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Texto teatral A tropa ganha edição em livro

Internado num hospital, o pai recebe a visita de seus quatro filhos. Militar linha dura e atuante durante a ditadura no Brasil (1964/1985), ele entra em conflito com os herdeiros – não necessariamente adeptos de sua ideologia. Com esse cerne, A tropa, texto de Gustavo Pinheiro com direção de César Augusto, foi levado ao teatro por Otávio Augusto, que protagonizou a peça e com ela comemorou 50 anos de carreira. Depois de uma centena de apresentações entre 2016 e 2018 – em BH o espetáculo foi encenado no ano passado – a história ganhou sua edição em livro, pela editora Cobogó.

Grosso modo, o texto pega o famigerado “grupo de WhatsApp da família” e o leva para um quarto de hospital. Assim como em todo círculo familiar, os parentes da peça são bastante diferentes entre si. Humberto é o filho dentista, um militar aposentado que vive com o pai. Artur é o filho casado, pai de duas meninas e que trabalha em uma empreiteira investigada por suspeita de corrupção. Ernesto é um jornalista em crise com a profissão e que acabou de pedir demissão.

Por fim, João Batista, o caçula, é um usuário de drogas com passagens por clínicas de reabilitação.

Primeiro texto dramatúrgico de Gustavo Pinheiro, A tropa foi escrito em 2015. A vida real foi, logicamente, a inspiração do dramaturgo. “Na eleição de 2014, da Dilma e do Aécio, as pessoas já estavam rompendo amizades por questões políticas. A gente acabou vendo o ovo da serpente, já que hoje, quatro anos mais tarde, as coisas estão acontecendo com um poder muito maior. O famoso grupo da família tem hoje um poder destruidor”, diz ele.

  Pinheiro venceu em 2015 o concurso de dramaturgia Seleção Brasil em Cena, do Centro Cultural Banco do Brasil. Quando decidiu levar o texto para o palco, o primeiro nome que lhe veio à cabeça foi Otávio Augusto. “Um ator brilhante, com atuação no teatro político, participou tanto da primeira montagem de O rei da vela (no Teatro Oficina) quanto esteve no início da história do PT.
Seria divertido vê-lo fazendo um general saudosista da ditadura”, relembra o autor.

Pinheiro não conhecia Otávio Augusto. Ligou para ele e perguntou se poderia deixar o texto para ele dar uma olhada. “Dois dias depois, ele me ligou dizendo: ‘Vamos fazer. Este texto precisa ser dito neste momento.’”

Para a edição em livro, A tropa ganhou uma análise da crítica e pesquisadora de teatro Tânia Brandão. “A peça nos apresenta não um panfleto, um retrato de época ou um muro de lamentações, mas uma radiografia inquietante, arrasadora, do fluxo de mando de que somos feitos”, escreveu ela. Já na parte final do livro há uma homenagem a Otávio Augusto. Sete amigos, atores e atrizes – Ana Lúcia Torre e Vera Holtz, entre outros – escrevem sobre o colega.

Para Pinheiro, quanto mais tempo foi passando, mais atual o texto ficou. Acompanhando de perto as apresentações, o dramaturgo afirma dizer que a peça sempre levantou reações da plateia.
“Na última temporada (terminada há três semanas, no Rio), assim que terminavam as sessões, havia gente dizendo ‘Ele não’, ‘Ele nunca’, como também ‘Ele sim’. Não houve nada violento ou grosseiro”, diz.

Depois de A tropa, Pinheiro teve outro texto encenado, Alair, com Edwin Luisi. A montagem é uma homenagem a Alair Gomes (1921-1992), precursor da fotografia homoerótica no Brasil. Já para 2019 ele terá uma comédia levada aos palcos. Antes do ano que vem, monólogo com Mariana Xavier dirigido por Lázaro Ramos, mostra nove mulheres em situações-limite durante uma noite de réveillon.

A TROPA
• De Gustavo Pinheiro
• Cobogó (104 págs.)
• R$ 32
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