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Relato de um drama

Repórter lança livro sobre resgate dos garotos na caverna da Tailândia


O livro Os meninos da caverna só existe porque o Brasil perdeu para a Bélgica nas quartas de final da Copa da Rússia. Tivesse o time de Tite passado dessa fase e o repórter Rodrigo Carvalho teria continuado a cobrir o Mundial. “(A Copa ter acabado para o Brasil) Foi uma sorte para mim”, afirma o correspondente da GloboNews e da TV Globo na Europa, que chega nesta terça (11) a BH para noite de autógrafos do livro, na Leitura do BH Shopping.

Voltando cinco meses no tempo, Carvalho não pôde nem lamentar o ocorrido em 6 de julho. Deixou o país rapidamente rumo a uma cobertura mais importante do que acompanhar o chororô da Seleção Brasileira. Chegou à Tailândia no dia 8 e soube, enquanto aguardava as malas na esteira, que o resgate dos primeiros garotos presos havia 15 dias na caverna de Tham Luang tinha começado.

Além da libertação de três dos 12 adolescentes (além do técnico), teve início, naquele dia, o trabalho de Carvalho, que cobriu para a TV o processo de salvamento. O repórter ficou uma semana na Tailândia. Quando ainda estava lá, foi contatado pela Globo Livros para fazer da cobertura um livro. Ele já tinha experiência no tema, havia lançado pela mesma editora, em 2011, Vivos embaixo da terra, sobre os 33 mineiros presos no Chile.

Ainda que absolutamente diferentes, os dois salvamentos tinham pontos em comum.
Os resgates foram espetaculares, algo inéditos – e a possibilidade de darem errado era grande. As histórias, ocorridas nos confins do planeta, tinham conseguido uma atenção mundial. Para Carvalho, uma diferença era primordial. Vivos embaixo da terra foi publicado um ano após o ocorrido no Atacama. A editora queria publicar o livro-reportagem ambientado na Tailândia ainda em 2018 – seria uma corrida contra o tempo, pois ele teria apenas dois meses para escrevê-lo.

Três semanas depois que o grupo foi resgatado, o repórter voltou para a Tailândia, única e exclusivamente com o propósito de fazer pesquisa e entrevistas. Para além do relato factual, que a imprensa mundial exaustivamente cobriu, Os meninos da caverna busca outros caminhos.

“Meu interesse era entender a origem daqueles meninos, o contexto social. Quatro deles eram apátridas, um, por exemplo, vinha de Mianmar, um país com conflitos religiosos e muita instabilidade.
Queria ver o que levou as famílias para a Tailândia, que naquele contexto é um país mais estável”, diz Carvalho.

O repórter sabia que os meninos não estavam dando entrevistas. Com ajuda do brasileiro Bruno, que vive na região há seis anos e conhece Adul, um dos meninos do time, ele conseguiu acesso aos garotos. “Mas foi um encontro diplomático, em que trouxe mensagens do Brasil e uma lembrança para eles (uma canga). Ainda que não conseguisse as entrevistas, aquilo já valeria até para observação.” Acabou se encontrando com Adul, que é cristão, no culto que ele frequentava – ali, em conversas com o pastor da igreja que o menino integra, pôde se aprofundar na trajetória dele.

O livro contextualiza a história – o primeiro capítulo, Ensaio sobre a agonia, recupera o que o time Javalis Selvagens passou na caverna – com narrativas correlatas. No capítulo A menina do Piauí, conta a história de Duda, uma garota de 8 anos de uma comunidade quilombola do interior de um dos estados mais pobres do Brasil, que escreveu uma carta para os meninos do outro lado do mundo.

Trecho
“Dentro do buraco, os meninos estavam quietos, com frio, e olhavam para a água lamacenta diante deles, como nos nove dias anteriores. De repente, um barulho diferente chamou a atenção do técnico, que pediu silêncio. Na ponta dos pés, um dos meninos chegou mais perto para ver. Era uma luz, que ia ficando cada vez mais forte.
Ansiosos, os treze olhavam fixamente para aquele mesmo ponto. Foi quando dois adultos brancos brotaram da água escura, provocando sorrisos, caras assustadas e uma longa e calorosa sequência de “obrigados”, em tailandês e em inglês. Quando finalmente foram encontrados por mergulhadores britânicos, depois de nove dias, os garotos pareciam filhotinhos de cachorro. Dois carregavam um olhar assustado, de choramingo. Três ou quatro sorriam, meio encantados, como se tivessem acabado de nascer. Vários estavam sentados e com as mãos firmes no chão, tomando cuidado para não escorregar na pedra lisa.”

OS MENINOS
DA CAVERNA


. De Rodrigo Carvalho
. Globo Livros
. 192 páginas
. R$ 39,90

LANÇAMENTO

Noite de autógrafos com o autor nesta terça-feira (11), às 19h, na Leitura do BH Shopping, BR 356, 3.049, Belvedere, (31) 3263-2700..