“A Fernando Sabino, seu fã. Manuel, abril de 1961”. A dedicatória que Manuel Bandeira (1886-1968) fez a Sabino para a edição que havia traduzido de D. João Tenório, do poeta e dramaturgo espanhol José Zorrilla, é uma das várias que o público pode ver de perto na sala de leitura que leva o nome do escritor e cronista belo-horizontino.

Ontem, quando Sabino (1923-2004) completaria 95 anos, foi inaugurado no Mercado Distrital do Cruzeiro o Espaço Cultural Encontro Marcado. O projeto, iniciativa do Instituto Cultural Fernando Sabino, é um espaço permanente dedicado à memória do autor de O encontro marcado (1956) e conta com o apoio do Estado de Minas 90 anos.

Na sala de leitura, além de uma pequena parte da biblioteca de Sabino, há fotos do escritor, bem como reproduções de cartas. O público tem a oportunidade de conhecer esta parte do acervo sentado em um velho sofá de couro que ficava na casa do próprio Sabino, no Rio de Janeiro. Ainda na sala está uma lojinha com os livros do escritor, além de camisetas, canetas, copos e garrafas com imagens de Sabino e de frases célebres.

“O mais importante é que o espaço faça a interação entre a literatura e as crianças, tanto que haverá oficinas permanentes”, destacou Bernardo Sabino, sexto dos sete filhos do escritor e responsável pelo Espaço Cultural.

Além da sala de leitura o espaço cultural conta com três estátuas assinadas por Gláucio Bernardes – entre elas as do Quatro Cavaleiros do Apocalipse, como eram chamados os amigos Sabino, Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino e Paulo Mendes Campos, que se reuníam na Praça da Liberdade para “puxar angústia” –, uma linha do tempo, com a cronologia da vida e obra do autor. Até o fim do ano outras atrações serão abertas, como uma sala multimídia.

O Distrital viveu Fernando Sabino e seus personagens durante todo o dia de ontem. Pela manhã, uma grande reprodução da galinha Fernanda – aquela que o garoto Fernando de O menino no espelho (1982) salvou de virar almoço de domingo – foi grafitada pelo artista DMS. Ao lado, crianças participavam de uma oficina de pintura também sobre os personagens do autor. “É um encontro mercado”, afirmou o secretário de Estado de Cultura, Angelo Oswaldo, fazendo um trocadilho com o clássico romance de formação.

Além de oficinas, houve apresentação de teatro, contação de estórias, de show. A cantora Verônica Sabino, filha do escritor, participou da apresentação do grupo Ritmos Urbanos, que encerrou a programação à noite.

O encontro marcado e O grande mentecapto (1979) são alguns dos livros preferidos do pai. Mas Verônica preferiu falar sobre A última crônica, publicada na coletânea A companheira de viagem, de 1965. “Ele descreveu uma situação corriqueira – um casal negro, humilde, comemora em um boteco com um pedaço de bolo e uma Coca-Cola o aniversário da filha – e encerrou o texto dizendo que queria que sua última crônica fosse pura como um sorriso. Acho que é o sentimento de inclusão que este texto passa o que estamos precisando nos dias de hoje”, disse Verônica.

Há 12 anos Bernardo Sabino leva a obra do pai para um projeto cultural voltado para crianças e adolescentes. O Encontro Marcado com Fernando Sabino é desenvolvido em escolas da rede pública de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Oitocentos mil alunos já foram atendidos em 70 cidades.

ESPAÇO CULTURAL ENCONTRO MARCADO COM FERNANDO SABINO

Mercado Distrital do Cruzeiro, Rua Ouro Fino, 452. Funcionamento de terça a domingo, das 8h às 17h30. Entrada franca.