As coletâneas Música popular do Nordeste, Música popular do Centro-Oeste e Sudeste, Música popular do Sul e Música popular do Norte, lançadas entre 1973 e 1976, foram feitos marcantes do selo independente paulistano Discos Marcus Pereira, que deixou um precioso legado para a cultura popular brasileira. Mas o que mais chamou a atenção no trabalho desenvolvido pelo bem-sucedido publicitário que se tornou um sonhador produtor artístico, dedicando-se ao resgate de manifestações musicais do Brasil, foi outro lançamento – o do primeiro e histórico LP de Cartola, em 1976. O genial compositor carioca, à época aos 65 anos, trabalhava como lavador de carro, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
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SEBOS A música popular brasileira passou a ser objeto do interesse de Picolatto na adolescência. Com frequência ele visitava os sebos em Curitiba, onde morava, e nesses lugares descobriu, por exemplo, os míticos LPs de Cartola, Donga e Elomar e um livro sobre a história do Jogral, bar de propriedade de Marcus Pereira, frequentado por músicos e cantores.
Durante a graduação em jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina, Picolatto continuou com as pesquisas. Quando, em 2016, se dedicou ao trabalho de conclusão do curso, não teve dúvida em escolher a Discos Marcus Pereira como tema. “Escrevi uma reportagem e, ao apresentá-la, fui incentivado pelos professores da banca a publicá-la”, conta.
O livro reúne seis capítulos. O primeiro conta a história do LP de Cartola. O segundo foca na atuação de Marcus Pereira como publicitário; o terceiro traz a cartografia sonora do Brasil. O quarto capítulo, que cobre o período de 1974 a 1981, destaca os lançamentos do selo. As notícias publicadas em jornais são mostradas no quinto capítulo, enquanto o sexto se dedica ao acervo da gravadora.
“É bom ver um sujeito de vinte e poucos anos, recém-saído da faculdade, entrevistando velhotes para reconstruir a história dolorosa de um fracasso, mas que, antes do fracasso, despertou consciências no Brasil sobre a importância da cultura nativa. A cultura, nas dobras do tempo, aqui ou acolá sofre derrotas fragorosas, porém reage teimosamente, como o povo brasileiro. É ler para crer. Nas páginas deste livro há uma lição de esperança”, diz Aluízio Falcão.