Imprecisão: substantivo feminino que significa “falta de precisão, de exatidão; ambiguidade, indefinição, indeterminação”, segundo o Michaelis. Não apenas como verbete, a palavra aparece também nos dicionários em geral como característica, quando as definições técnicas de sinônimos não atendem à complexidade da língua portuguesa. Essa ideia foi o gatilho para o novo livro da poetisa e escritora belo-horizontina Ana Elisa Ribeiro, que acaba de lançar Dicionário de imprecisões, pela editora Leme.
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Segundo ela, a proposta das poesias era não apenas mostrar a imprecisão dos dicionários convencionais ao significar seus verbetes, mas ainda destacar como eles não são neutros. “Se você vai ao dicionário e compara os significados de mulher e homem, por exemplo, você se assusta. Dificilmente eles conseguem acompanhar os movimentos da sociedade. É provável que muitas edições ainda definam um casal dentro da perspectiva heterossexual”, exemplifica a poetisa, que sobre o termo escreveu: “1.Diz-se de uma dupla composta por pessoas de qualquer combinação entre os sexos, em tese unidas pelo amor; 2.Cabe também aos pombos”.
Embora trate de temas sérios em alguns momentos, como no poema Morte, no qual diz “substantivo feminino, comum a todos, mas mais às mulheres por motivo fútil”, o tom predominante é bem-humorado. “O humor está no meu texto em geral, em publicações anteriores. Não consigo deixar de ser um pouco irônica ou escrever de outro jeito. Às vezes, aparenta humor, mas vêm uma crítica, um sarcasmo, entra tudo no meu texto, em qualquer âmbito que eu escreva, faz parte do meu estilo”, define Ana Elisa.
A ideia abarcou uma seleção de palavras feita espontaneamente.
“A saudade, além da dificuldade de definição, tem aquele papo de que ela só existe em português, mas não é verdade. Tem também espanhol e é engraçado porque não sabemos se a palavra é a mesma.
Em meio a poemas mais extensos, a exemplo das múltiplas interpretações para o significado da palavra sobre a qual se está falando, como em Mulher, alguns são extremamente curtos. É o caso de Branco: “Adjetivo ou substantivo talvez próprio, talvez comum. P. ex., esta página sem isto”. Em Amor, ela diz: “Substantivo masculino, mas de todos os gêneros, singular. Acalmar os ânimos. Arrefecer / Velocidade de cruzeiro / Sujeito a derivações, desvirtuações, vícios e fim / Ver Paixão”, enquanto em Paixão, os versos são: “Substantivo feminino regular.
INSUFICIÊNCIA
O conceito das imprecisões não fica apenas nos textos. O projeto gráfico traz ilustrações de Wallison Gontijo, publicadas em papel vegetal, sobre alguns poemas. “Uma das características do livro é assumir a insuficiência das palavras. Levamos isso para os outros aspectos do livro. O Wallison fez as ilustrações e escolhemos aquelas com traço mais borrado, menos preciso”, observa a escritora. Além disso, outros detalhes, como a ausência de uma orelha na capa. Na quarta capa, há um poema publicado que propõe justamente a explicação imprecisa sobre esse termo gráfico, em vez de uma síntese do livro, como normalmente é feito. O volume está à venda em Belo Horizonte nas livrarias Quixote, Scriptum e no site www.impressoesdeminas.com.br.
Delícia
Adjetivo
Gostoso e mais. Ao que se diz que é gostoso,
nem sempre se chega à delícia.
Presume-se mais aproximado ao erótico.
Delícia é restrito a certos gostos poderosos
e aos amores de início.
Dicionário de imprecisões
. Editora Leme
.
. R$ 35
. www.impressoes deminas.com.br