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Impacto coletivo

Artistas se unem em grupos para apresentar mostras em cartaz em BH


As pessoas estão rodeadas de máquinas, muitas vezes sem se dar conta da mediação da tecnologia nos afazeres do dia a dia. Um grupo de artistas não só está atento a elas, como busca a interseção entre arte e invenção para suas criações. Até 2 de dezembro, o resultado da investigação de 15 autores pode ser conferido na exposição coletiva internacional Maquinações, homens, máquinas e invenções do cotidiano, em cartaz na galeria do Sesc Palladium.

Maquinações é a terceira edição do projeto Gambiólogos. As outras foram realizadas em 2014, no Centro Cultural 104, e em 2014, no Oi Futuro, em BH. Com menos artistas – passaram de 25 para 15 –, a exposição foi apresentada no Rio de Janeiro, de junho a agosto. “Focamos em arte e invenção por meio da construção de máquinas. Esses autores transitam entre as artes, as áreas criativa e técnica. Trabalham na intercessão entre arte e engenharia”, explica o curador Fred Paulino.

O projeto Gambiologia foi criado em 2008 por Fred, Ganso e Lucas Mafra.
“Meu estúdio, Osso, saiu do terreno do design e publicidade para as artes. Passamos a ser convidados para exposições”, conta Fred. Os artistas partem da ideia da gambiarra como forma de criação tecnológica originária do Brasil. Dentro dessa proposta nasceu a coletiva Gambiólogos.

“A gambiologia é a base disso tudo. É um projeto de articulação em rede, desde sempre. Apresentamos a relação da cultura brasileira com a tecnologia”, explica o curador.

Na entrada da galeria, está a instalação Credo, de Ganso (Paulo Henrique Pessoa). Trata-se de homenagem póstuma.
Ele morreu em junho, poucos dias antes do início da montagem da exposição no Rio de Janeiro. Outro destaque é Homenagem aos reparadores dos moedores de chocolate, assinada por Zaven Paré, francês radicado no Rio de Janeiro. Essa obra de arte cinética foi construída a partir de dezenas de braços de manequins.

“É um globo feito de antebraços em movimento, que fala das mãos dos trabalhadores”, diz Fred Paulino. A exposição conta também com trabalhos de Abraham Palatnik, de 90 anos, pioneiro da arte cinética no Brasil. Mesa de desenho exibe a coleção de desenhos e projetos do potiguar realizados entre 1940 e 1970.

Belo Horizonte é representada por Sara Lana e Daniel Herthel. Sarah criou Máquina de antônimos, objeto que desafia a eficiência da tecnologia. “A máquina responde o contrário do que se espera”, explica o curador. A gambiarrra não é perceptível no trabalho de Daniel – três quadros de desenhos em marchetaria.
No entanto, para criá-los, ele teve de inventar “a própria engenhoca”, como destaca Fred Paulino.

Daniel Herthel se interessou por esculturas e teatro de bonecos. Encontrou na marcenaria a técnica para unir desenho e escultura. Seus desenhos, que tratam do universo da ficção científica, são criados a partir de lâminas naturais de madeira.

No quadro Tábula rasa está o que ele denomina de equalizador sonoro de valores estéticos e morais. Oficina com janela mostra cenas da paisagem a partir do interior de um cômodo. Já Máquina de boas novas é um desenho que o autor prefere não explicar.

Daniel acredita na potência de criação da rede de artistas em torno da ideia da gambiarra como uma forma de tecnologia. “Há o desejo muito grande de fazer, também a disposição de aprender fazendo e o propósito de subverter a condição de precariedade, algo supernobre. Vejo como possibilidade construir temáticas e poéticas. A gambiologia tem o ímpeto de se reinventar, é aprender fazendo”, conclui.

MAQUINAÇÕES – ARTISTAS, MÁQUINAS E A INVENÇÃO DO COTIDIANO
Sesc Palladium. Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3270-8100. De terça-feira a domingo, das 9h às 21h.
Até 2 de dezembro. Entrada franca..