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Com propostas distintas, mostras exploram a representatividade humana

Reacender a memória. É o que propõem as mostras individuais Histórias revisitadas e Intermédios, das artistas plásticas Rosana Paulino e Maria Fernanda Lucena. As duas exposições entram em cartaz na dotArt Galeria de Arte. Rosana, paulista, fez recentemente mostras na Pinacoteca de São Paulo e no Museu de Arte do Rio de Janeiro. Aborda feminismo, ativismo negro e políticas sociais. Maria Fernanda Lucena, carioca, terá sua primeira individual em Minas. “Busco uma memória do futuro”, provoca.

Em Histórias revisitadas, Rosana mostra, em 27 trabalhos, que muitas vezes é preciso olhar o passado ancestral para construir o que virá. Suas obras trazem a mescla de algumas técnicas, se apresentando como escultura-objeto, escultura-gravura, fotografia-pintura e instalações.
Ela é bacharel em gravura e doutora em artes visuais pela USP, além de especialista em gravura pelo London Print Studio. Em 2014, foi agraciada para residência no Bellagio Center, da Fundação Rockefeller, em Bellagio, Itália.

“Meus trabalhos têm foco principal na posição da mulher negra na sociedade brasileira e os diversos tipos de violência sofridos por esta população decorrente do racismo e das marcas deixadas pela escravidão”, detalha. “No Brasil, o problema maior é o racismo institucional. Isto torna a questão ainda mais grave, pois bastam alguns dados do IBGE para vermos coisas gritantes. Se pegarmos o caso do músico morto no Rio Janeiro, é indignante. Como uma sociedade aceita que um pai de família morra com seu carro levando mais de 200 tiros?”, critica, citando o episódio em que militares do Exército mataram um homem no Rio de Janeiro, em abril.

Para Rosana, o tratamento direcionado à população negra é discriminatório. “Moro em São Paulo e a polícia de lá sabe muito bem o que é o negro, que sofre tratamento diferenciado.
Não dá para se ter uma ilusão quanto a essa questão. Não podemos levar essa realidade para baixo do tapete”, defende, apontando suposta letargia diante do problema. “Não é possível que tenhamos uma sociedade, nesta etapa da civilização, que ainda funcione desta maneira”, afirma a artista visual, educadora e também curadora.

Já Maria Fernanda diz buscar “uma memória do futuro” por meio das histórias contadas em suas pinturas. “A mostra traz trabalhos mais antigos, desde gravuras da época em que estava em Londres até a produção atual. Há também coisas feitas no início deste ano, ou seja, um apanhado de uma fase mais antiga e atual”, explica.

As narrativas propostas em suas 17 obras em exposição refletem realidade e ficção ao apresentar um alguém, um lugar, um objeto e ela mesma. “Para esta exposição busquei juntar pessoas e objetos de tempos e lugares distintos em uma só imagem, promovendo encontros inusitados. Como, por exemplo, o trabalho Casa amarela, que retrata uma mulher nos anos 70, em um bairro de Recife, ao lado de outra, em um jardim na Toscana, em 2018.”

“Para mim, a memória é como uma ilha de edição, na qual fragmentos de imagens se juntam para formar um só bloco, no qual encontros, inevitavelmente, acontecem”, interpreta Maria Fernanda. Ela revela uma peculiaridade: “Nunca pinto em tela e, sim, em tudo o que se possa imaginar.
Vou buscando objetos e imagens que me interessam, mas apenas de 1968 para cá”, conta a artista, citando o ano em que nasceu.

Essa seria uma representação simbólica da história de sua vida. “Nesta exposição, trabalho muito com o ambiente de casa. Para se ter uma ideia, coleto estofarias, retiro os tecidos e os lavo. A partir daí, vou pegando os retalhos e fazendo bases. Nesta mostra, trabalho muito a partir de madeiras, mas como se fossem telas de pintura. Em cima delas coloco fotos e miniaturas de relógios, entre outros objetos, enfim, coisas que representam a minha memória e vou pintando em cima, como se fosse uma tela.”

Ela se interessa em juntar o tempo e pessoas diferentes, transformando-os em coisa única. “Por exemplo, pego uma pessoa que está numa sala de estar da casa dela em outro tempo e a coloco com outras, falando ao telefone, como se fosse hoje. A ideia é não ter barreira, pois as pessoas podem estar juntas”, explica a pintora.

Maria Fernanda tem formação em indumentária e design de moda, além de diversos cursos da Escola de Áudio Visual (EAV) no Parque Lage, no Rio de Janeiro. “Meus trabalhos são caixas de lembranças, relicário de um tempo da vida que alguém viveu”, define.

EXPOSIÇÕES HISTÓRIAS REVISITADAS E INTERMÉDIOS

De quinta-feira (16), até 6 de julho, na dotART Galeria de Arte. Rua Bernardo Guimarães, 911, Funcionários, (31) 3261-3910.
De segunda a sexta, de 10h às 19h, sábado, de 10h às 13h. Entrada gratuita..