O maestro do Então Brilha!, que levou 20 mil pessoas à Rua Guaicurus no sábado, Di Souza, acredita que a festa popular é a marca e também chamariz em BH. “É para todos. Gera nas pessoas a sensação de pertencimento. Qualquer um pode tocar no Então Brilha!, somos um bloco aberto”, afirma. Outra característica é o fato de não haver corda para separar o público da bateria. “Aqui é o cordão do amor. Tudo gira em torno das pessoas”, diz.
Mas fazer uma festa aberta, que só cresce, tem trazido aprendizados na prática. Na segunda, impasse entre os Bombeiros e a Belotur atrasou a saída do Baianas. O Cobom exigia projeto de segurança para grandes eventos. “É preciso abrir um diálogo mais amplo entre as instituições. Chegou o momento de ter uma legislação específica. Os blocos não são eventos, mas manifestações populares”, afirma Geo, que reforça que toda a estrutura é bancada de forma independente. “Em Salvador, a prefeitura abre licitação para trios elétricos públicos”, aponta.
Bancando custos
Mas a forma de dar continuidade à festa momesca em franca expansão é um dos dilemas de quem faz o carnaval. “Bancamos com a colaboração de quem tocou na bateria, de foliões. Se conseguirmos fazer vários carnavais dentro dessa estrutura, será excelente, pois tem um sentido especial de comunidade”, afirma Di Souza. “Queremos manter a festa enquanto movimento político e social”, reforça.
Produtor do bloco Alcova Libertina, que levou 30 mil pessoas à Avenida dos Andradas, André Leal Medeiros, conta que foram 30 dias de preparação, R$ 12 mil de investimento dos integrantes do grupo. “Fazemos por amor”, diz André, que acredita ser necessária melhor estrutura para os blocos. “Não há patrocínio e ninguém paga nem o lanche dos músicos. Quem corre atrás de todas as licenças também somos nós”, diz.
Prefeitura defende 'mais diálogo'
Até mesmo a prefeitura reconhece que há muito a melhorar em planejamento, estrutura e integração entre instituições. O presidente da Belotur, Mauro Werkema, considera necessário maior diálogo com os Bombeiros. “Precisa ficar bem claro que bloco de rua é manifestação carnavalesca espontânea, diferente de evento, que demanda licenciamento. Trio elétrico, que não queremos nos blocos, também não tem nada a ver com caminhão de som”, disse Werkema, em referência ao problema envolvendo o Baianas Ozadas. Para ele, segurança, baixo custo e clima familiar explicam boa parte do sucesso da promoção.
Muita gente se queixou da pouca oferta de banheiros químicos e Werkema reconhece a necessidade de “replanejamento espacial” para melhor distribuição dos equipamentos. Ele diz que o total – 1,8 mil cabines – foi suficiente. Já a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) diz que gastará mais de 30 caminhões de água (clorada) de reúso, recolhida na piscina da UFMG, para limpar as ruas.
O coronel Cícero Cunha, à frente do Comando de Policiamento da Capital (CPC) afirmou ontem que não houve ocorrências graves. “Registramos furtos de documentos, poucos roubos, nada de relevância”, disse. O comandante, que esteve à frente de 6 mil profissionais, contou que não se caracteriza como arrastão o assalto a duas pessoas, que tiveram roubadas três correntes de ouro, na madrugada de ontem, na Savassi, na Região Centro-Sul. Nove pessoas foram presas.
O que deu certo
População deu show com a beleza e criatividade das fantasias
Força e identidade dos blocos de rua atraíram o público
Programação abrangeu a cidade toda
Limpeza das ruas feita pela SLU depois dos desfiles dos blocos
Clima pacífico e de respeito entre os foliões dispensou policiamento ostensivo
Animação da galera
Para melhorar
Banheiros químicos foram insuficientes
As ruas por onde os blocos passaram não foram interditadas com antecedência e carros estacionados dificultaram os desfiles
Sinal de internet ficou instável nos locais de grande aglomeração
Água mineral e cerveja tiveram preços inflacionados
Ampliar a oferta de pontos de alimentação nas proximidades
Maior apoio aos blocos de rua
Potência dos sons dos carros usados pelos blocos