A palavra inglesa slam entrou para o vocabulário dos jovens das periferias brasileiras. O sentido original é bater, mas ela assumiu outros significados ao ser associada à poesia (poetry slam): espaço de protagonismo, competição entre poetas, lugar de apresentação de dilemas do cotidiano das metrópoles, onde ressoam versos de protesto. O Slam Minas foi realizado sábado (3), no Sesc Palladium, reunindo 16 competidores de todo o estado.
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Ensaio reproduz o dia a dia de mulheres que produzem brita e paralelepípedosGloria Maria relembra entrevista com Freddie Mercury na década de 80Pharrell Williams 'presenteia' Anitta com música para novo álbum da cantoraEscritora alerta que, apesar de avanço do movimento, ainda há desinformação sobre o feminismoNovos autores, traduções e editoras pequenas alimentam a efervescência da poesiaTurma da Mônica é readaptada e vira 'Turma do Morro'O primeiro lugar ficou com Piêta Sousa, do Slam Clube da Luta. “Foi incrível, uma experiência transformadora. Foi a realização de um sonho, a reafirmação do meu potencial”, diz Piêta.
Paralelamente à final do Slam Minas, foi realizada a final nacional do Slam Interescolar, com estudantes de Minas, São Paulo e Espírito Santo. As eliminatórias mineiras ocorreram em 40 escolas, em São Paulo foram 50, e no Espírito Santo, 30. O vencedor foi Ícaro Renault.
COLETIVO Gislaine Reis começou a escrever poesia este ano, incentivada por amigos do coletivo Terra Firme (Fark e K-dabra) e do Slam Trincheira (João Victor e Leandro Zere). Ela conquistou a vaga para a disputa como representante do Slam das Manas. Na final, recitou quatro poemas autorais que falam do cotidiano a partir da perspectiva de mulher negra. Foram três rodadas regulamentares e outra necessária para o desempate entre ela e Piêta.
“Minhas poesias tratam do que acontece na periferia. Falo da motivação da mulher negra de continuar na luta”, diz Gislaine.
Os versos da mineira remetem ao feminismo negro, trazem elementos das religiões de matriz africana e denunciam a opressão sofrida por jovens nas periferias. Porém, Gislaine não se limita a temas. Escreve sobre tudo, inclusive amor. “Sou professora de teatro. Há 10 anos estou nessa área. Porém, a sensação de recitar é totalmente diferente.
Idealizador do Clube da Luta, Rogério Coelho destaca que slams são espaços da poesia marginal, por excelência. “É a fala de quem está à margem, nas periferias. Voz de denúncia social, contra a exclusão, contra o racismo, o fascismo, o machismo e a LGBTfobia. A voz da afirmação da identidade de gênero”, diz.
Na competição realizada em BH, o julgamento coube a cinco jurados escolhidos entre o público. A plateia pode se manifestar quando não concorda com a nota do júri. “Quando o público discorda, ele fala credo. As pessoas se movimentam e protestam, mas é um clima bom”, explica Coelho.
O Slam Clube da Luta é pioneiro em Minas. Criado em 2014, é coordenado por Rogério Coelho, do Coletivoz – Sarau de Periferia. Em 2015, João Paiva, do Bairro Olaria, na região do Barreiro, representou o Clube da Luta na Cope du Monde de Poésié, em Paris.
Além do campo artístico, integrantes de slams assumem o papel de formadores de jovens, participando de congressos e palestras em faculdades e escolas..