O goiano Siron Franco foi revelado na 12ª Bienal Nacional de São Paulo, em 1974, quando tinha 28 anos. Cinco décadas depois, está entre os mais importantes nomes da pintura brasileira. Essa trajetória é resgatada na exposição individual Siron, Franco, que será aberta na quarta-feira (14), na Galeria Arlinda Corrêa Lima do Palácio das Artes.
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Mago dos quadrinhos, Stan Lee deixa uma legião de admiradoresConfira as razões de quem ama ou odeia o filme sobre o Queen e Freddie Mercury Safra de documentários sobre estrelas da MPB chega às telas em 2019Nos anos 1970 e 1980, Siron Franco transitou pelo realismo fantástico, trazendo para sua pintura imagens que remetiam a outros campos artísticos, como a literatura. “Era o clima daquela época, com a produção de Gabriel García Márquez (1927-2014) e Julio Cortázar (1914-1984). Como foi período de ditadura, a arte fantástica era usada para driblar a censura”, afirma ele.
Apesar de ter se dedicado ao realismo fantástico no início de carreira, o pintor não se fecha em nenhum movimento. Ao contrário, faz questão de se renovar, dialogando com outras propostas.
WORKAHOLIC Aos 71 anos, Siron Franco não deixa de trabalhar nem um dia sequer. Está sempre presente em seu ateliê. Artista plural, dedica-se à pintura, escultura, instalação e performance. “Sempre me interessei pelas questões humanas e psicológicas, essa coisa louca que é a sociedade. O mundo contemporâneo é, ao mesmo tempo, paraíso e inferno. No Brasil, de um lado da rua está o inferno; do outro, o paraíso, que fica cada vez menor”, diz. O goiano não segue partidos políticos, embora não deixe de se posicionar em relação a causas sociais.
Obras dele denunciaram a morte prematura de recém-nascidos, em 1992, o preconceito aos portadores do HIV e da Aids, e o acidente radiológico ocorrido em Goiânia, em 1987, em que centenas de pessoas foram contaminadas por radiações emitidas por uma cápsula com césio-137.
Sua arte também protestou contra a destruição do meio ambiente e a matança de animais.
O curador da mostra é Augusto Nunes-Filho, presidente da Fundação Clóvis Salgado (FCS). “A maioria dos quadros é de colecionadores, grande parte deles mineiros e paulistas. O foco é a produção dos anos 1970 e 1980, mas não ficamos restritos a essas décadas”, explica.
DITADURA Siron é um dos criadores que resistiram à ditadura militar. “Ele pintou seres estranhíssimos, antropomórficos, como uma forma de denúncia cruel e sutil. Também tem quadros mais leves, com entrada pelo viés da ecologia. São Francisco, rodeado de animais, foi pintado também. E há uma série de retratos”, informa Augusto Nunes-Filho.
O curador destaca a formação autodidata de Siron, que se manteve fiel à pintura mesmo no período em que diziam que ela havia “morrido”, superada por outras linguagens.
“A qualidade técnica da pintura dele é impressionante. Nunca tinha visto tanto Siron junto.
No fim década de 1980, quando muitos artistas migraram para outras linguagens, Siron se manteve fiel à pintura. “Ele não embarcou no modismo das instalações, abstratos e performances, apesar de fazer muito bem performance e instalação. Ficou identificado como excelente pintor”, diz o curador.
GOIÂNIA Siron Franco passou a infância e a adolescência em Goiânia. As primeiras orientações em pintura vieram de D. J. Oliveira e Cleber Gouveia. No início, pintava retratos para vender. A partir de 1965, dedicou-se ao desenho.
Quando morou na capital paulista, o artista goiano frequentou os ateliês de Bernardo Cid e Walter Levi. Também integrou o grupo que promoveu a exposição Surrealismo e arte fantástica, na Galeria Seta, em São Paulo.
“Trabalho com tentativa e erro.
SIRON, FRANCO
Abertura na quarta-feira (14), às 19h. Galeria Arlinda Corrêa Lima do Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro. O espaço funciona de terça-feira a sábado, das 9h às 21h,
e aos domingos, das 16h às 21h. Entrada franca. Informações: (31) 3236-7400. Em cartaz até 10 de fevereiro.
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