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Vamos cordelizar!

Projeto leva poesia popular a escolas e moradores da região do Barreiro



Há 40 anos, Rodolfo Cascão, ator, diretor, mobilizador social e defensor da cultura popular, incorporou o cordel a suas atividades. No fim da década de 1970, o paulista se mudou para uma comunidade rural no Araguaia, no Mato Grosso. Foi lá que teve contato pela primeira vez com a manifestação literária trazida ao Brasil pelos portugueses.

“No povoado onde morava com minha mulher, conheci a obra do Patativa do Assaré (poeta popular, compositor, cantor e improvisador cearense). Fiquei encantado, virei amante do cordel e desde então ele passou a dar mais brilho a meu trabalho”, revela Cascão, radicado há vários anos na capital mineira.

Em 2012, ele e os integrantes do Parangolé Arte Mobilização, grupo de Belo Horizonte, criaram Cordéis dos cafundó, espetáculo baseado na literatura de cordel e na poesia matuta, com versos de autores populares. Além da declamação, o projeto traz elementos da dança da nega maluca, do mamulengo e projeções audiovisuais. A cenografia remete ao universo das feiras, quermesses e engenhos. A trilha sonora é assinada pelo Trio dos Cafundó.

“Além da sonoridade da palavra cafundó ser muito interessante, ela nos transporta para o universo do interior, do sertanejo”, explica Cascão. Em 2015, o projeto passou a atuar em duas frentes.
A pedagógica age em escolas públicas de Minas Gerais, com alunos e professores. A outra se volta para grupos mais adultos, afeitos à construção artística.

“A ideia é oferecer oficinas de música, teatro e poesia em escolas e, a partir dessa experiência, criar um espetáculo coletivo, além do livreto com os poemas produzidos e o material audiovisual”, reforça.

ESCOLAS Desde julho e com apoio dos frades agostinianos, o projeto atua nas escolas municipais Itamar Franco e Dinoráh Magalhães Fabri, na região do Barreiro. Sábado (27) e segunda-feira (29), o público vai conferir um pouco do que foi trabalhado com professores, alunos e moradores.

“As escolas atendem principalmente comunidades de ocupações e periferias, às vezes marcadas pela violência e por conflitos. Os próprios alunos geram os cordéis e os apresentam em espetáculos”, diz Cascão.

O público poderá conferir duas produções. “A nossa, original, que está em turnê há um bom tempo, e a construção coletiva”, salienta o artista. Em 2019, o projeto vai circular por oito cidades do interior mineiro: Bugre, Coroaci, Córrego Novo, Santo Antônio do Itambé, Santa Maria de Itabira, Sabinópolis, São Domingos do Prata e Santana do Paraíso.

Rodolfo Cascão destaca a força do cordel, que, em setembro, tornou-se patrimônio cultural do Brasil. “Apesar de ser tão tradicional, ele sempre foi marginalizado, considerado poesia menor.
Mas o cordel é de uma riqueza única, está em nosso imaginário. Com esse projeto, a gente prova que todos podem ser poetas. A ideia é: vamos cordelizar!”, convida o ator e diretor.


CORDÉIS DOS CAFUNDÓ
Sábado (27), às 10h, no CRAS Petrópolis. Rua Frederico Boy Prussiano, 137, Bairro Petrópolis, Barreiro. Segunda-feira (29), às 19h30, no Salão da Capela Nossa Senhora Aparecida. Rua Coletivo, 66, Vila Cemig, Barreiro. Entrada franca. Informações: fb.com/cordeisdoscafundo.