Já Lucas Ferreira, de 24 anos, morador da Savassi, sugere aproveitamento de “espaços mais apropriados” para a multidão. “É muito interessante ver como o carnaval cresceu em BH. Como jovem que gosta do movimento, tudo bem. Mas muitos moradores acabam sendo desrespeitados. Embora os shows terminassem às 22h, a confusão só terminava às 3h”, comenta o estudante, que defende programação em espaços como o Parque das Mangabeiras. Lenice Rodrigues, de 36, vizinha da Avenida dos Andradas – passarela que recebeu 40 mil pessoas com o Bloco Alcova Libertina –, criticou a falta estrutura. De acordo com a assistente administrativa, que não quer nem “ouvir falar em carnaval”, a cidade não tem preparo para tanta gente na rua.
Já Laila Heringer, de 31 anos, quer é mais. Uma das organizadoras do Tchanzinho da Zona Norte, a produtora quer ver o povo nas ruas das nove regionais de BH. “O encontro nas ruas ainda está muito elitizado. É preciso que o carnaval chegue a todas as classes sociais de todos os pontos da cidade. Este ano já foi melhor, mas ainda há muito para avançar”, avalia. O Tchanzinho e seus 3 mil seguidores movimentaram o Bairro Jaraguá, na Pampulha. Da Praça Manoel Dias Filho, os foliões ganharam a Avenida Sebastião de Brito até a Estação Primeiro de Maio. De mêtro, grande parte do público seguiu até a Praça da Estação. Trajeto longo, que, segundo Laila, deve ser repensado para o próximo ano.
“Sabemos que vamos continuar de metrô. Mas a praça ficou pequena para a concentração e temos que buscar o melhor para o público. Estamos pensando em encurtar o caminho também. A Zona Norte é uma referência muito mais conceitual do que geográfico para o bloco”, conta. Laila quer mostrar a distância e as diferenças entre um ponto e outro. Sonha em diminuir o abismo entre as classes. A produtora sugere ainda melhor comunicação entre os departamentos do poder público, para que a mobilidade não seja tão complicada. De acordo com ela, a BHTrans – que não esteve presente na movimentação do bloco – está longe de estar preparada para o carnaval de rua.
Os endereços que bombaram
Na geografia da folia em 2015, a Praça da Liberdade, o Hipercentro e quadrantes da área hospitalar foram as regiões que mais concentraram pessoas. Além disso, alguns blocos optaram por sair em bairros mais afastados, disseminando a alegria praticamente por todos os lugares. Na Savassi, a opção por música eletrônica não atraiu os foliões e o local se tornou um ponto de encontro apenas à noite, depois dos desfiles dos blocos que passaram por outros endereços da cidade.
Em Santa Tereza, as restrições impostas depois dos problemas de 2013, quando o bairro chegou a receber cerca de 30 mil pessoas no domingo de carnaval, surtiram efeito. Os blocos mais populares da cidade escolheram outros locais para desfilar. A determinação para que a festa durasse até 21h deixou o bairro apenas para os blocos da região. Mesmo assim, durante o dia muita gente passou por lá, mas em número bem mais reduzido.
No Hipercentro, a movimentação foi intensa desde o primeiro dia, com o Então, Brilha!, com mais de 20 mil pessoas na Rua Guaicurus. Logo depois, o Bloco Praia da Estação também recebeu uma multidão. No domingo, em desfile que começou na Avenida dos Andradas, o rock do Alcova Libertina arrastou 40 mil pessoas, que terminaram a noite na Praça da Estação. Na segunda, foram cerca de 100 mil pessoas atrás do Baianas Ozadas, que começou na Praça da Liberdade e só parou na Estação.
Na Liberdade, além do recorde de público do Baianas Ozadas, o Unidos do Samba do Queixinho foi outro destaque, no domingo de carnaval. Na área hospitalar, os blocos Ordinárias e do Peixoto atraíram multidões em seus desfiles. Fora do perímetro da Contorno, o Pena de Pavão de Krishna pintou de azul a tradicional Lagoinha, com sua música zen e referências orientais.
No que depender da Prefeitura de Belo Horizonte, não vai faltar diálogo para que o mapa da folia seja melhor e mais seguro no próximo ano. É o que garante Régis Souto, secretário de Comunicação e integrante da comissão organizadora do carnaval. “A expectativa é de mais investimento. De crescimento, sem perder a característica do popular, da diversidade, do respeito à família, com segurança”, ressalta. O representante do poder público destaca as estações do samba nas regionais e diz que está atento às críticas e que espera o melhor relacionamento possível com os organizadores
O fenômeno em números
Ontem, a Prefeitura de Belo Horizonte divulgou contagem estimada do público durante o carnaval na cidade: 1,46 milhão de foliões. O gráfico da Belotur indica 289 atrações no período. Nos 13 palcos, chamados “estações do samba”, 92 apresentações e 18 DJs – só na Savassi. Blocos de rua cadastrados: 177. Dentro da programação oficial, nove blocos caricatos e seis escolas de samba passaram pela Avenida Afonso Pena.
Ontem, a Prefeitura de Belo Horizonte divulgou contagem estimada do público durante o carnaval na cidade: 1,46 milhão de foliões. O gráfico da Belotur indica 289 atrações no período. Nos 13 palcos, chamados “estações do samba”, 92 apresentações e 18 DJs – só na Savassi. Blocos de rua cadastrados: 177. Dentro da programação oficial, nove blocos caricatos e seis escolas de samba passaram pela Avenida Afonso Pena.