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Festival de artes cênicas promete tomar as ruas de Tiradentes neste fim de semana

Italiano, de arena ou em estilo elisabetano. As opções de palco de um teatro convencional costumam ser essas. Mas podem ir além. Foi esse o mote da gestora cultural Aline Garcia quando idealizou, em 2013, um festival em que as praças, as ruas e os museus de Tiradentes se tornaram cenários. “A gente coloca a cidade literalmente em cena. É uma experiência única porque há uma interação maior justamente pelo público não estar numa caixa-preta convencional”, explica.

A sétima edição da Mostra de Artes Cênicas Tiradentes em Cena, de 18 a 25 de maio, tem como tema a alegria. A ideia, porém, não é apenas divertir, mas também provocar a reflexão. “Essa temática foi escolhida no ano passado ainda, logo que acabou o festival de 2018.
É claro que queremos fazer rir, alegrar, mas ainda queremos essa pegada reflexiva, de fazer pensar. Isso é importante, ainda mais no momento atual da cultura, com poucos investimentos”, defende. A programação traz produções teatrais dos mais variados gêneros, além de música, dança, exposição, lançamentos de livro, oficinas, intercâmbios e rodas de conversas.

A homenageada de 2019 é a atriz e bailarina romena Dorothy Lenner, de 87 anos, que adotou a cidade histórica mineira em 1980, após uma visita. Nascida em Bucareste, ainda criança Dorothy precisou se refugiar em Buenos Aires após o avanço da Alemanha hitlerista, em 1940. Usou seu conhecimento em dança a partir do aprendizado na Argentina e ingressou na Escola de Artes Dramáticas em São Paulo, onde participou ao lado de Ruth Escobar de montagens que marcaram toda uma geração durante a ditadura militar. Em 1977, após voltar da Índia, conheceu Takao Kusuno, um dos precursores do butô (dança que surgiu no Japão pós-guerra e ganhou o mundo na década de 1970). “Ela tem uma trajetória pessoal e profissional que impressionam.
Dorothy escolheu nossa terra não só para viver, mas para desenvolver trabalhos artísticos e sociais. É uma tradição da nossa mostra prestar tributos a figuras não só por suas carreiras, mas pela representatividade. Foi assim com Bibi Ferreira, Nathalia Timberg e Zezé Motta, também homenageadas”, destaca Aline.

Para celebrar a obra da artista europeia, uma exposição vai recontar um pouco de sua história. Dorothy Lenner – Memórias, sob curadoria de Hideki Matsuka, ficará aberta durante todo o evento e ainda traz projeções inéditas do fotógrafo russo Serguei Maksimishin, que se encantou e acompanhou Dorothy em Tiradentes por alguns dias, quando esteve com ela em outro evento na cidade, o Festival Arte Vertentes. “Acho importante para o próprio tiradentino e para quem mora ou visita a cidade conhecer um pouco sobre ela. E Dorothy tem uma trajetória de resistência e sempre imprimiu alegria no seu jeito de ser e de trabalhar. Tem tudo a ver com a proposta do Tiradentes em cena”, acredita a curadora.

A homenageada criou um espetáculo especialmente para o evento. Samaúma – O espírito sagrado da floresta, será apresentado neste sábado (18), no Museu da Liturgia.
Com ela em cena, a montagem celebra a natureza, os conhecimentos indígenas e nossa ancestralidade. Dorothy representa a Grande Mãe Terra, que ensina às crianças os valores e os saberes de respeito à natureza e ao sagrado. Outro destaque desse primeiro fim de semana é Acorda Amor, com a atriz e palhaça Florência Santángelo (RJ), e o espetáculo de rua O circo a céu aberto, de Fabiano Freitas, também do Rio. Já no dia 25, quem estará no festival é a atriz, diretora e professora de artes cênicas Monah Delacy. Mineira de Belo Horizonte, ela vai participar de bate-papo com o público para falar dos seus 90 anos de vida e 71 de carreira e também lançar lançamento do livro “Introdução ao Teatro”.

BATALHA Aline Garcia ressalta a luta para levar adiante e manter o festival, mesmo tendo perdido algumas parcerias importantes, como a Cemig. “Sem querer desmerecer os outros eventos que ocorrem aqui, que são maravilhosos e movimentam a cidade, mas o nosso começou de dentro pra fora, foi criado por uma pessoa daqui e faz questão de ter essa interação e trazer benefícios para a população de Tiradentes. Todo o festival movimenta uma cadeia produtiva impressionante, daí a importância de contar com apoiadores”, frisa. Em 2019, a Mostra de Artes Cênicas Tiradentes em Cena conta com a parceria cultural do Sesc em Minas e Sesi Fiemg. A grande maioria dos espetáculos é gratuita. Só os realizados em espaços fechados têm entrada a R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia para estudantes, idosos e moradores locais).
“Desde o ano passado, criamos uma campanha que valoriza o artista, para incentivar o público a pagar pelo produto cultural. Mas quase tudo é de graça porque acontece na rua”, pontua.


Tiradentes em Cena
De 18 a 25 de maio. Programação completa:
www.tiradentesemcena.com.br.