“Presentear com livros hoje representa não só a valorização de um instrumento fundamental da sociedade para lutar por um mundo mais justo como a sobrevivência de um pequeno editor ou o emprego de um bom funcionário em uma editora de porte maior; representa uma grande ajuda à continuidade de muitas livrarias e um pequeno ato de amor a quem tanto nos deu, desde cedo: o livro.”
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“A venda cresceu em 2018, mas o prejuízo em anos anteriores deixou algumas livrarias endividadas. O panorama prejudica as editoras, principais credoras das grandes lojas, que deixam de receber boa parte de seu faturamento”, explica Marcus Teles, presidente da rede mineira Leitura. A empresa apoia a campanha #VemPraLivraria, que mobiliza lojas e a Associação Nacional de Livrarias (ANL). Nas unidades da Leitura dos shoppings Cidade e Boulevard, o cliente é convidado a declarar seu amor pelos livros em um painel de post-its. No Facebook, é possível aplicar a hashtag na foto de perfil.
Por sua vez, a campanha #LivroDePresente ganhou o apoio de vários escritores. Já a #LivroÉNaLivraria quer atrair leitores para as lojas físicas, diante da concorrência on-line. “Ir à livraria é um ato de lazer, um momento prazeroso para o público infantil.
A criançada, aliás, foi importante para o faturamento em 2018. “Nas últimas duas décadas, com a ‘geração Harry Potter’, houve crescimento contínuo na formação de leitores. Antes, crianças e adolescentes liam apenas obrigados pela escola. Hoje, seguem indicações recebidas pela internet”, analisa Teles. Na seara infantojuvenil, ele destaca dois fenômenos: a série norte-americana Diário de um banana, de Jeff Kinney, e As aventuras na Netoland, do youtuber brasileiro Luccas Neto.
“A área que mais cresceu foi a de não ficção, enquanto os anos anteriores eram puxados pela literatura estrangeira”, observa o dono da Leitura. Poesia que transforma, de Bráulio Bessa – conhecido por suas participações no Encontro com Fátima Bernardes, da TV Globo – , é sucesso de vendas, observa. Publicações de autoajuda, negócios, história e biografias também tiveram destaque nos últimos meses.
O período eleitoral impulsionou a venda de títulos.
DELICADO
“É um momento delicado, de crise das duas maiores redes de livrarias, que representam um percentual expressivo de nossas vendas”, afirma Judith de Almeida, gerente de varejo do grupo editorial Autêntica, criado em BH. A companhia busca oferecer vantagens às lojas revendedoras, realocando parte do que era fornecido à Cultura e à Saraiva.
De acordo com Judith, a crise atinge determinadas empresas, mas não se configura como problema relativo à venda de livros. Do catálogo da Autêntica, ela destaca dois lançamentos que podem agradar no Natal: Um banquete para Hitler, de V. S. Alexander, e o primeiro volume da série Ousadas, que reúne perfis de mulheres revolucionárias quando ainda não se falava de feminismo.
DISPARIDADES
Pequenas livrarias foram afetadas pelos problemas das gigantes do mercado.
Alencar critica a “concorrência desleal” das editoras na internet, oferecendo títulos com descontos de até 40%. “É preciso respeitar a cadeia do livro, que passa por autor, editora, distribuidora e livraria até chegar ao leitor. Ao oferecer descontos em seus sites, as editoras matam esse sistema”, reclama.
A Quixote investe em suas próprias publicações. Em 2018, as principais apostas foram bem-sucedidas. As horas esquecidas, do jornalista mineiro Chico Mendonça, concorreu ao Jabuti. O romance Tudo é rio, de Carla Madeira, foi bem recebido, lembra Alencar.
Maíra Nassif, proprietária da editora mineira Relicário, ressalta a importância do livreiro, profissional negligenciado por grandes redes. “Talvez este seja o momento para uma reflexão necessária.
A dona da Relicário recomenda livros de poesia para este Natal. “É um gênero que tira a linguagem de sua função utilitária e meramente comunicativa e revela o caráter criativo. São leituras que fruem bem e nos fazem desacelerar”, defende.
Contos a R$ 1,99
De olho nos leitores acostumados ao mundo digital, a Amazon se associou às três agentes literárias mais importantes do país para criar uma coleção de contos, que serão vendidos a R$ 1,99. Lúcia Riff, Luciana Villas Boas e Mariana Teixeira Soares trabalharam como curadoras na escolha dos 30 convidados para o projeto. Os contos podem ser adquiridos individualmente ou em forma de antologia com 10 autores, a R$ 9,99. Todos foram publicados por meio do Kindle Direct Publishing (KDP), a plataforma de autopublicação da Amazon, sob o selo da Coleção Identidade . Entre os autores, há jovens talentos – Luiza Mussnich e Giovana Madalosso – e autoras premiadas, como Vanessa Bárbara e Miriam Leitão, vencedoras do Prêmio Jabuti..