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Debate sobre o clássico Como ganhar uma eleição marca a inauguração de Outlet de Livros em BH

O livro Como ganhar uma eleição – Um manual político da Antiguidade Clássica para os dias de hoje, escrito pelo general e político Quintus Cicero, em 64 a.C, é tema de um debate na noite desta quarta (10) entre o filósofo Newton Bignotto e a historiadora Heloisa Starling. A edição especial do projeto Sempre um Papo marca a abertura do Outlet de Livros, que ocupa o lugar onde, de 2009 a 2015, funcionou a livraria Mineiriana.

Essa edição de Como ganhar uma eleição foi lançada neste ano pela editora Bazar do Tempo, com o texto original em latim e a tradução de Amós Coêlho da Silva (124 páginas, R$ 42). Doutor em filosofia pela École des Hautes Études em Sciences Sociales, em Paris, e professor do Departamento de Filosofia da UFMG, Newton Bignotto define a publicação como “a possibilidade de um mergulho em relação ao passado para se pensar o presente”, considerando o contexto eleitoral brasileiro.

O texto de Quintus tem como interlocutor seu irmão Marcus Cicero, o maior orador da Roma Antiga e então candidato ao alto cargo de Cônsul da República Romana. Ele apresenta estratégias que deveriam ser adotadas em uma campanha política bem-sucedida. O autor sugere ao irmão que faça uma série de promessas, ainda que vazias e controversas, a diferentes grupos políticos, a fim de angariar apoio maciço em sua campanha.

RADIOGRAFIA “O livro oferece uma radiografia de um processo eleitoral, por dentro dele, sem mistificações, sem mentiras. Mostra o que ocorre quando um candidato, no caso o irmão do autor, disputava o cargo mais importante da República Romana”, diz Bignotto.


O filósofo aponta outro aspecto importante no texto escrito há mais de 2 mil anos. “Essa eleição se desenrola não muito antes do final da República, quando eles seriam assassinados. É a combinação de um olhar realista do processo eleitoral, muito semelhante ao nosso, para um processo de crise que nos ensina as fragilidades dessa relação de liberdade.

É um alerta da proximidade, tanto do dia a dia da eleição, quanto do fato de quão precioso é poder participar de uma eleição, afinal ambos foram mortos pela derrocada da República”, explica.

Apesar do oportuno momento para se debater o tema, em meio à disputa pela Presidência do Brasil, Bignotto alerta para a necessidade de critério com as comparações em relação aos dias atuais. “Temos que ser um pouco prudentes. É um processo eleitoral diferente do que temos hoje. Mulheres não votavam, escravos também não, e o dia da eleição era muito complexo. Não era um processo que mais tarde chamaríamos de democrático. Dito isso, assim como agora, trata-se de uma eleição num período de grave crise e Lúcio Sérgio Catilina, um dos candidatos que disputou contra Cicero, viria a intervir no processo para dar um golpe de Estado. Cicero se dá conta, enquanto cônsul, e consegue debelar”, relata Bignotto.

A inauguração do Outlet de Livros vai na contramão da tendência de fechamento de lojas físicas em detrimento do comércio on-line.
Embora o comércio on-line de livros no Brasil já ocupe 40% do volume total do setor, ter um ponto de vendas físico era estratégico para o empreendimento comandado pelo belo-horizontino radicado em São Paulo José Henrique Guimarães.

“Identificamos uma boa oportunidade para uma loja física, não só para quem comprar no site poder retirar o produto no local, se preferir, mas também para ir à loja, como muitos ainda gostam de fazer. No site, por mais prática que seja a experiência, existem limitações. Na loja temos a experiência sensorial de folhear, ver novas capas. Na internet vendemos mais livros cujo comprador já sabe o que quer”, explica o CEO do Grupo Acaiaca, que engloba o e-commerce e a loja física Outlet de Livro.

Se nos outlets de vestuário figuram coleções antigas, no literário as prateleiras serão ocupadas por “livros de baixo giro que compramos das editoras ou livros de que a editora quer se desfazer”, como explica Guimarães. Segundo ele, o diferencial é uma curadoria cuidadosa feita pela equipe, que dispõe de um acervo de 12 mil títulos, à venda na internet, dos quais cerca de 3 mil estarão na loja física. “As pessoas associam outlet a ponta de estoque, mas, no nosso caso, são livros novos, criteriosamente selecionados por nós. Nossa proposta é uma loja bem disposta, organizada por preço, assuntos e bem enxuta”, afirma.

MODELO As chamadas megastores se popularizaram no Brasil a partir do final dos anos 1990, mas, atualmente, enfrentam dificuldades. José Henrique argumenta que a crise não é do mercado literário – cujas vendas no varejo cresceram 6,15% em 2017, em relação ao ano anterior, e 9,8% até agora, em 2018, segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) –, mas do modelo de negócios.

“Queremos explorar esse mercado crescente.
Ao contrário do que se costuma imaginar, o livro impresso não vai acabar. O que precisa ser revisto é o modelo de loja. A venda de livro tem uma margem baixa, custa muito em relação ao que ela alcança. Precisa de volume. Com custos ascendentes, aumento dos aluguéis e do custo de mão de obra e da inflação para o lojista, as maiores redes de livrarias entraram em crise, como a Fnac, que saiu do Brasil”, exemplifica.

Nesse contexto, o Outlet de Livros apresenta arquitetura e design bem mais simplificados do que sua antecessora no local, a Mineiriana, que anunciou seu fechamento em 2015 devido a dificuldades de fazer face ao aluguel do espaço e viabilizar o negócio. Nas prateleiras do novo espaço, clássicos da literatura nacional, como Viva o povo brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro (R$ 29,90) ou No Urubuquaquá, no Pinhém, de João Guimarães Rosa, livros universitários, a exemplo de Direito processual do trabalho, de Sérgio Pinto Martins (R$ 29,90), além de títulos importados.



Como ganhar uma eleição – Um manual político da Antiguidade Clássica para os dias de hoje
• Editora Bazar do Tempo, 124 págs.
• R$ 42
• Sempre um Papo com debate sobre o livro entre Newton Bignotto e Heloisa Starling, às 19h30 desta quarta (10), no Outlet de Livros (Rua Paraíba, 1.419, Savassi). Entrada franca. A livraria funciona de segunda a sexta, das 9h às 19h, e aos sábados, das 9h às 14h.

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