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Estado de Minas

Mostra na Casa Fiat destaca a influência dos italianos no Brasil

Exposição 'Percorsi italiani: 120 anos de história' ressalta a contribuição dos imigrantes para a economia, arquitetura e cultura de Belo Horizonte


26/11/2019 06:00

Padaria Savassi, fundada por italianos, marcou a história de Belo Horizonte (foto: Gedoc/EM/D.A/Press)
Padaria Savassi, fundada por italianos, marcou a história de Belo Horizonte (foto: Gedoc/EM/D.A/Press)
Entre 1877 e 1903, o Brasil recebeu, anualmente, cerca de 71 mil imigrantes – 58,5% deles eram italianos. São Paulo era o primeiro destino, Rio Grande do Sul o segundo. Terceiro colocado no ranking, Minas Gerais se tornou a morada de grande número de trabalhadores e suas famílias. Muitos chegaram para ajudar a construir a capital mineira, inaugurada em 1897.

Percorsi italiani: 120 anos de história, exposição que será aberta nesta terça (26), na Casa Fiat de Cultura, pretende contar essa trajetória por meio de dois pontos de vista. Dos próprios imigrantes, e sua influência em diferentes aspectos da vida brasileira, e da própria Fiat, já que a montadora italiana completa 120 anos neste 2019.
“A exposição vai mostrar por que a italianidade e a mineiridade andam sempre juntas”, comenta Ana Vilela, gestora de cultura da Casa Fiat. “Gosto de pensar que a Fiat é um familiar que ficou aqui”, acrescenta a jornalista e historiadora Cinthia Reis, que assina a curadoria da mostra.

Percorsi italiani ocupa o hall, o mezanino e a Piccola Galleria da Casa Fiat. Criada principalmente a partir de imagens e documentos de época, ainda traz alguns objetos e documentos históricos, como uma bola de 1921 do Palestra Italia (atual Cruzeiro), time fundado naquele ano por imigrantes, e um passaporte italiano datado de 1909.
 
Edifício São Paulo, em BH, projeto do italiano Romeo de Paoli(foto: Museu Abílio Barreto/Reprodução)
Edifício São Paulo, em BH, projeto do italiano Romeo de Paoli (foto: Museu Abílio Barreto/Reprodução)
 

GUERRAS 


De acordo com Cinthia Reis, o primeiro fluxo migratório ocorreu na virada do século 19 para o 20. “Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o número de imigrantes diminui muito. Os homens foram para a guerra e as mulheres, pela primeira vez, entram para trabalhar na fábrica da Fiat”, ela conta. O mesmo ocorreu nos anos 1940, com a Segunda Guerra (1939-1945). Com a chegada da Fiat ao Brasil, na década de 1970 (a inauguração da fábrica em Betim foi em 1976), o fluxo aumenta. A partir dos anos 2000, tem início o terceiro fluxo migratório.

A exposição começa pelo painel trazendo 12 grandes imagens (representando cada uma das 12 décadas), que destacam diferentes aspectos (indústria, comércio, arquitetura, esporte, arte) da imigração italiana no Brasil. Ainda no andar térreo, a Piccola Galleria ressalta a relação dos italianos com Belo Horizonte. Nas fotografias, há imagens de pontos comerciais comandados por imigrantes, de trabalhos artísticos (como o altar da Igreja de São Francisco, na Pampulha, assinado por Candido Portinari, filho de Giovan e Domenica Portinari), e de outros lugares tradicionais de BH, como o Minas Tênis Clube, com projeto do arquiteto Raffaello Berti, um dos italianos que introduziram o art déco na cidade a partir dos anos 1930.

A exposição tem continuidade no mezanino. A linha do tempo traz mais detalhes dessa história. No centro do espaço está um Fiat 147, o primeiro automóvel produzido pela montadora no Brasil (foi fabricado entre 1976 e 1986). O veículo exposto é especial – é a primeira unidade do modelo movido a etanol. Tanto por isso, atende pelo apelido de “Cachacinha”. No vidro frontal do carro é exibido o comercial que o lançou.

Dando sequência à mostra, há dois setores ligados à história da montadora. Um painel apresenta a evolução da logomarca da Fiat – ou Fabbrica Italiana Automobili Torino, como foi batizada em 1899. Pôsteres e vídeos acompanham a evolução dos modelos e do design publicitário.

MURAL 

Por fim, o artista Flávio Vignolli, o coletivo 62 Pontos e o QuartoAmado criaram um grande mural com 200 pôsteres lambe-lambe, propondo o diálogo com as culturas mineira e italiana através da poesia. A inspiração veio dos poemas Nel mezzo de cammin di nostra vita (No meio da jornada da nossa vida, de Inferno, da Divina comédia), de Dante Alighieri, e No meio do caminho (do livro Alguma poesia), de Carlos Drummond de Andrade.

Presidente da Casa Fiat, Fernão Silveira lembra que Percorsi italiani é a segunda exposição consecutiva (vem na sequência de Beleza em movimento, dedicada ao design automobilístico) que propõe a aproximação da cultura com a empresa mantenedora do espaço. “Mas não é uma mudança de rumo (da Casa Fiat). Tanto que, no primeiro semestre de 2020, haverá uma grande exposição de arte, inédita no Brasil”, promete.


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