O prólogo de 'Uma mulher no escuro', novo romance de Raphael Montes que chegou no fim de semana às livrarias, é de tirar o fôlego: em 1998, no aniversário de seus quatro anos, Victoria é a única sobrevivente de um crime terrível. Um homem invadiu sua casa e matou a família a facadas, pichando seus rostos com tinta preta. Na mesma noite, Santiago, um jovem de 17 anos, se entregou à polícia, sem nunca explicar por que matou a família Bravo nem por que deixou a caçula viva. Vinte anos depois, Victoria tornou-se uma mulher tímida, com problemas de relacionamento e atormentada por pesadelos frequentes.
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Aos 28 anos, Raphael Montes já ostenta uma carreira sólida e reconhecida. Sua estreia literária, em 2012, com Os suicidas, chamou atenção pela ousadia do tema – a disposição de jovens de tirar a própria vida, antecipando o sucesso da série Thirteen reasons why.
O salto definitivo para o reconhecimento, porém, veio em 2014, com Dias perfeitos – a história de um amor obsessivo e paranoico conseguiu elogio de um papa da escrita noir, o americano Scott Turow, que vaticinou: “Raphael certamente redefinirá a literatura policial brasileira e vai surgir como uma figura da cena literária mundial”.
À medida que evoluiu na escrita policial, Raphael Montes percebia a importância da complexidade de uma trama. Isso está presente em seu novo romance. “Para não parecer uma simples vítima, a protagonista, Victoria, necessitava ser uma personagem atípica. Com muitas dúvidas, mas com perfil heroico”, explica o escritor. Assim, o ato de confiar ou não em outras pessoas foi seu ponto de partida.
Jornada
Depois do trauma de infância, Victoria se transforma numa jovem desconfiada, preferindo ficar em seu apartamento, na Lapa, Rio de Janeiro, de onde observa a vida alheia pelas janelas. “É também uma jornada de amadurecimento. Ela descobre que, para se tornar adulta de fato, terá de enfrentar escolhas”, comenta Montes, apontando semelhanças em sua carreira literária.
Para isso, realizou extensa pesquisa, que incluiu conversas com psiquiatras, estudos sobre transtornos e consulta com criminólogos. Buscou ainda subsídios em casos clássicos. Ali tirou alguma certeza: a dúvida deveria predominar. “Em quem podemos confiar? Com quem podemos dividir nossas angústias e segredos? Esse é um dos grandes dilemas do cotidiano. Escrevi um livro em que o mistério é costurado aos poucos, a tensão aparece mais nas situações e no perigo iminente do que em cenas de violência”.
Os desafios motivam sempre Montes. Nas obras anteriores, ele embaralhava as regras do gênero policial, evitando o clichê de um crime desvendado por um detetive. “Nesse novo romance, o culpado é de fato algum dos suspeitos”, conta ele, que já trabalha em quatro apostas para o próximo livro. “A história que mais me interessa tem uma mulher de 60 anos, tatuada, professora de física como protagonista.