Quem é de Belo Horizonte sabe que o Mercado Central é mais que um centro comercial. Além de cartão- postal, é ponto de encontro e destino imperdível para o turista que quer conhecer não só os sabores, mas também um pouco do jeito de viver do belo-horizontino. Funcionando entre as avenidas Amazonas e Augusto de Lima desde 1929, o espaço é personagem importante da cidade, digno de ser “biografado” pela filósofa pernambucana Maria de Lourdes Caldas. A autora lança hoje o último volume da série Matéria da memória – A cidade e seus símbolos, que já teve como tema o Palácio da Liberdade, a Praça da Liberdade e o Cemitério do Bonfim.
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Percussionista Evelyn Glennie se apresenta com a Orquestra Filarmônica Raul Moreira lança Eu, Gregório, em que o narrador é um gato sábio e sedutorAnitta revela já ter feito sexo a três: 'Mais de uma vez'“Os mercados são um espaço de troca, muito mais do que mercadorias, mas de notícias e ideias. Há um contato entre rural e urbano, é um local de encontro”, diz a autora, citando como referência principal para o trabalho o historiador estadunidense Lewis Mumford.
“Há um acolhimento, uma conexão afetiva muito grande dos compradores, que são também curtidores do mercado. Pessoas gostam de ir lá para tomar café, passear, olhar. Um dos capítulos, inclusive, é sobre o olhar”, argumenta Maria de Lourdes. Parte da publicação é dedicada a aspectos subjetivos que colocam o local como símbolo da cidade. “Um dos meus objetos é tornar visíveis os aspectos invisíveis da cidade”. Em suas reflexões, ela pondera, por exemplo, sobre a ausência de espelhos nos corredores. Segundo a escritora, “diferentemente dos atuais shopping centers, onde os espelhos estão por toda parte, no mercado não há esse constrangimento com o próprio corpo, ou essa preocupação com o vestuário imposta”.
As páginas são ilustradas por aquarelas de Bernardo Gouveia e um ensaio fotográfico, de Chico Gouveia, com registros de décadas passadas.
A história do prédio que hoje abriga o Mercado Central também é descrita, em um resgate histórico feito na narrativa, desde antes de ele ser instalado onde está atualmente. A autora conta sobre a época em que essa estrutura comercial funcionava onde atualmente está a rodoviária, em dimensões bem menores. O espaço era considerado acanhado pelo governo municipal da época e foi transferido para a região da Augusto de Lima, onde antes havia o campo de futebol do América. Maria de Lourdes mostra como a grande feira aberta sediada ali se estruturou para ser primeiramente murada, o que “ocasionava um grande piscinão”, e posteriormente coberta, até tomar a forma que vemos hoje. “Do ponto de vista estético, nenhuma maravilha, mas salvou o mercado, protegendo os comerciantes”, pontua a pesquisadora a respeito da arquitetura do local.
Segundo a escritora, esse processo teve grande envolvimento dos próprios feirantes, que lideraram um movimento contra a privatização do mercado, tomando as rédeas da administração e viabilizando a operação. O texto lembra de personagens importantes nesse processo, como Olímpio Marteleto, ex-presidente do mercado, falecido em 2010, e reúne também registros jornalísticos do passado, que ajudam a reconstruir essa história.
MERCADO COMO
SÍMBOLO DA CIDADE
• De Maria de Lourdes Caldas Gouveia
• Capa e ilustrações de Bernardo Gouveia
• Fotos de Chico Gouveia
• Produção editorial Karmim
• 108 páginas
• R$ 50
Lançamento:
Hoje, às 19h30, na Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1.466, Lourdes, (31) 3222-5764).