Atores portadores da síndrome de down emocionam plateia no encerramento do Festival de Gramado

Colegas, longa sobre os sonhos de três amigos a despeito das limitações, levou o Kikito de melhor filme

por Ricardo Daehn 20/08/2012 09:59

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Edison Vara/divulgação
Os atores Breno Viola, Rita Pokk e Ariel Goldenberg exibem os "periquitos" no encerramento do 40º Festival de Cinema de Gramado (foto: Edison Vara/divulgação)
 
Na festa da 40ª edição do Festival de Cinema de Gramado, o veterano diretor Arnaldo Jabor teve que dividir o palco com três novatos. Na noite de sábado, 18, os atores Ariel Goldenberg, Breno Viola e Rita Pokk, portadores de síndrome de down, tomaram os holofotes de assalto, assim como fizeram em Colegas, premiado pelo júri com o Kikito de melhor filme.

“Perante a sociedade, somos downs; mas perante Deus, somos normais”, afirmou Ariel. “Espero que Colegas faça sucesso arrasador”, completou ele, ao lado da mulher, Rita. O casal e Breno também levaram o prêmio especial conferido pelos jurados.

O trio fez questão de saudar seu “melhor amigo especial”: Marcelo Galvão, diretor de Colegas, que conta as aventuras de três portadores de síndrome de down em busca de seus sonhos. Enquanto a garota quer se casar, um rapaz pretende voar e o outro planeja conhecer o mar.

Por seis minutos, o trio segurou a atenção do público, que aplaudiu os jovens de pé. Aos prantos, os sorridentes atores comemoraram o “periquito”, como Breno apelidou o troféu. “Queremos trazer outros downs para o cinema. Fui criado com um tio portador da síndrome. Então, minha experiência não é daqui. Foi maravilhoso, minha amizade com eles vai durar para sempre. Ariel, Breno e Rita têm carisma, não precisam da novela das oito para isso”, afirmou Galvão.

Pernambuco
À frente de seu impactante e imprevisível O som ao redor, o pernambucano Kleber Mendonça Filho faturou quatro troféus Kikito – entre eles, o de melhor diretor e o de melhor longa na opinião dos espectadores.

“É muito boa esta combinação: ser lembrado pela crítica e pelo público. O descrédito de filmes pequenos é terrível, sobretudo na hora da distribuição. Só espero que O som ao redor seja forte o suficiente para quebrar a parede. Quero que as pessoas o vejam”, afirmou o cineasta.

O júri deu o prêmio de melhor atriz à mineira Fernanda Vianna, do Grupo Galpão, por sua instigante performance em O que se move, dirigido pelo estreante Caetano Gotardo.

Muito merecido, o Kikito de melhor ator foi para Marat Descartes, de Super nada. Esse perturbador filme, assinado por Rubens Rewald, conta também com a persona do espirituoso Jair Rodrigues. “Marat nos deu o corpo, foi o super e o nada. Ele não se destaca do conjunto: era quase parte da parede do cenário, de tão orgânica sua interpretação. Esse ator é um gigante”, comemorou o diretor.

Futuro do pretérito: Tropicalismo now!, de Ninho Moraes e Francisco César Filho, levou o prêmio pela inspirada trilha sonora, com arranjos propostos por André Abujamra.

Feita a toque de caixa e sem verbas, a seleção de fitas estrangeiras (apenas 20 inscrições) beirou o constrangimento. Para literalmente salvar a pátria, o uruguaio mais brasileiro do cinema, Cesar Charlone, emplacou a bela coprodução Artigas, la redota, detentora de seis Kikito e de três menções honrosas.

“Mi coración es americano. Soy loco por ti America, soy loco por ti de amores. Há 15 anos, não havia cinema argentino aqui, não tínhamos filmes mexicanos. De repente, vieram Y tu mamá también, Amores perros e O filho da noiva. A gente está se integrando. Isso é grande e lindo”, comemorou Charlone.

*O repórter viajou a convite da organização do Festival de Cinema de Gramado


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