Há 23 anos, o guitarrista e cantor dos Titãs Tony Bellotto lançava seu primeiro romance, 'Bellini e a Esfinge', em 1995, que virou filme e gerou mais três livros - 'Bellini e o Demônio', de 1997, 'Bellini e os Espíritos', 2005 e 'Bellini e o Labirinto', de 2014 - que concretizaram um de seus sonhos de adolescência: virar um romancista. O outro, claro, era virar músico.
"Lá em casa, tinha uma biblioteca com muitos livros, já que meu pai era historiador e minha mãe arquivista. Como pensava em ser guitarrista e escritor, passei a ler tudo que encontrava na biblioteca de casa, inclusive Ulisses, de James Joyce, que não entendi nada (risos). Mas outras coisas me marcaram muito, como os contistas dos anos 1970, como Rubem Fonseca, Dalton Trevisan e Sérgio Sant'Anna."
Na entrevista que deu ao jornal O Estado de S. Paulo por telefone, Bellotto fala sobre seu novo romance, o nono da carreira, 'Lô', lançado pela Companhia das Letras.
Em 'Lô', ele subverte a conhecida história de Lolita, do escritor russo Vladimir Nabokov, e coloca o personagem Lourenço Barclay, o Lô - um homem de 50 anos, que cultua exercícios físicos, budismo e alimentação natural -, como objeto de desejo de uma jovem de 15 anos, Juliana, a Ju, namorada do seu filho.
O autor fala que sua mulher, mãe de dois dos seus três filhos, a atriz Malu Mader, é sua primeira leitora e lembra que seu romance 'Os Insones' revoltou alguns pais em uma escola no interior de Minas Gerais, que o consideraram indecente. E adianta que seu personagem mais famoso, Bellini, vai voltar em breve em um novo livro, mas antes lança 'Coração Oculto', baseado numa história real, a de Pedro Dom, um rapaz de classe média que entrou no mundo do crime e morreu em tiroteio na Lagoa, no Rio, nos anos 2000. O livro será lançado em 2019 e deve virar série de TV, dirigida pelo cineasta Breno Silveira.
Fale um pouco do processo de construção do livro.
Levei três anos para terminá-lo.
O personagem Lô está na mesma faixa etária que você. Há alguma semelhança entre vocês dois?
Não sou exatamente Lô. Até tentei fugir dessa linha.
Como você define Lô?
É um olhar irônico sobre certos conceitos acabados que temos do mundo.
Quando lançou seu primeiro livro, Bellini e a Esfinge, você tinha 33 anos. Agora, lança seu nono romance, Lô, quase aos 60. De que maneira o tempo ajudou a maturar sua escrita e sua visão de mundo?
O envelhecimento é motivador da literatura.
Teve problema com a censura em algum de seus livros?
Há alguns anos, tive um problema com Os Insones, adotado numa escola do interior de Minas Gerais. Há um momento do livro que um traficante colombiano preso no Rio começa a lembrar o relacionamento que tinha com uma prostituta muito jovem em seu país. Alguns pais reclamaram sobre esse trecho do romance com os professores e o caso virou denúncia. Tive de explicar essa passagem do livro na escola.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..