Sertão gerais ou Ser tão gerais – eis a questão, quando a alma mineira fala sobre os vastos interiores e a mente fica na dúvida se tudo isso é apenas geografia ou um estado de espírito. Conhecedor dos cerrados, com olhar atento e jornalístico sobre paisagens, habitantes, fauna e flora, o repórter fotográfico Alexandre Guzanshe, de 43 anos, tem intimidade suficiente para dar sua versão e resposta: “O sertão está dentro de nós, como escreveu Guimarães Rosa (1908-1967) no antológico Grande Sertão: veredas”. Sempre encantado com a obra de seu autor preferido, Guzanshe lança nesta segunda-feira (19), às 19h, no Museu Mineiro, em Belo Horizonte, o livro de fotografias Ser Tão gerais, que remete aos grotões e confins percorridos por Riobaldo e Diadorim. A data escolhida não poderia ser mais apropriada, pois 19 de agosto é o Dia Internacional da Fotografia.
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As viagens deixaram marcas nas memórias, aguçaram os sentidos, deixaram a sensibilidade aflorada.“Em cada caminho, deixei que a terra entranhasse em meu sangue, entrasse pelos poros. E, para esquentar o clima, nadei no Rio Urucuia, provei das comidas típicas, dormi ao relento, conversei muito com as pessoas, senti a poeira no rosto, enfim, mergulhei na cartografia roseana”, diz Guzanshe, que, pelo EM, foi o fotógrafo do caderno especial Travessia, em 2016, comemorativo dos 60 anos de publicação da obra-prima de Rosa e ganhador do Prêmio Petrobras de Jornalismo. No ano anterior, atuou em Sertão S/A, sobre a viagem do médico e escritor partindo de Cordisburgo. “A história dessa expedição sempre povoou meu imaginário e, de certa forma, foi o motor desse meu livro.”
Quando o leitor abrir o livro, o primeiro de Guzanshe, vai sentir o cheiro da terra, fazer parte dessas trilhas mineiras e se imaginar em outros tempos – e nesses novos dias também. “Não se trata apenas de um livro de fotografias. Há uma narrativa, uma história, uma construção. A primeira foto tem uma legenda autoexplicativa – ‘O sertão começa aqui’ –, que estava escrita num armazém. E há outra bem emblemática:’Todo mundo corre perigo’”. Para trazer o sertão mais para perto do leitor, o fotógrafo coletou pequenas porções de terra nas cores branco, amarelo, roxo e vermelho, e, por “sugestão e criação” da mulher, Bia Mom, foi feita uma pintura artesanal. Assim, na sobrecapa, o título está impresso com esses pigmentos, destaca o autor, lembrando que o livro também já foi lançado em 8 de julho, na abertura da 31ª Semana Roseana, em Cordisburgo, na Região Central.
AMOR TOTAL Mais do que uma saga pelos sertões, o livro de Guimarães Rosa é uma história de amor. “Amor pela terra, pelas pessoas, pela vida e, principalmente, pelas palavras. Assim, procurei me inspirar, me nortear e apontar minhas lentes na busca dessa essência. Ficarei feliz se o leitor me acompanhar nessa minha travessia”, afirma Guzanshe. O livro tem dois textos, que ajudam a compreensão do universo roseano: um escrito por Matuturana, “um filósofo do sertão”, e outro por Flávio Valle, professor e pesquisador da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).
Com a palavra, o autor:
‘Ser Tão é dentro da gente’
“Venho mergulhando no universo literário de João Guimarães Rosa há alguns anos. A inspiração vem de sua maior obra, Grande sertão: veredas. O ensaio fotográfico foi realizado entre 2012 e 2018, nas muitas viagens que fiz ao sertão mineiro. A ideia do livro começou a tomar forma no meio do processo, no meio dessa minha 'travessia'. Os registros foram feitos com câmeras de celular, diversos modelos, diferentes aplicativos e inúmeros filtros. Sempre documentando o povo encantador, a luz maravilhosa e os lugares inesquecíveis. São grandes distâncias, muitas vezes difíceis de ser alcançadas. Mas o Ser Tão é o sem lugar. O Ser Tão é dentro da gente.”
Ser Tão gerais
de Alexandre Guzanshe
Editora: A Mascote
Preço no lançamento: R$ 80
Páginas: 164
Lançamento nesta segunda-feira (19),
às 19h, no Museu Mineiro (Avenida João Pinheiro, 342, Lourdes)
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