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Fabrício Carpinejar chega a BH com espetáculo 'Poesia de pai pra filho'



Um “interrogatório amoroso” é como o poeta Fabrício Carpinejar, de 46 anos, define Poesia de pai pra filho – O encontro de duas gerações, que ele protagonizará ao lado de seu pai, o escritor gaúcho Carlos Nejar, em única apresentação, gratuita, nesta quarta-feira (7), no Sesc Palladium. Fabrício faz as perguntas, e o pai só pode respondê-las com poemas. A performance marca os 60 anos de carreira literária de Carlos Nejar, e os 20 de seu primogênito.

“Estaremos no palco eu e o pai, interpretando nós mesmos. Despidos de nossos preconceitos e de qualquer vergonha para tentar construir uma intimidade que acaba encontrando eco no público. O papel dos poemas é nos ajudar a comunicar a solidão de cada um. Imbuído de uma curiosidade infantil que é só amor, faço para ele as perguntas que deixei de fazer ao longo da vida, pois estava preocupado demais em cobrar a presença do pai que gostaria de ter. A gente faz isso o tempo todo. Com isso, nos esquecemos de conhecer os pais que temos.
Quem são eles? Será que tiveram um cachorro na infância? Sofriam quando ficavam de castigo? Com o que sonhavam? Esse pode ser um caminho para revelar pessoas bem mais legais do que aquelas que idealizamos”, diz Carpinejar.

Carlos Nejar acredita que o recital alcança ancestralidade maior, que ultrapassa a família com suas questões domésticas. “Traz um lado muito mais alto, o da condição humana. Aquilo que nós geramos, incluindo a literatura, tem paternidade em nós, pois nos ensina, nos guia. É algo maior em nós que nos descobre. Há uma parte de nós que não escreve, é escrita. Não há poeta verdadeiro sem esse sinal, o sinal de descoberta de uma identidade que não é só individual, mas compartilhada”, afirma.

Pai e filho concordam em que a montagem tem efeitos terapêuticos capazes de economizar alguns bons anos de análise. Inclusive, ambos mencionam que o público se beneficia desse aspecto psicológico, pois o roteiro é um convite para que criadores e criaturas se vejam com olhares mais generosos.

BLINDAGEM “Não existe nada mais bonito do que o amor desobrigado.
Da adolescência em diante, a gente passa a fugir dos pais, desenvolve uma espécie de blindagem ao amor deles. Qualquer conselho é censura, a gente não deixa o pai e a mãe terminarem de falar, você deixa de dizer eu te amo. Depois ficamos querendo compensar toda a lacuna criada por esse comportamento com passeios e presentes. Mas a gente precisa, mesmo, é de reeducar os ouvidos, querer saber o que eles estão falando. A gente tem preconceito com os mais velhos por causa da nossa impaciência. A lentidão dos pais não é incompetência, é sabedoria para saborear a vida como se deve”, diz Fabrício.

O escritor garante que Freud nunca foi “chamado” à sua relação com o pai para sanar questões relacionadas à competitividade ou à inveja. Ao menos na seara literária. Aos 79 anos, Carlos Nejar tem o triplo da trajetória do filho nas letras, é membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e da Academia Brasileira de Filosofia, teve convivência com Érico Veríssimo, Mário Quintana, Ferreira Gullar e Carlos Drummond de Andrade – currículo que Carpinejar diz exibir sem fisgadas no ego.

“Olha, quando tinha 7 anos, fui diagnosticado com retardo mental.
Escrever e ler, para mim, já era lucro. E só me tornei quem sou em função da minha mãe, que me ensinou a ler e escrever dentro de casa. E do meu pai, que também parou a vida para se dedicar a mim naquele momento. Então, ser comparado ao meu pai é o de que mais gosto e o que mais quero na vida. Não quero ser melhor do que eles. Quero ser melhor para eles”, diz o filho de Carlos Nejar e da escritora gaúcha Maria Carpi.

POESIA DE PAI PARA FILHO – ENCONTRO DE DUAS GERAÇÕES
Com Fabrício Carpinejar e Carlos Nejar. Nesta quarta-feira (7), às 20h. Grande Teatro do Sesc Palladium. Avenida Augusto de Lima, 420, Centro. Entrada franca, com retirada de ingressos a partir das 18h.
Informações: (31) 3270-8100..