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ARTES VISUAIS

Isolamento social vira inspiração para arte

Na série Ensaios sobre a solidão, Caio Buono criou o trabalho Insônia: alunos tiveram que usar recursos que tinham em casa - Foto: Caio Buono/Divulgação
Como transformar os sentimentos causados pelo confinamento social em arte? Esse foi o desafio enfrentado pelos alunos da Escola de Tecnologia da Cena do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart), que apresentam a mostra on-line Isolamento.



“Só valiam obras cujo tema girasse em torno do isolamento. Os alunos teriam de utilizar recursos que já tivessem em casa. A participação foi muito legal, os trabalhos ficaram muito bacanas”, comemora o professor Geraldo Octaviano, um dos orientadores da mostra.

A exposição quase não ocorreu devido à impossibilidade de os participantes se encontrarem presencialmente. “No meio do curso, fomos surpreendidos pela pandemia. Iríamos fazer a mostra e pensamos em cancelá-la. Mas tivemos duas aulas que nos deram a ideia de fazer algo on-line. Seria uma boa, pois poderíamos criar conexões, estar juntos de alguma forma”, comenta Geraldo Octaviano.

A maior descoberta foi de que nada pode impossibilitar o artista de trabalhar. “A gente cria em quaisquer condições”, diz o professor, ressaltando que não foi fácil lidar com aulas on-line. “No princípio, foi um choque: meu Deus como vamos fazer?. Foi muito difícil virar a chave”, revela. “Ficamos muito preocupados sobre os conteúdos, como passar toda a matéria para os alunos.”



Durante todo o processo de produção, os estudantes contaram com a orientação dos professores e tiveram de fazer pequenos cursos de fotografia, edição e iluminação. “Nos adequamos a este momento. Foi um processo muito rico”, diz o professor.

Entre os projetos expostos está Isolamento SOcial, de Sara Marques, de 26 anos. Nas obras criadas com papel, tinta, caneta e giz, ela aborda o racismo. “Os trabalhos partiram de uma inquietação minha. Enquanto estudante de arte e mulher negra, não poderia deixar de falar sobre esse assunto”, diz.

“O isolamento tem o lado bom e o lado ruim. Querendo ou não, esse período serviu para muitas reflexões, o que fez com que surgisse minha inspiração. Mas não se compara com ir para a rua. São coisas diferentes”, acrescenta Sara.



A série criada por Laura Mieko, de 22, retrata encontros presenciais quando eles puderem ocorrer. “Fiz pensando em como seriam esses encontros, considerando a pandemia e a impossibilidade de estarmos perto um do outro como costumávamos ficar”, explica a autora de Encontros. “Como será tomar um café, encontrar com as pessoas no futuro? Mesmo quando pudermos estar mais próximos do outro, ainda assim vamos ter de tomar alguns cuidados”, pondera.


DUALIDADES

Em Ensaios sobre a solidão, série criada por meio do programa photoshop e de tinta guache, Caio Buono, de 23, retrata a dificuldade para dormir. “Como estamos sozinhos, temos de aprender a lidar com a gente e com nossas dualidades. Passamos por vários sentimentos conflitantes durante o dia. Quando você vai dormir, tudo o que você absorveu entra em curto”, explica Caio. “Minha inspiração veio durante a noite. Quando ia dormir, pensava em alguns cenários que representassem o isolamento. Fiquei na dúvida se faria uma ou duas obras. Acabei fazendo quatro”, brinca ele.

*Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro 


ISOLAMENTO 
• Trabalhos de alunos da Escola de Tecnologia da Cena do Cefart
•  Mostra on-line. Em cartaz no site www.fcs.mg.gov.br