Mostra exibe filmes do diretor Luis Buñuel

Produção do espanhol será exibida no Humberto Mauro

por Carolina Braga 23/03/2012 10:52
Paulo Lacerda/divulgação
Rafael Ciccarini, gerente do Humberto Mauro, é curador da mostra (foto: Paulo Lacerda/divulgação )
Libertário. Controverso. Inquieto. Os adjetivos são frequentemente adotados quando o assunto é a obra de Luis Buñuel. Para quem ainda não conhece nada do diretor, considerado o pai do surrealismo no cinema, a partir de hoje o Cine Humberto Mauro abriga retrospectiva integral do cineasta. Até 22 de abril, Luis Buñuel, o fantasma da liberdade exibe os 33 filmes dirigidos pelo espanhol. Detalhe: a maioria em 35 milímetros. 

Um cão andaluz, estreia dele na sétima arte, abre a série. Na abertura, o curta de 17 minutos, feito em parceria com Salvador Dalí em 1929, terá a trilha sonora executada ao vivo pelo Grupo Roble, formado por Matheus Rodrigues no contrabaixo, Lucas Viotti (acordeom), Mauro Dell’Isola (violão) e Marcelo Corrêa (piano). “Um grande o nome como o dele fica tão valorizado que, paradoxalmente, as pessoas não têm acesso. Vamos mostrar quais são os filmes que deram a Buñuel esse nome todo”, pontua o curador da mostra e gerente do Cine Humberto Mauro, Rafael Ciccarini. 

Embora Buñuel seja um ícone da cinefilia, a linguagem dele pode parecer estranha para o público doutrinado pelas produções hollywoodianas. É nesse sentido que a retrospectiva ganha mais relevância. Eis a oportunidade (com entrada franca), de conhecer clássicos como O anjo exterminador (1968), Viridiana (1977), A bela da tarde (1967), O discreto charme da burguesia (1972), Os esquecidos (1950) e outros.

Para Ciccarini, é mito dizer que o cinema de Buñuel é difícil. “Tem filmes que são claramente acessíveis. É um cineasta muito bem-humorado, inteligente, sagaz. Não requer bagagem específica para ser compreendido”, garante. Segundo o curador, basta ter boa vontade para se divertir com o humor do espanhol. “Foi um cara preocupado com a crítica moral, o comportamento burguês. A crítica dele nunca é pra baixo, pesada. A arte de Buñuel sempre foi uma brincadeira, no bom sentido”, completa. 

Além dos filmes, para abril, estão previstas cinco palestras com especialistas do Brasil e da Espanha e também o curso “O cinema poético de Luis Buñuel”, ministrado pelo pesquisador da USP Eduardo Peñuela Canizal.

Influências Diretor dos curtas Dona Sônia pediu uma arma para seu vizinho Alcides e Contagem, o jovem realizador Gabriel Martins não nega influências das formas de filmar do espanhol. “Fui muito impactado por Um cão andaluz. A cena do corte do olho é um exemplo. Ao mesmo tempo que dá uma aflição, existe uma rima visual. Passou-me a ideia de violar o olhar de alguma maneira”, comenta. 

Para João Borges, criador do curta Cajaíba, Buñuel não é referência explícita, embora também reverencie o criador de O fantasma da liberdade. “Acho que hoje ele repercute mais em Almodóvar. Acho O anjo exterminador lindo. É o surrealismo explícito. Tipo de obra que fala por si só. Gosto da evolução da análise psíquica dos personagens, a quebra dos parâmetros morais”, destaca.
 
Saiba mais 
Luís Buñuel 
Nascido em 22 de fevereiro de 1900 em Calanda, Espanha, Luis Buñuel desenvolveu sua formação em Madrid. Foi amigo de Federico García Lorca e Salvador Dalí, de quem se tornou parceiro em algumas criações.
 
Na década de 1920, mudou-se para Paris onde iniciou a carreira de cineasta. Seu primeiro longa-metragem foi A idade do ouro (1930). Foi vencedor de dois Oscars com O obscuro objeto do desejo (1977) e O discreto charme da burguesia (1972). Morreu em 29 de julho de 1983, na Cidade do México.  
 
OS IMPERDÍVEIS 
 
Segundo Rafael Ciccarini

» O anjo exterminador –  “Está sempre presente na lista dos melhores filmes de 
todos os tempos”.
 
» Os esquecidos –  “Exemplar da parte mais realista de Buñuel. 
Um expoente da fase mexicana”.
 
» Viridiana – “A crítica à Igreja Católica fica muito presente”.
 
» O fantasma da liberdade – “Se tem uma palavra que define Buñuel é liberdade. Uma interpretação para a obra dele é que você pode renunciar a tudo, mas se tiver que buscar alguma coisa na vida, que seja a liberdade”.
 
Programação 
 
Hoje
20h - Um cão andaluz (16 anos), 17’. 
Amanhã
16h - Os ambiciosos (14 anos), 97’
18h - O discreto charme da burguesia (18 anos), 102’
20h - Uma mulher sem amor, 
(12 anos), 85’
Domingo
16h - A morte neste jardim, (16 anos), 104’
18h - O estranho caminho de São Tiago, 16 anos, 98’ e Simão 
do deserto, (16 anos) , 45’ 
20h30 - Tristana, uma paixão mórbida, (12 anos), 95’ 
 
 
Buñuel, o fantasma da liberdade 
Até 22 de abril, no Cine Humberto Mauro, Av Afonso Pena 1.537, Centro, (31) 3236-7400). Entrada franca. 

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