Uma hora depois do aquecimento, o apito do mestre de bateria anunciou o início do jogo. Fabinho do Terreiro, uma espécie de camisa 10 do time, chamou a torcida e foi pra cima. “A hora é essa, o carnaval começou...”, gritou a todo pulmão. O recado foi como um código de uma jogada ensaiada e o bloco começou a andar. A torcida foi junto e as atenções se voltaram para o veterano de trinta e poucos anos - mas estreante em bloco grande - o caminhão vermelho. A pressão era grande, o som dependia dele. Se não desse conta do recado aquele povão todo ia ficar sem a "barulheira" tradicional, ou seja, ele não podia falhar.
A peregrinação pelas ruas do Bairro Santo Antônio e São Pedro foi de aproximadamente dois quilômetros até a Rua Major Lopes. O carro estreante arriou três vezes, coitado. Mas também, tenha paciência, treino é treino e jogo é jogo, e se tratando de carnaval esse era o primeiro jogo do ano.
E tem mais: festa de Momo é esporte coletivo. Os companheiros de time do velho caminhão não se deixaram abater e o público pulava e cantava sem parar. Nem que fosse empurrado aquele bloco ia chegar no destino. E chegou, com tamanho entusiasmo e alegria pela vitória que não coube no estacionamento reservado para o pós-jogo. O jeito foi ocupar a rua mesmo. Se não dava pra andar direito em meio a tantos sorrisos de vitória, não é preciso dizer que o veículo não passava naquele logradouro de jeito nenhum.
Na alegria, com os ídolos do time no palco cantando o samba para a torcida vencedora, quase ninguém reparou quando o carro foi embora... Exceto um torcedor ou folião, não se sabe ao certo, que vestia a camisa do bloco e foi até ele enquanto todo mundo prestava atenção no palco. O homem abraçou e deu um beijo na velha lataria do caminhão, como se reconhecesse e admirasse a vontade de vencer do velho estreante, que seguiu para o vestiário discretamente. Agora ele vai se recuperar para não falhar na próxima partida. Afinal o carnaval apenas começou, e só termina no dia 19.
Por Vitor Colares