Adriana Versiani dos Anjos é formada em nutrição. Como nutricionista trabalhou por muitos anos em políticas públicas, na área da saúde pública, cuidando (socialmente) dos mais necessitados. Mas além dessa qualidade, ela escreve, e como escreve. Nos seus textos fica evidente que estamos diante de uma poetisa que tem uma compulsão forte para a escrita. É autora de diversas publicações (plaquetes), digamos mais clandestinas, com textos em revistas e jornais e diversas participações em leituras públicas. Aliás, é uma excelente intérprete de poesia. Como se sabe, ler poesia ao vivo é tarefa para poucos. Adriana é um deles.
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No entanto, a poesia da Adriana Versiani parece lutar contra o silêncio, pois quanto mais sua poesia silencia, mais ela parece solicitar um tom alto, um grito para acordar as palavras em estado de dicionário. Essa necessidade vem com a tenacidade que deseja colocar em cada palavra; talvez por isso alguns poemas aparentem uma descontinuidade dado o volume de informações com que a autora, na sua voracidade, rebela e explode a estrutura do poema.
Das três partes: “Chove”, “O professor” e “O hóspede”, o segundo parece que tem um maior impacto quando a autora cria um diálogo imaginário com um professor, um professor que também foi poeta. Estamos diante um único poema de fôlego, mesmo aparentemente dividido em outros, como se as partes fossem sempre se somando num todo. Não deixa de ser curioso que algumas criações advêm de um resultado catártico, porém, em mãos pacientes, forma e sentido se equacionam sem perder a beleza daquele primeiro momento, digamos, intuitivo.
A poesia dessa poetisa de alta voltagem parece estar sempre sob esses mistérios da criação poética, dos quais a crítica às vezes consegue chegar perto para uma avaliação mais criteriosa. A experiência da perda nunca se completa e sempre faltará algo que possa fechá-la. Em “Chove”, primeira parte do livro, não é o passado que se busca, mas um constante presente, e de maneira contínua, pois a perda parece nunca terminar, sentimento expresso em Tarja preta, A caixa, Na sequência da dor, e no belo e doloroso O que restou da noite”.
Há também as personas (Jandira, Guiomar, Ângela) criadas para quem sabe diminuir as dores do Diário de A, poema que remete a outra persona da poetisa. Independentemente dessas nomeações, de tentar se colocar em condições menos trágicas, todos esses poemas confirmam a maturidade da escritora. E não só, pois diante desse processo vertiginoso, Adriana ainda emplaca a plaquete Farmacopeuma, como se aqui as doses de remédios cavalares fossem uma tentativa de se curar pela poesia. O dilema será sempre até quando conseguirá remediar o fluxo dessa escrita marcada pela dor? O tempo da poesia é duradouro.
ARQUEOLOGIA DA CALÇADA E FARMACOPEUMA
• De Adriana Versiani dos Anjos
• 2 Linhas Editora
• 72 páginas
• R$ 40
LANÇAMENTO
Hoje, das 11h30 às 15h30, no Terra Boa Paisagismo (Av. Paulo Camilo Pena, 432, Belvedere)..