vai à ONU defender a exploração da energia atômica. É ataque direto ao Oriente Médio, embaralhando deliberadamente todos os países. E ironia feroz sobre príncipes suntuosos que governam lugares miseráveis. Caricatural com tudo o que não é mundo ou cultura anglo-saxã, ao final do filme, em um discurso em defesa da ditadura, ele espalha farpas sobre democratas de olho na riqueza proporcionada pela exploração do petróleo, que derrubam governos de oposição a seus interesses. Pode-se gostar mais ou menos do que está na tela, mas O ditador tem um problema grave: falta humor. Para fazer rir, é preciso mais que apenas inverter valores.
Esculachar ditadores, vale recordar, é quase uma especialidade do cinema. Dezenas de filmes dos mais variados gêneros e tendências colocam essas figuras na berlinda. Mas a qualidade artística oscila, e muito, apesar das intenções dos realizadores. Há um clássico: O grande ditador (1940), de Charles Chaplin, ataque a Hitler quando ele estava em ascensão. Bananas (1971), de Woody Allen, é obra menor de um diretor maior. Ambos, como O ditador, são histórias de confusões provocadas por sósias.
Dirigido por Larry Charles, que esteve nas equipes de Borat e Bruno, estrelados por Sacha Baron Cohen, O ditador é de doer, nível Zorra total. Talvez a falta de graça se deva também à política contemporânea, mais propícia a dramas que a comédias.