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TRABALHO EM CASA

Para testar residência artística, jovem malaia vive quarentena em galeria

O principal trabalho ao qual a artista se dedicou foi um projeto fotográfico de autorretrato - Foto:
Localizado em Kuala Lumpur, capital da Malásia, no Sudeste asiático, o espaço independente KongsiKL recebeu um experimento inédito durante a quarentena imposta para conter a propagação do novo coronavírus.


Num galpão industrial completamente vazio, a artista Low Pey Sien, de 29 anos, realizou uma residência experimental que pode servir de exemplo para o mundo pós-pandemia.

Ao longo de 75 dias, entre 1º de abril e 14 de junho, ela se isolou nas instalações do KongsiKL. Gerente do espaço, sua proposta foi analisar e testar a viabilidade dele como um local para receber residências artísticas. Para documentar o processo, ela utilizou seu perfil pessoal no Instagram (@playstesen) e a página do KongsiKL no Facebook.

Desde que abriu as portas, em 2017, o lugar já havia recebido alguns artistas, mas não por um período tão longo. Para Sien, mudar-se para esse espaço foi uma espécie de ''fuga'' do estresse mental de se sentir presa em casa, conforme ela afirmou.

Inspirada por dois programas de residência de que participou no Japão, no ano passado, ela se dedicou a observar como o modelo das residências artísticas se insere no ecossistema das artes e de que forma o KongsiKL pode incentivar o trabalho criativo.



Desde que o espaço foi fechado, em obediência às recomendações das autoridades de saúde para evitar aglomerações e praticar o distanciamento social, ela acredita que surgiu uma oportunidade para desenvolver um programa de residência que poderá receber artistas após a crise sanitária, considerando a adoção de protocolos de segurança e distanciamento.

Sien participou de duas residências artísticas no Japão no ano passado e teve a ideia de investigar o futuro desse formato - Foto:
MODELO

De acordo com esse novo modelo, programas de longo prazo seriam a solução. Num primeiro momento, os artistas também deveriam realizar uma quarentena antes e depois da participação nos projetos.

A estrutura em que Sien morava e trabalhava era bastante simples. O quarto dela consistia numa mesa sobre rodas com um mosquiteiro por cima; a cozinha era um fogão a gás de acampamento, colocado ao lado de uma pia e de uma geladeira. Sua sala de estar, por sua vez, se resumia a um sofá que ela retirou da lixeira do lado de fora do galpão.



''Uma residência não tem resultados mensuráveis imediatos, seu impacto leva muito tempo para fermentar, seja para o desenvolvimento pessoal dos artistas ou para o espaço e para a comunidade imediata. A documentação será crucial para algo intangível como isso'', disse ela ao jornal canadense The Star.

A adaptação do local, que funcionava como espaço artístico independente em uma residência, contou com uma cama improvisada e um fogão alimentado a gás de acampamento - Foto:
Durante a estada no local, Low Pey Sien passou um tempo desmontando e mantendo o galpão para se preparar para projetos futuros, concluindo uma instalação com galhos de árvores bodhi encontrados na parte traseira das instalações da KongsiKL e trabalhando num projeto fotográfico de autorretrato.

Muito embora sua iniciativa tenha sido um experimento isolado, como ela reconhece, ela pode representar um caminho para a manutenção das residências artísticas ao final do isolamento.

As residências são uma oportunidade para artistas produzirem em diferentes locais e entrar em contato entre si. A preocupação, agora, é se o contato interpessoal, uma das características mais marcantes desse formato, sobreviverá à era do distanciamento social.