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BH recebe a exposição 'A cadeira e a poesia'

“Garotas de Cachoeiro civilizam nosso mineiro burgo relaxado. No salão todo luz chega o perfume das roseiras da Praça. Burburinho. Aqui, a se sorrirem, vejo os máximos escritores da nova geração.” Em Boitempo – Esquecer para lembrar (1979), terceiro volume de poemas de caráter memorialístico, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) descreve, em Jornal falado no Salão Vivacqua, as noites passadas nos saraus mensais promovidos pela família capixaba.

De Cachoeiro de Itapemirim, os prestigiosos Vivacqua chegaram a Belo Horizonte nos anos 1920. Na época, Achilles, um dos 15 filhos de Etelvina e José Antônio Vivacqua, havia sido diagnosticado com tuberculose. O prestígio terapêutico do clima belo-horizontino atraiu a família, que se mudou para o casarão da Rua Gonçalves Dias, esquina com Sergipe. Saraus passaram a acontecer no local, que recebiam os jovens intelectuais da época, como Carlos Drummond de Andrade e Pedro Nava, próximos de Achilles.

Casarão de 1909, do arquiteto Edgard Nascentes Coelho (também responsável pelo Instituto de Educação e pelo Colégio Sagrado Coração de Jesus), a edificação de número 1.218 da Rua Gonçalves Dias será sede do futuro Museu da Cadeira Brasileira – MuC. O imóvel é tombado e pertence ao Conjunto Urbano Praça da Liberdade.
A partir desta quarta (29), o casarão recebe a exposição A cadeira e a poesia, que integra a programação do BH Design Festival. Além da mostra, o espaço vai promover diariamente palestras com designers, historiadores e arquitetos.

A Associação de Amigos do MuC recebeu há dois anos, via comodato, o imóvel para se tornar a sede da instituição. Desde então, ocupou o espaço. “Os projetos arquitetônico e expográfico estão prontos. Agora vamos entrar com o projeto via lei de incentivo para a capacitação”, comenta João Caixeta, presidente da Associação de Amigos e diretor do futuro museu.

A iniciativa de montar o museu remonta a 2006. Desde então, o grupo de Amigos do MuC vem adquirindo (inclusive via doações) exemplares. O acervo já conta com 100 cadeiras.
Muitas delas foram vistas há dois anos, em mostra no Museu de Artes e Ofícios. Agora, para a exposição A cadeira e a poesia, foi feito novo recorte para homenagear a família Vivacqua.

Uma das salas do casarão será ocupada por exemplares de cadeiras de designers contemporâneos, que serão vistas também através de hologramas. Outra sala vai apresentar, em projeção, 150 cadeiras que estiveram na mostra do MAO. “Queremos estudar a nossa história através do objeto cadeira”, diz Caixeta. O acervo vem sendo montado de acordo com orientação do Museu da Casa Brasileira, em São Paulo.

“Pela classificação, a história pode começar com banco dos indígenas. Depois, com a vinda dos portugueses, nas cadeiras europeias. Como os portugueses eram exímios marceneiros, trouxeram sua expertise”, continua ele.

CENTRO DE PESQUISA
Quando começam a ser produzidas no Brasil, estas cadeiras passam a ser classificadas como ecléticas. “Há, ainda, as cadeiras populares, muitas delas domésticas, rurais.
Já as cadeiras de indústria começam quando se inicia a produção nacional, no momento entre guerras”, explica Caixeta. “Com a construção de Brasília, há a vinda de vários designers, como (o português) Joaquim Tenreiro, (a italiana) Lina Bo Bardi. Neste momento há o nascimento de um desenho próprio do móvel brasileiro, que sofre influência do design escandinavo, da (escola alemã) Bauhaus”, acrescenta

O projeto do museu também prevê a instalação de um centro de pesquisa, voltado para a constante produção científica em torno da cadeira.

EXPOSIÇÃO A CADEIRA E A POESIA
No futuro Museu da Cadeira Brasileira – MuC. Rua Gonçalves Dias, 1.218, Funcionários. A mostra será aberta nesta quarta (29). Visitação de segunda a sábado, das 10h às 18h. Até 8 de junho


MuC no BH Design Festival

Até 7 de junho haverá uma série de palestras diárias no Museu da Cadeira Brasileira – MuC. Na abertura da programação, nesta quarta (29), às 16h, a professora Celina Borges, organizadora do livro Casa nobre, fala sobre o “Salão Vivacqua e outras casas nobres de Belo Horizonte” (ingressos esgotados). Para informações e inscrições para as demais palestras, todas gratuitas, acesse www.sympla.com.br/muc. O BH Design Festival vai até 8 de junho e a programação completa está no www.bhdesignfestival.com.br..