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Filósofa Sônia Viegas, que morreu aos 45, ganha biografia escrita por ex-aluna

No oitavo andar do antigo prédio da Fafich-UFMG, na Rua Carangola, Santo Antônio, as aulas de filosofia de Sônia Viegas eram disputadíssimas. Quem não chegasse cedo corria o risco de não encontrar uma carteira disponível. Muitos de seus alunos se tornaram, mais tarde, amigos.

 
“Sua presença, seu modo de dar aula, sua sensibilidade para apreender grandes temas da cultura e grandes questões humanas, de suscitar em nós reflexões, arrastando com ela o seu fluxo de pensamento, eram incríveis. Eu nunca tinha tido a experiência de elaborar um pensamento a partir do diálogo”, relembra Miriam Peixoto, que hoje é professora do Departamento de Filosofia da mesma universidade.

Sônia Viegas (1944-1989) morreu cedo, aos 45 anos, vítima de câncer. Miriam conviveu pouco tempo com ela. Fez parte de sua última turma na Fafich, onde Sônia deu aulas por 22 anos. Em razão do pouco tempo de convivência, foi com receio que a professora recebeu a missão de biografar a filósofa para a série Beagá Perfis. “Achei que as pessoas poderiam considerar meu olhar insuficiente para apresentar a Sônia em sua riqueza.
Mas acabei compreendendo também que cada olhar é um”, afirma a autora, que lança nesta sexta (29) Sônia Viegas – Uma pensadora da cultura (editora Conceito). O lançamento será no BDMG Cultural, que também nesta semana abre exposição dedicada à obra de Henfil.

O perfil biográfico de Sônia Viegas vem a público 30 anos após a morte daquela que é considerada uma das maiores inteligências filosóficas de Minas Gerais. A obra vem ainda complementar sua produção bibliográfica, compilada nos três volumes de Sônia Viegas – Escritos (2009).

ESCOLA “A partir desses escritos, pude retratar a trajetória dela, como também seu percurso intelectual, como foi gestado ao longo do tempo. Ela era uma figura ímpar, pois tinha a capacidade de infundir nas pessoas o desejo de pensar. Esses escritos constituíram o ponto de partida para traçar o perfil. Ainda levei em conta minha experiência pessoal no contato com ela, seja na sala de aula, mas sobretudo num outro espaço, que foi muito importante, as sessões do Cinema Cometado, que ela fez no então Savassi Cineclube. Aquela foi uma verdadeira escola de percepção”, conta Miriam.
As duas filhas de Sônia, Ângela e Mônica Viegas, foram “fundamentais” para o livro, de acordo com a autora.
“Se não fosse por elas e para elas, eu não teria me lançado na aventura que foi a escrita do livro. Ele é fruto do desejo que elas têm de proporcionar às pessoas um material que sirva para reencontrar a Sônia no cotidiano e, para quem não a conheceu, a oportunidade de conviver com seu legado.”

O acervo da pensadora ainda traz um material de seus cursos gravados, que, transpostos recentemente para o formato digital, deverão ser, no futuro, editados. Para Miriam, há aspectos na personalidade de Sônia que a fizeram única. “Sua sensibilidade. Tenho a impressão de que a Sônia era um ser extremamente histriônico, incapaz de não reagir ao menor estímulo que fosse: uma pergunta, uma dúvida, uma experiência existencial, a escuta de uma música”, comenta a professora.

Outra característica da professora que é sempre lembrada era sua capacidade de envolvimento. “Qualquer tipo de pessoa. Uma dona de casa, um comerciante, uma pessoa que ia assisti-la no Cinema Comentado. Através do contato com a Sônia, qualquer um era capaz de se lançar na aventura da filosofia.” Na opinião de Miriam, Sônia exerceu, acima de tudo, a função de mediadora “entre o ser humano e ele mesmo”.
“Suas aulas não eram expositivas. Ela lançava um problema e provocava as pessoas, que, imediatamente, aderiam, entravam em diálogo com ela.”

SÔNIA VIEGAS, A PENSADORA DA CULTURA
Lançamento do livro sobre a filósofa escrito por Miriam Peixoto. Nesta sexta (29), às 19h30, no BDMG Cultural–Rua Bernardo Guimarães, 1.600, Lourdes. Preço da obra: R$ 32.


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