O centenário de nascimento de Inimá de Paula (1918-1999) passa por todos os tons da paleta usada pelo mestre das cores ao longo da carreira. Para marcar a data, celebrada em 7 de dezembro, o Museu Inimá de Paula, organizou a exposição Paisagens que aprendi de cor, que destacam duas características fundamentais da obra do pintor: a maneira como as paisagem são retratadas e a riqueza das cores, que o fizeram ser comparado ao francês Henri Matisse (1869-1954).
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ÉPOCAS “Os trabalhos escolhidos, mesmo que em vídeos e fotografias, têm elementos pictóricos”, diz o curador. No projeto expográfico, as obras de Inimá foram montadas ao lado de obras contemporâneas. “Temos uma parede com obra dos anos 1950, acompanhada de pinturas do Desali feitas em 2018. São 70 anos separando a produção dos dois, mas as pinturas, de momentos distintos, lidam com cor e paisagem de maneira muito próxima”, afirma Júlio.
Em seis décadas de produção artística, Inimá pintou intensamente, testando linguagens e formas bem distintas, mas sempre com ênfase nos elementos cromáticos e pictóricos. “São muitas fases.
A produção dos anos 1950 e 1960 foi marcada pela abstração, em que ressalta o aspecto pictórico, e o uso de massas generosas de tinta, exemplificado em Tachismo (1962). Paisagem cubista (dec. 1950) e Os arrozais do Japão (1974) evidenciam a estrutura de composição.
Júlio destaca elemento reincidente nas pinturas de natureza morta de Inimá, caso ilustrado na tela Composição com cajus (1976). “Ele pinta o caju, símbolo da cultura brasileira. É um desafio do modernismo revelar essa identidade brasileira”, afirma. Nos anos de 1960 e 1970, com o endurecimento da ditadura militar no Brasil, o artista, que buscava a beleza e o lirismo, inicia série com tom de denúncia, representada na mostra pela tela Favela (1968). “A série denuncia a exclusão social e a desigualdade. Mas Inimá leva para essa série a sabedoria pictórica sobre paisagens somada a elementos políticos e sociológicos. Ele fala do nosso país, na série que se tornou um de seus trabalhos mais valorizados”, afirma.
VENTO O curador escolheu o trabalho Tempero (2009) de João Castilho – três fotografias da série de sete feitas pelo artista no Salar de Uyuni, na Bolívia. Como se o deserto de sal fosse uma tela em branco, o artista faz intervenção na paisagem com temperos coloridos – açafrão e pimenta.
A artista visual Rosana Ricalde dialoga com Inimá com um trabalho da série Navegantes, imagens que retratam paisagens feitas com areia. Concebido pela artista, a execução foi feita por artesãos em Fortaleza. “Considero que esse trabalho tem algo da escrita na maneira de construção da imagem. O artesão não despeja a areia, faz em linhas e a imagem vai crescendo de baixo para cima”, diz a artista, que tem a escrita como questão central de sua produção. O trabalho traz ainda a referência à temporalidade na construção das imagens, com menção à ampulheta dada pelo grão de areia.
PAISAGENS QUE APRENDI DE COR
Exposição comemorativa dos 100 anos de Inimá de Paula. Museu Inimá de Paula.