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Fotografia química se mantém relevante no campo das artes visuais



A fotografia digital revolucionou o universo visual na passagem do século 20 para o 21. Além de estar ao alcance de todos, sobretudo em aparelhos celulares, a produção por meio dos bits barateou o processo. Não é mais necessário revelar filmes como antigamente, o que gerava custo e tempo para a disseminação das imagens. No entanto, essa mudança põe em risco conhecimentos e saberes da fotografia de base química, motivo de exposição em cartaz no Centro Cultural UFMG.

A mostra reúne 50 imagens, a maior parte delas realizada a partir de caixas de madeira e com diversos modelos comerciais de antigas câmeras. As cópias foram feitas em cianotipia, papel salgado e com soluções experimentais em nitrato de prata.

Para valorizar formas de produção anteriores à era digital, o grupo de pesquisa Al-Químicos divulga trabalhos que nascem da experimentação de processos de fotografia química.

“A transição para o digital foi igual àquele meteorito que destruiu os dinossauros. Ameaça apagar da face da Terra saberes e fazeres decantados pela fotografia química. A morte atinge tanto o know-how técnico quanto dispositivos sociais e econômicos, como casas comerciais e industriais, além de práticas fotográficas como o álbum familiar”, afirma Adolfo Cifuentes, professor de fotografia da Escola de Belas-Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A mostra Al-Químicos propõe uma reflexão sobre o próprio nome dado à fotografia não digital. Pesquisadores, aliás, rejeitam o termo analógico.

“É um erro usar a palavra analógico para falar de um tipo de suporte usado para salvar a leitura lumínica realizada pelo dispositivo fotográfico”, diz Cifuentes.

A denominação apropriada é fotografia de base química ou fotografia química, em referência ao processo. A fotografia química se baseia no controle das reações, propriedades e respostas fotoquímicas de materiais à luz, especialmente os sais de prata.

O nome do grupo de pesquisa se inspira na alquimia – o termo vem do árabe al-kimiya, que significa “a química”. As experimentações são realizadas no Laboratório de Fotografia de Base Química da Escola de Belas-Artes da UFMG. “Professores, alunos, funcionários técnicos e administrativos, fotógrafos e entusiastas contribuem e compartilham seus saberes”, diz Adolfo Cifuentes.

O professor lembra que processos de fotografia química têm se perdido por não ser comercialmente viáveis. No entanto, tais técnicas são de grande riqueza no campo artístico. “Ao longo de quase dois séculos, o projeto fotográfico desenvolveu centenas de técnicas e processos que, superados na carreira da inovação tecnológica, passaram a ser substituídos, esquecidos ou descartados. No entanto, modos de produção de imagem que deixaram de ser econômicos ou industrialmente rentáveis sobreviveram no campo das artes”, explica Cifuentes.

Exemplo de métodos obsoletos que seguem relevantes para as artes visuais são técnicas da gravura em metal e madeira, por exemplo.
“O campo das artes, menos vulnerável à substituição imediata, uma vez que a técnica perde utilidade comercial, é um ninho de preservação de saberes que acham ali uma segunda sobrevida”, conclui o professor da UFMG.

AL-QUÍMICOS

Sala de Experimentação da Imagem do Centro Cultural UFMG. Avenida Santos Dumont, 174, Centro, (31) 3409-8290. Abre de terça a sexta-feira, das 10h às 21h; sábado e domingo, das 10h às 18h. Entrada franca. Em cartaz até 3 de fevereiro..