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Pai da Radical Chic, Miguel Paiva lança livro em BH nesta terça (11)

Paiva na sede do Pasquim, em 1972 - Foto: Paulo Garcez

Ela saiu de cena, mas continua vivíssima. Quem sabe alguém não pode voltar com ela? “Há sentido que a Radical Chic continue existindo. Mas eu, como homem, não me sinto mais no direito de falar em nome das mulheres. (Ela poderia voltar) Desde que fosse pelas mãos de uma mulher”, comenta o cartunista, pintor, artista gráfico, escritor e roteirista Miguel Paiva


 
Aos 70 anos, o criador da Radical Chic – e de outros tantos personagens célebres, como Gatão de Meia Idade e Ed Mort – lança a biografia de sua trajetória. Memória do traço (Chiado Books, 334 páginas, R$ 79) traz a BH Miguel Paiva, que faz o lançamento do livro nesta terça (11), a partir das 19h30, na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes. O encontro integra a programação do Sempre um Papo.
 
Cria dos quadrinhos do início dos anos 1980, a Radical Chic – que ganhou vida na TV, na década de 1990, onde foi interpretada por Andréa Beltrão – é uma mulher descolada, que fala livremente sobre homens, sexo, casamento, futebol. Na época em que foi criada, não custa nada lembrar, o Brasil começava a sair de 20 anos de ditadura militar.
 
A Radical Chic viveu até cinco anos atrás. “A situação feminina se transformou muito. Fiz a personagem enquanto o lugar de fala feminino era quase zero. Como as mulheres não tinham espaço, eu o ocupava com prazer. Hoje, não tenho mais o que falar sobre ela. Digo sempre que ela está morando em Mauá, transando e fumando maconha”, comenta Paiva.


 
Memória do traço traz muito da Radical Chic – o livro é repleto de ilustrações. Mas a trajetória de Paiva vai muito além dela. Nascido em 1950 no Rio de Janeiro, ele iniciou sua carreira nos anos 1960. Foi um dos fundadores do Pasquim, fez história na imprensa carioca (Correio da Manhã, O Cruzeiro, Jornal do Brasil, O Globo), publicou livros (Ed Mort com Luis Fernando Veríssimo), escreveu musicais, fez roteiro para cinema e TV.
 
“É curioso olhar para trás. Havia coisas que eu não me lembrava, meu filho (o texto e a edição do livro são de Vítor Paiva, a partir de uma série de entrevistas que fez com o pai) sabia mais do que eu sobre uma vida que ele não viveu. Rever o passado é um processo bem estranho, pois a memória é que nem uma vida. Você vai cavando e descobrindo outras coisas.” 
 
A ideia inicial de Paiva era fazer uma grande exposição sobre sua obra. O projeto, ele não tardou a descobrir, era inviável. Daí veio o livro, que o fez redescobrir o próprio arquivo. “Tenho mais de dez mil desenhos. Agora, o resumo da minha vida está todo digitalizado”, comenta ele, que vem se dedicando, nos últimos anos, à pintura.
 
Fora da grande imprensa, Paiva atualmente publica charges diárias no portal Brasil 247, onde também te um programa semanal. “Tenho mais de 50 anos de carreira e não me lembro de um momento de tanta gratificação profissional. Recebo muitas mensagens, o número de visualizações é grande. A única coisa que falta é o dinheiro proporcional (ao trabalho)”, diz.


 
Para ele, não falta material no Brasil de hoje para fazer humor. “É mais fácil, porque temos um material diário muito grande. Faço três, quatro charges por dia, às vezes não tenho espaço suficiente para publicar. Ao mesmo tempo fico mais triste, pois preferia um país melhor para ter uma discussão mais inteligente. Hoje, o trabalho de charge é de resistência mesmo”, finaliza.

SEMPRE UM PAPO
Lançamento do livro Memória do traço, de Miguel Paiva. Nesta terça (11), às 19h30, na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Entrada franca.