O escritor e produtor Paulo Rogério Ayres Lage joga luz sobre a história de Antônio José Vieira de Carvalho, personagem fundamental da Ouro Preto do século 18. Vindo de Portugal, Vieira de Carvalho foi designado pela Coroa para ser cirurgião-mor do Regimento de Cavalaria Regular da Capitania de Minas Gerais. Também foi o primeiro professor de anatomia, cirurgia e arte obstetrícia do Brasil, no Hospital Real Militar de Vila Rica.
A história – da infância à morte – do português é contada no livro A vida e a obra de Antônio José Vieira de Carvalho: cirurgião-mor do regimento de cavalaria regular da Capitania de Minas Gerais, que foi lançado na Igreja do Carmo, em Ouro Preto, na data de comemoração e 200 anos da morte de Vieira de Carvalho, na quinta (25) passada. A publicação terá lançamento em Belo Horizonte em 24/11, na Livraria Scriptum, e na Vila Nova da Barquinha, em Portugal, no dia 12 de janeiro de 2019. “É um livro simples, que chama a atenção para um personagem desconhecido. Na época, era problemático ser português. Mas ele foi uma figura muito importante. A missa de sétimo dia dele foi celebrada por 23 padres.
Vieira de Carvalho nasceu em Atalaia, Freguesia de Vila Nova da Barquinha, cidade situada à beira do Tejo. Mudou-se para Lisboa para estudar medicina, onde entrou em contato com os ideais iluministas, que o influenciaram na atuação como anatomista. Veio para o Brasil em 1780. Tornou-se amigo do governador Rodrigo de Meneses, que o nomeou, em 15 de junho de 1781, para o cargo de assistente de cirurgia, no Real Hospital Militar de Vila Rica. Pouco depois, foi nomeado cirurgião-mor.
O autor contou com a ajuda da arquiteta Fernanda Maitan para a pesquisa documental em Portugal e com a pesquisadora da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) Rosa Basílio para acessar a documentação disponível no Brasil. “Primeiro, fiz pesquisa nos lugares onde ele viveu. Visitei o lugar onde nasceu, onde viveu.
Embora tenha foco na história de Vieira de Carvalho, o livro permite ao leitor acompanhar o contexto histórico e social da capitania. Na apresentação do volume, Amílcar Vianna Martins Filho aponta que havia cenário “auspicioso para a economia e a sociedade mineiras, ao contrário do que dizia a historiografia tradicional”.
CERÂMICA Vieira de Carvalho exerceu diferentes atividades, além de cirurgião-mor, também instalou em Vila Rica manufatura de cerâmica e fez expedições na busca pelo ouro. Embora a historiografia aponte o declínio econômico em decorrência do fim do ciclo do ouro, o autor destaca, já naquela época, a diversificação de atividades econômicas. Minas assumiu o papel de abastecer o Rio de Janeiro, o que provocou a expansão das atividades agrárias. Também havia grande efervescência cultural.
Foi ao escrever o livro Cerâmica Saramenha, a primeira manufatura de Minas Gerais que Paulo Rogério se interessou pela história de Vieira de Carvalho. O português foi o responsável por instalar a primeira manufatura em Minas Gerais. No entanto, não ficou muito tempo nessa atividade. Tempos depois, Dom João abriu os portos brasileiros para os produtos britânicos, o que permitiu a vinda de produtos que concorriam com o que era produzido na capitania. “O Brasil foi invadido por louças inglesas”, aponta. O cirurgião- mor lançou-se à exploração do ouro nas serras da Mantiqueira, Arrepiados e Santo Antônio. Nessas viagens, minerou oito arrobas, 12 marcos, cinco onças e quatro oitavas de ouro, que foram enviadas para a Casa de Fundição.
Vieira de Carvalho fez a tradução do livro Observações sobre os males dos negros (Observations sur les Maladies des Nègres). “Ele dizia que Portugal, deixando os feitores tratar mal os escravos, enterrava o maior cabedal, que era a mão de obra”, diz. O cirurgião-mor não era abolicionista, mas sua preocupação ia além de ver os escravizados como mercadoria. “Ele era um humanista.
Não há registros de que o cirurgião-mor tenha se casado. Com vocação missionária, integrou a ordem templária Cavaleiros de Cristo. Em Vila Rica, tornou-se confrade na Igreja do Carmo, onde seu corpo está enterrado.
Além do trabalho de pesquisa, chama a atenção no livro a qualidade das ilustrações. O que era um desafio para Paulo Rogério se tornou um dos pontos altos da publicação. “Havia o problema de como eu trataria um personagem desconhecido. Fiz pesquisa iconográfica. Não foi um herói, então não havia muita coisa sobre ele.” O autor convidou Marcos Meira para fazer ilustrações de locais concernentes à história do biografado e usa também obras de Rugendas, Armand Julien Pallière e Felix Taunay.
A vida e a obra de Antônio José Vieira de Carvalho: cirurgião-mor do regimento de cavalaria regular da Capitania de Minas Gerais
• Paulo Rogério Ayres Lage
• Palco Editora (48 págs.)
• R$ 55.