“Ao longo da maior parte da história, Anônimo foi uma mulher.” A frase de Virginia Woolf, uma das figuras mais proeminentes da literatura do século 20, ilustra o processo de silenciamento e invisibilidade feminina que ocorreu durante séculos. Referência para a luta feminista, ela inspirou o primeiro encontro do grupo Leia Mulheres BH, em 2015. Quarta-feira (19), no Sesc Palladium, esse clube de leitura comemora três anos com um debate sobre O calibã e a bruxa, romance de Silvia Federeci.
Analisando apenas obras de escritoras e com o objetivo de discutir a representatividade feminina na literatura, o Leia Mulheres surgiu na capital paulista, há três anos, inspirado no projeto #ReadWomen, de Joanna Walsh, autora de um texto para o jornal britânico The Guardian. A jornalista criticou o pouco espaço reservado à mulher no mercado editorial.
Olívia Gutierrez, uma das organizadoras do Leia Mulheres em BH, explica que o clube discute livros de cunho mais político e feminista, “títulos que chamam a atenção e trazem debates importantes”. Mariana Castro, outra integrante do grupo, diz que Hibisco roxo (de Chimamanda Ngozi Adichie) e Vozes de Tchernóbil (Svetlana Aleksiévitch) estão entre as obras que se destacaram nos encontros.
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Estudante de comunicação social, Gabriela Barbosa acompanha os dois projetos. Em sua dissertação de mestrado, estuda mediações propostas por clubes de leitura femininos. “Mesmo com toda a correria do cotidiano, separar um tempo para ler é uma forma de a gente se desligar um pouco do barulho exterior. Depois vem a conversa com outras mulheres que leram a mesma obra. É uma forma de você encontrar o seu lugar no mundo, um acolhimento”, conclui.
* Estagiária sob supervisão da editora-adjunta Ângela Faria
LEIA MULHERES
Clube de leitura debate a obra de Silvia Federeci. Espaço Multiuso do Sesc Palladium. Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro.