Cinema

Luiz Carlos Miele, mais conhecido como produtor musical e apresentador, se destaca como ator aos 73 anos

Depois de participar de minissérie, em breve será visto no cinema

 O público hoje  quer ir a um  show e participar  de uma outra maneira; pula,  grita, mas não percebe a  música em si, diz Miele,  produtor musical
O público hoje quer ir a um show e participar de uma outra maneira; pula, grita, mas não percebe a música em si, diz Miele, produtor musical
Produtor musical, ator, comediante, mestre de cerimônias, cantor, apresentador de TV; enfim, um showman. Porém, quando perguntado sobre o que mais gosta de fazer, Luiz Carlos Miele, de 73 anos, não titubeia: o sucesso. O artista, notório pelos musicais e espetáculos que produziu, está em alta na dramaturgia. Acabou de participar da minissérie O brado retumbante, da Rede Globo, onde interpretou o senador antagonista do presidente Paulo Ventura, vivido por Domingos Montagner, e está nas salas de cinema de todo o Brasil no filme As aventuras de Agamenon – o repórter. Miele também está finalizando outro longa, Os penetras, e um especial de Mandrake, série do canal pago HBO, inspirado na obra de Rubem Fonseca, que o colocou novamente nas produções televisivas. “Meu trabalho sempre foi mais dedicado aos shows e de repente, quando me chamaram para fazer o Mandrake, em 2005, foram surgindo convites. Fiz uma novela na Record, uma participação no Tapas e beijos, uma série com a Fernanda Torres para o Multishow chamada Amoral da história e agora veio o cinema e O brado..., que foi maravilhoso. O universo da televisão me descobriu”, conta. 

E ele não para. Prepara o espetáculo Ménage à trois, junto com o cartunista Chico Caruso e Rogéria, que deve estrear em abril, no Rio, e está produzindo, a pedido da Secretaria de Turismo da cidade, dois projetos culturais: um para as Olimpíadas de 2016, sobre a bossa nova – movimento musical que ele conheceu bem de perto –, e o outro para a Copa de 2014, chamado Show de bola, que vai reunir várias canções sobre o futebol e terá a participação de Carlinhos Vergueiro. 

Apesar de estar completamente associado ao Rio de Janeiro, Luiz Carlos Miele é paulistano e revela que, se pudesse escolher, passaria as tardes na Cidade Maravilhosa e as noites em São Paulo. “Costumo dizer que sou um ‘paulioca’. Vim para o Rio no começo da década de 1960, para trabalhar como produtor de estúdio na TV. Aí conheci o Ronaldo Bôscoli, a bossa nova e acabei ficando. O engraçado é que, recentemente, uma revista fez uma enquete sobre quais as 10 personalidades mais cariocas e eu e o Ricardo Amaral, que também é paulista, fomos os mais citados”, comenta o são-paulino roxo, que chegou a frequentar alguns jogos do Fluminense, porém com o intuito nada futebolístico. “Ia para acompanhar os meus amigos tricolores, como o Chico Buarque, Nelson Motta, Bôscoli e Hugo Carvana. Era um grupo muito divertido e não ia pra torcer. Era mais pela farra mesmo”, diz.

Rádio e TV
Miele começou sua carreira ainda menino, influenciado pela mãe, a cantora e instrumentista Irma Miele, cujo nome artístico era Regina Macedo. Os primeiros passos foram como ator de rádio numa emissora de São Vicente, no litoral de São Paulo. Desde então, não parou mais. Juntamente com Ronaldo Bôscoli, produziu grandes shows e programas para a televisão, incluindo os de Roberto Carlos e Elis Regina, dois artistas que até hoje ele considera insuperáveis. “Tenho muita sorte de ter trabalhado com tanta gente boa, com muito potencial. Gente da MPB e da bossa nova. Fomos muito felizes”, pontua. A parceria Miele-Bôscoli foi tão profícua que teve quem achasse que se tratava até de um sobrenome. “Virei Luiz Carlos Miele Bôscoli. A Elis mesmo, que se casou com ele, recebia correspondências com o nome: Elis Regina Carvalho Miele Bôscoli. Era engraçado. Produzimos mais de 80 eventos diferentes. Alguns foram sucesso e outros uma maldição, mas a maioria foi bem-sucedida”, brinca. 

Os programas e shows que levavam a assinatura da famosa dupla não existem mais e Miele lamenta como esse tipo de atração perdeu espaço na grade das emissoras. O produtor musical acredita que a expansão da internet e a globalização levaram à criação de um novo tipo de público e que, atualmente, as pessoas querem mais participar do show do que necessariamente sentir a música. “É a massificação da comunicação. O maior exemplo é este fenômeno da música, o Michel Teló, que estourou em todo o planeta. Vi uma pesquisa recente com estudantes do ensino médio, em que só 14% tinham lido um livro nos últimos anos, sendo que mais de 50% tinham acesso ao computador. A força da internet e as mudanças que ela proporcionou são notórias. O público hoje quer ir a um show e participar de uma outra maneira; pula, grita, mas não percebe a música em si”, observa. 

Além dos projetos como ator e a agenda de espetáculos, Miele participa há vários anos, a convite de Roberto Carlos, do projeto Emoções pra sempre, no qual é o responsável pela animação do piano bar e do caraoquê em alto-mar. “Os passageiros do navio participam de um concurso de caraoquê e cantam só músicas do Rei, acompanhados da banda dele. Os vencedores ganham um prêmio das mãos do próprio Roberto. É divertido não só para mim, mas para o público e também para o Roberto Carlos. É uma espécie de recreio dele e vira uma grande festa”, resume.
 
Isto é Miele 
 
» Em 2005, o produtor musical lançou seu livro Poeira de estrelas (Ediouro), em que 
“ele não conta nenhuma mentira, apenas dá uma boa melhorada nas verdades”, e traz à tona histórias de boemia, humor e música. 

» Entre os programas na TV de que participou, seja como produtor, ator, diretor ou apresentador, estão Noite de gala e Cara & coroa (com Caymmi e Silvia Telles), na TV Rio; Se meu apartamento falasse (com Cyl Farney e Odete Lara); O fino da bossa, Show em Simonal e Elis Especial, na TV Record; Fantástico (direção musical), Elis especial, Praça da alegria, Sandra & Miele, Cem anos de espetáculo, Viva Marília e Batalha dos astros, Miele & cia e Ele & ela (com Leila Richers), na TV Manchete; Coquetel, no SBT; Escolinha do barulho, na TV Record; e Zorra total (TV Globo). 

» Durante 30 anos, Miele e Bôscoli produziram os shows de Roberto Carlos. Chegaram até a vestir o Rei de palhaço e a colocar um carro de Fórmula-1 no cenário de um apresentação dele, na década de 1970. Com Elis, a dupla também ousou e a fez até sapatear.
 
Três perguntas para...  
Luiz carlos Miele, produtor e ator 
 
O que você acha que falta na TV atualmente?
Tenho uma visão egoísta de produtor musical, então queria muito que voltassem com os musicais. Mas, infelizmente, acho difícil isso acontecer. Quando vi a Globo dispensando o balé e a orquestra no passado, percebi que ali o processo estava mudando. A Rádio Nacional do Rio de Janeiro chegou a ter 115 músicos contratados. Hoje, isso não existe mais. Infelizmente, a maioria dos eventos musicais é dublada.

Como você analisa a atuação do Ministério da Cultura do governo Dilma?
Acho que a ministra Ana de Hollanda não tem poderes suficientes para mudar a realidade com que tenho me deparado. Por exemplo, a juventude tão alienada com a internet não conhece mais nada. Daqui a pouco, quando perguntarem a um jovem quem foi Beethoven, ele vai responder: esse cara toca em que grupo? É preocupante.

O humor é uma das suas marcas registradas. Qual a sua opinião sobre o atual momento do humor nacional?
O pessoal do stand up está dominando. Hoje todo mundo faz. Todo artista que conta piada é um artista de stand up comedy. Mas o precursor disso foi o Zé Vasconcelos, nos anos 1950, com Eu sou o espetáculo. E se você for analisar, o Jô Soares e o Chico Anysio também faziam stand up, porque ninguém trabalhava deitado (risos). Nos Estados Unidos, esse estilo vem desde os anos 1930. Hoje em dia, surgiram muitos bons valores, como o Marcelo Adnet, que é um sucesso, mas no fim ficam os melhores. Eles mesmos e a própria plateia acabam purificando o gênero.