Jorge Amado (1912-2001) é o terceiro autor da língua portuguesa mais traduzido no mundo – o segundo, se formos falar de escritores brasileiros. Perde para Paulo Coelho, o primeiro colocado, mas ganha de Clarice Lispector e Machado de Assis. Em levantamento do Index Translationum, lista de traduções de obras literárias organizada pela Unesco desde 1932, existem 421 livros traduzidos do escritor baiano mundo afora.
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Joselia, baiana como Amado, levou sete anos para concluir a biografia. “Um dos fatores pelos quais coloco Jorge Amado com um dos autores mais difíceis para biografar é que ele nasceu no começo do século passado, viveu muito e em vários lugares, e produziu muito.
FITAS “E quando o livro estava pronto para ir para a gráfica, aconteceu uma coisa ótima. Eu estava atrás do Thomas Colchie (agente literário e tradutor norte-americano), que, durante os anos 1990, tinha tentado fazer uma biografia do Jorge Amado. Ele tinha feito várias entrevistas com amigos que já haviam morrido quando comecei a fazer o livro”, conta Joselia. Pois, aos 45 do segundo tempo, Colchie respondeu à jornalista, liberando o acesso às fitas com entrevistas, que estavam sob a guarda de uma biblioteca de Princeton.
A biografia de Joselia traz alguns trunfos. A autora revelou a existência de um romance inédito, Rui Barbosa nº 2 (1932), que “diziam que ele tinha jogado fora porque não achava bom”. A jornalista foi encontrar o manuscrito no acervo da Fundação Casa de Jorge Amado.
O trabalho de fôlego da pesquisadora também trouxe luz a um documento familiar. Antes de Zélia Gattai (1916-2008), Amado foi casado, nos anos 1930, com Matilde Garcia Rosa. O casal teve uma filha, Eulália Dalila Amado. Nascida em 1935, a primogênita morreu aos 14 anos. A menina deixou um diário, que está sob a guarda de Paloma Amado, a caçula do escritor com Zélia Gattai. “Ela me disse que nunca tinha tido coragem de ler”, conta Joselia. O documento, segundo a autora, foi muito importante, já que o período do casamento do escritor com Matilde foi uma das dificuldades que ela teve para recuperar na biografia.
Jorge Amado estreou na literatura com o romance O país do carnaval (1931), publicado quando ele tinha 20 anos. “Quando ele começa, é visto como um jovem autor muito promissor, tanto que é publicado pela José Olympio.
PRISÕES A ligação do escritor com o Partido Comunista – Amado foi eleito deputado federal pelo PCB em 1946 – influenciou diretamente sua obra. O escritor foi preso algumas vezes, a primeira delas em 1936. Quando o PCB entrou na ilegalidade, em 1948, ele se exilou em Paris – também passou períodos exilado na Argentina, Uruguai, Repúblico Tcheca e ex-URSS. “Ao retornar, ele lança Os subterrâneos da liberdade (1954), considero politicamente complicado. Este é o livro que deveria marcar sua derrocada final. Há inclusive uma crítica de Oswald de Andrade dizendo que, ao procurar o grande lírico que havia conhecido quando jovem, não havia conseguido encontrar no livro”, conta Joselia.
O romance, dividido em três volumes, antecede o grande livro de Amado, Gabriela, cravo e canela (1958). “Ao se afastar do stalinismo, ele começa a se abrir e pensar em uma literatura mais complexa, mas que não deixa de ser de esquerda.” Gabriela é bem recebido pela crítica – “ainda que a mais conservadora não goste por trazer palavrão, sexo e retratar pessoas que não são ilustres” – e marca, na opinião de Joselia, o início do estilo amadiano. “Ele passa a trabalhar bastante o texto, introduz o humor e o riso e sua obra passa a ter uma voz autoral.”
Dois anos após seu lançamento, Gabriela ganha a primeira adaptação televisiva – uma novela, em 1960, para a TV Tupi. Além dessa, uma série de outras obras vão ganhar, a partir de então, adaptações para TV, cinema e artes cênicas.
E Gabriela, por fim, ainda mostra o reencontro do autor com a Bahia – a partir dos anos 1960, Amado volta a residir no estado em que nasceu. “Nesta fase de redescoberta da Bahia, ele passa a ter a voz autoral do narrador baiano.” São dessa fase alguns de seus romances mais conhecidos, como Dona Flor e seus maridos (1966), Teresa Batista cansada de guerra (1972) e Tieta do agreste (1977), todos com protagonistas femininas.
Jorge Amado, até o fenômeno Paulo Coelho, iniciado nos anos 1980, era o autor brasileiro mais vendido no país e no exterior. Tieta, por exemplo, foi lançado com 100 mil exemplares. “Você tem autores que conseguem picos de popularidade, como José Mauro de Vasconcelos (de Meu pé de laranja lima), com um único livro. No caso de Jorge Amado, ele sempre foi vendido. E como suas histórias têm emoções, dramas, isso contribui para ele ser levado para as telas. Ele escreveu para um leitor muito próximo”, observa Josélia.
LETRA EM CENA
A jornalista Joselia Aguiar fala sobre a obra de Jorge Amado. Nesta terça (19), às 19h, no Café do Centro Cultural Minas Tênis Clube, Rua da Bahia 2.244, Lourdes. As inscrições, gratuitas, devem ser feitas pelo www.sympla.com.br.
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Jorge Amado – Uma biografia
Josélia Aguiar, Todavia (640 págs.).