James Ellroy não gosta de perguntas sobre o presente e até ameaça abandonar a entrevista por causa disso. Para o mestre do romance policial, apenas a história interessa, como a de Los Angeles, em 1942, cenário de seu livro mais recente. “A história é o que sempre conta para mim. O presente eu ignoro”, afirma o autor de Dália negra e de Los Angeles: cidade proibida, conhecido pelas frases provocantes e pelo estilo particular de sua obra.
“Não falo do presente e não respondo a nenhuma pergunta sobre o presente. Não me inte- ressa. Só quero responder a perguntas sobre a Segunda Guerra Mundial”, afirma. “As pessoas esperam que apresente minhas opiniões. A resposta é não”, completa o escritor, de 71 anos. Ellroy, que desde a década de 1980 mergulha nos recantos mais obscuros dos Estados Unidos, gosta da provocação. Começando por uma citação de Benito Mussolini – “Somente o sangue faz girar a roda da história” – na epígrafe de seu livro mais recente This storm, segundo volume do Segundo quarteto de Los Angeles, iniciado com Perfídia, em 2015.
Leia Mais
Historiadora Mary del Priore garante: dona Maria I nunca foi loucaExposição de Pedro Moraleida será aberta neste sábado (23), em BHEscritor Luiz Ruffato participa do Sarau Libertário, no domingo Mostra na Casa Fiat destaca a influência dos italianos no BrasilLiteratura italiana ensaia retomada com romance de Elsa Morante“Não digo que ele foi um ser humano admirável, mas o que falou está certo”, declara sobre o ditador italiano. This storm, de 700 páginas, começa em 30 de dezembro de 1941, semanas depois do ataque a Pearl Harbor, que provocou a contraofensiva dos EUA ao Japão e operações contra americanos de origem japonesa.
Não faltam os conhecidos elementos de seu universo noir: policiais alcoólatras, obsessões, corrupção, racismo, crimes e violência extrema. Alguns personagens de livros anteriores reaparecem, como o brutal policial de origem irlandesa Dudley Smith.
PAINEL Para Ellroy, que se define mais como um autor de romances históricos do que um escritor de policiais, o desafio é criar uma grande obra retomando personagens de seu primeiro Quarteto, ambientado nos anos 1950, e imaginá-los mais jovens. Incluindo sua trilogia Underworld USA, sobre os anos 1960, ele tem a ambição de estabelecer um gigantesco painel dos Estados Unidos entre 1941 e 1972.
“Ainda faltam dois livros por escrever deste quarteto. Veremos depois se consigo escrever uma segunda trilogia Underworld. O que quero é escrever livros volumosos, com visão épica e belas capas”, completa, antes de afirmar que criou um gênero.
A This storm ele dedicou cinco anos, centenas de notas e a estrutura do livro resumida em 500 páginas. “Conheço todos os personagens, esquemas históricos, todas as histórias de amor, escrevo até a perfeição”, comenta Ellroy, que trabalha sem computador, ditando para um assistente.
“Digo que a verdade histórica não significa nada para mim”, avisa. Depois de verificar os principais fatos históricos, ele entra com a imaginação e a ficção. “Sou um romancista”, sentencia Ellroy, que não pretende mais escrever obras autobiográficas como Meus lugares escuros, no qual aborda o assassinato de sua mãe, quando ainda era criança. (AFP)