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Mutirão mineiro

Grupos artísticos pedem ajuda para viabilizar apresentações e projetos



Grupos mineiros lutam para mobilizar fãs da arte em apoio a projetos que permitam viabilizar apresentações, bolsas de estudo, ações didáticas e atividades voltadas para a revelação de talentos. No fim do ano, campanhas solicitam a contribuição de pessoas físicas, por meio da restituição anual ou do abatimento de 6% do valor pago ao Imposto de Renda. Ancorado na Lei Rouanet – a que artistas recorrem para também obter patrocínio de empresas –, esse mecanismo ajuda a cobrir despesas dos grupos Corpo e Galpão, da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, da Fundação de Educação Artística (FEA) e do Instituto Inhotim, entre outros.

Todos apostam no potencial da adesão de pessoas físicas, embora as contribuições dessa natureza ainda representem tímida fatia dos recursos necessários ao custeio de atividades. Para convencê-las, os grupos oferecem vantagens, além de prestar contas e assegurar o direito de acompanhar a destinação do dinheiro doado. “Criamos um vínculo, a comunicação direta e uma forma diferenciada de nos relacionar com o público. As pessoas têm direito a descontos em nossos ingressos e podem ganhar bolsas de estudo”, informa Chico Pelúcio, ator do Grupo Galpão, diretor-geral do Centro Cultural Galpão Cine Horto.

“O contribuinte de Belo Horizonte, ao doar para o Corpo ou para os demais grupos daqui, adota uma atitude cidadã. É uma forma de alimentar a cultura e a economia da própria cidade. E também a possibilidade de manter aquele dinheiro no local onde se vive, seja para qual projeto for”, defende Claudia Ribeiro, diretora de programação do Corpo.

INCENTIVO Comprometido com a democratização da arte, o Grupo Galpão cobra ingressos a preços populares, além de promover ações financeiramente acessíveis ao público.
Essa proposta implica total dependência de incentivos governamentais. “O que entra de bilheteria é irrisório, até por sermos patrocinados pelo dinheiro público, o que exige valores de ingresso muito abaixo do mercado”, afirma Pelúcio. Setenta por cento da renda do Corpo, segundo Claudia Ribeiro, vem do patrocínio, principalmente das empresas estatais. Os outros 30% são receita própria.

Esta semana, a companhia de dança volta aos palcos de Belo Horizonte com espetáculo a preços populares. De quarta-feira (5) a domingo (9), o Corpo vai reapresentar dois clássicos de seu catálogo: Parabelo, que estreou em 1977, com trilha de Tom Zé e José Miguel Wisnik, e 21, espetáculo de 1992, com música de Uakti e Marco Antônio Guimarães. As sessões ocorrerão no Cine Theatro Brasil Vallourec.

A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais destina as doações de pessoas físicas ao programa educacional voltado para a formação de público. As contribuições financiam a série Concertos para a Juventude, realizada ao ar livre nas manhãs de domingo; concertos didáticos, que levam alunos dos ensinos fundamental e médio para o ambiente da orquestra; o Festival Tinta Fresca e o Laboratório de Regência, que revelam novos talentos da música erudita.

“A partir dessas doações, podemos oferecer concertos gratuitos, além da primeira experiência junto à orquestra para crianças que não frequentam espaços culturais”, afirma Zilka Caribé, diretora de marketing do Instituto Cultural Filarmônica.
Em 2018, o aumento de contribuições dessa natureza permitiu realizar um concerto didático extra.

O Instituto Inhotim, o maior museu a céu aberto da América Latina, localizado em Brumadinho, conta com 750 apoiadores. “Os Amigos do Inhotim se tornam nossos embaixadores, pois, além da doação, ajudam na comunicação e no estímulo às visitas”, diz Malu Gonçalves, coordenadora dos programas de relacionamento do museu.

Para custear bolsas de estudos em 2019, a Fundação de Educação Artística (FEA) também promove a sua campanha de doações, chamada Amigos da FEA. O programa é potencializado por uma série de shows com o intuito de divulgar a iniciativa, a cargo de ex-alunos da instituição. No fim de semana, o grupo Voz & Cia vai se apresentar na Sala Sérgio Magnani.

“Entidade sem fins lucrativos, a Fundação está sempre deficitária. Precisamos de patrocínio para fechar as nossas contas, o que se torna mais difícil em momentos de crise como agora. Por isso, a renda dos shows e as doações de pessoas físicas são tão importantes”, afirma Berenice Menegale, diretora da FEA.

ROUANET Chico Pelúcio diz que há uma campanha contra a Lei Rouanet, alimentada pelo entendimento equivocado sobre ela. “Parte da população acredita que a lei privilegia só os grandes artistas, que não precisam desse incentivo. Isso não é verdade.
Certamente, o mecanismo precisa ser adequado, reformulado e refeito, de alguma maneira. Porém, não se trata de uma lei nefasta. Pelo contrário, se ela for limada, será o fim de uma série de museus e centros culturais, inclusive os pequenos, como o Galpão Cine Horto.”

“Poucos entendem a seriedade que envolve a inscrição de um projeto nas leis de incentivo”, afirma Zilka Caribé, do Instituto Cultural Filarmônica. Ela recorre à Lei Rouanet desde a criação da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, em 2008. “Fomos várias vezes a Brasília discutir pontos, voltamos atrás em alguns tópicos, reformulamos projetos. Isso, além de todo o processo de prestação de contas, em que comprovamos a entrega ao público do que foi elencado na proposta”, explica.

Em 2017, 40% do orçamento do Inhotim veio do patrocínio – estatal e privado. “Nestes tempos de tanta desinformação, nosso trabalho também visa ajudar as pessoas a compreender melhor como funcionam as leis de incentivo à cultura”, afirma Malu Gonçalves. Graças à Lei Rouanet, um terço das visitas ao Instituto tem entrada franca, informa.

PREOCUPAÇÃO A extinção do Ministério da Cultura (MinC), com a criação de uma Secretaria de Cultura vinculada à futura pasta da Cidadania, preocupa os gestores do setor. “Governos costumam ser míopes para o ponto de vista econômico da cultura, em que é tão eficiente a geração de renda. O MinC gera menos despesas do que tantos outros ministérios, não pode ser extinto com uma canetada.
A manutenção da estrutura operacional da cultura, essencial para a consolidação de qualquer país, precisa continuar existindo”, afirma Chico Pelúcio.

Claudia Ribeiro, do Grupo Corpo, diz que tenta se manter otimista. Ela espera a melhora da economia em 2019 e pondera que o cidadão passou a identificar com mais eficiência as fake news reletivas ao setor cultural. “Mudanças de governos federal e estadual são sempre marcadas por mares agitados. Acredito em instituições sólidas e em trabalhos artísticos sérios. Eles costumam vencer em tempos mais difíceis e de apreensão.”

Para Zilka Caribé, os próximos governantes devem examinar com critério o trabalho desenvolvido na área cultural. “Eles precisam se debruçar sobre o nosso histórico, a ação social em que a Filarmônica está envolvida, que não se restringe apenas à Sala Minas Gerais”, afirma, referindo-se a apresentações gratuitas em praças da capital e a concertos realizados no interior do estado.





CAMPANHAS

» Fundação de Educação Artística: feabh.org.br
» Grupo Corpo: amigosdocorpo.com.br
» Grupo Galpão: vivagalpao.com.br
» Inhotim: amigosdoinhotim.com.br
» Orquestra Filarmônica de Minas Gerais: filarmonica.art.br/apoie/amigos-da-filarmonica


VOZ E CIA
Sábado (8) e domingo (9), às 19h. Fundação de Educação Artística. Rua Gonçalves Dias, 320, Funcionários.
R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada).

GRUPO CORPO
Coreografias Parabelo e 21. De quarta-feira (5) a sábado (8), às 20h30; domingo (9), às 19h.
Cine Theatro Brasil Vallourec.
Praça Sete, Centro, (31) 3201-5211. R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). Venda on-line: www.eventim.com.br.