A Galeria Celma Albuquerque completa 30 anos, projetando artistas mineiros no cenário nacional. Fundado pela colecionadora Celma Albuquerque, que morreu em 2015, o espaço foi o primeiro de Belo Horizonte a abrigar a arte contemporânea, muito antes de Minas Gerais ingressar no circuito mundial com a abertura do Instituto Inhotim, em Brumadinho, em 2006.
“A galeria foi uma aposta que deu certo. As obras que Celma começou a mostrar eram consideradas estranhas naquela época”, relembra o mineiro João Castilho, um dos artistas representados pelo espaço.
A maior parte dos autores representados pela galeria mantém parceria com a casa há mais de 10 anos. João Castilho, por exemplo, tem trabalhos expostos lá desde 2006, quando iniciava sua carreira. “As artes plásticas são menos contempladas por políticas públicas, se comparadas ao teatro, à música e ao cinema. As galerias são as nossas principais parceiras. Não apenas no sentido comercial, mas como espaço onde podemos mostrar nossa produção com alguma regularidade.
Castilho lembra que o fortalecimento das galerias brasileiras dedicadas à arte contemporânea se deu nos últimos 20 anos. “Celma Albuquerque coloca a capital mineira no circuito nacional”, observa. A empresa também expõe obras de seus artistas em várias feiras de arte, que se tornaram espaço primordial para a circulação de trabalhos. Esses eventos ocorrem em São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Nova York e Londres, entre outras metrópoles.
“Celma levou meus trabalhos para várias feiras importantes”, comenta João. Obras dele foram expostas na Art Basel, realizada na Suíça, um dos eventos mais importantes do circuito internacional.
EM FAMÍLIA
Há 18 anos, o espaço belo-horizontino é administrado pelos irmãos Lúcio e Flávia Albuquerque. Os dois assumiram a galeria quando a mãe passou por um momentos difíceis, depois de perder uma filha e o marido.
“Não pude conhecer a Celma. Há 10 anos trabalho com o Lúcio e a Flávia, pessoas de sensibilidade enorme.
Motta observa que os recursos para as artes visuais provenientes de editais públicos foram se reduzindo gradativamente. De acordo com João Castilho, museus deveriam investir na aquisição de obras de arte. “O ideal seria que nossas instituições museológicas tivessem dinheiro para formar acervos, mas elas não têm. É raro o artista conseguir vender um trabalho para museu”, pondera.
A Pinacoteca de São Paulo comprou duas obras de João Castilho, mas, na maioria das vezes, as coleções são formadas por meio de doações dos próprios autores. “De certa forma, as galerias acabam suprindo o papel que deveria ser do poder público”, constata João.
PARCERIA
Galerias como a Celma Albuquerque desempenham papel importante na exibição, circulação e venda da produção de autores mineiros. Flávia Albuquerque diz que a longevidade do espaço belo-horizontino se deve à qualidade da relação estabelecida com os artistas. “Temos afinidades.
Ao longo das últimas três décadas, foi necessário criar alternativas para lidar com as sucessivas crises econômicas enfrentadas pelo Brasil. “Tenho 50 anos e não me lembro de passar por crise tão pesada como agora”, comenta a galerista. “Tempos atrás, tivemos aquele boom. Todo mundo vendia tudo, todo mundo comprava tudo. Temos trabalhado muito agora, mas de forma mais econômica”, revela.
Outro diferencial da Galeria Celma Albuquerque é a flexibilidade de seu espaço físico, que pode ser mudado para abrigar diferentes propostas. “É um local generoso para abrigar arte contemporânea. Digo generoso não no sentido de dimensão, embora tenhamos cerca de 1,2 mil metros quadrados, mas pela possibilidade de o artista intervir nele. Pode quebrar paredes, construir, tirar parte da frente da galeria”, explica. “Minha mãe foi uma mulher muito forte e decidida. Tinha espírito empreendedor e alma de artista”, diz Flávia Albuquerque.
GALERIA CELMA ALBUQUERQUE
Rua Antônio de Albuquerque, 885, Savassi.