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Veja como foi o lançamento da biografia de Antonio Fagundes em BH

Na TV, no cinema e no teatro foram inúmeros papéis  ao longo de 52 anos de carreira. No entanto, na  noite desta segunda-feira, 3, Antonio Fagundes esteve em Belo Horizonte para falar sobre a experiência inédita de ser tema de um livro. Biografado pela pesquisadora e professora Rosangela Patriota, ele falou ao público da capital sobre o livro e comentou alguns dos temas contados na publicação, durante o evento Sempre Um Papo, realizado no Auditório da Cemig, no Santo Agostinho.

Em uma hora e quarenta minutos de bate-papo mediado pelo jornalista Afonso Borges, idealizador do projeto, ele e a autora falaram sobre a publicação Antonio Fagundes - No palco da história: um ator (saiba mais aqui sobre o livro), que é debruçada essencialmente sobre a trajetória de Fagundes nos palcos. “Não é uma biografia tradicional. É baseada nele (Antonio Fagundes) no meandro da discussão política e social do teatro brasileiro. Me interessava observar a singularidade dele. Tinha isso como ideia e terminei com convicção: é um artista raro no Brasil”, afirmou Rosangela.

Sobre a experiência de ser “seguido” pela pesquisadora por mais de 15 anos, já que o trabalho começou a ser escrito em 2002, ele disse ter confiado totalmente nela.
“Fiquei bem à vontade, pois conhecia e confiava no trabalho dela. Dei total liberdade para fazer o que quisesse, sempre acompanhei, mas com uma distância respeitosa”, revelou o ator, que contribuiu cedendo um grande arquivo que possuía de artigos jornalísticos e fotos.

A conversa resgatou a polêmica envolvendo biografias e grandes artistas do país, que criaram o movimento Procure Saber, em 2013, com o propósito de restringir esse tipo de publicação quando não autorizada. Rosangela lembrou o fato para fazer novos elogios ao biografado. “Em momento algum me senti ameaçada ou incomodada. Fagundes tem uma vivência de respeitar o outro, porque ele também é um intelectual. Sempre confiou e sempre respeitou o trabalho intelectual”, disse a pesquisadora, que fez questão de enaltecer o financiamento público que teve para realizar a obra, através da bolsa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Em conversa com a reportagem após o bate-papo aberto ao público, ela defendeu os incentivos à pesquisa, sobretudo diante do incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, na noite de domingo.
“Hoje, todo mundo que trabalha com cultura está mais que chorando, está indignado. É um momento de dizer basta, basta de tanto descaso, impropério e desrespeito. Fazer pesquisa nesse país é muito difícil. Primeiro porque o tempo inteiro temos que dizer à sociedade que temos importância, é preciso passar pelo processo da educação da cultura e criar um sentimento de pertencimento em todos em relação à pesquisa. Vejo essa iminência de cortes na Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e no CNPq como um descalabro. Nós trabalhamos muito, estamos sempre solicitados a colaborar com a comunidade e muitas pessoas respondem como se não fosse importante”, argumentou Rosangela Patriota.

 

LEI ROUANET, MUSEU NACIONAL E DITADURA

Temas polêmicos também apareceram no momento em que o público pôde fazer perguntas aos convidados. Indagado sobre a eficiência da Lei Rouanet, Fagundes disse que se fosse eleito governante “acabaria com ela”. “Não sou a pessoa mais indicada para falar sobre a Lei Rouanet, porque há 52 anos eu trabalho sem patrocínio.

Quem me patrocina é meu público. Sempre fui sustentado pelas bilheterias dos meus espetáculos. Quando produzi cinema, também produzi sem patrocíinio. Mas a Lei Rouanet me incomoda porque não é a resposta para os problemas do Brasil, sei que ela está sendo mal usada e não resolve os problemas de ampliação e formação de público, por isso eu não a uso.”, disse, destacando que apesar disso, acredita que o estado tem obrigação de cuidar do patrimônio histórico e de todas as expressões culturais do país.

O incêndio no Museu Nacional também foi alvo de uma das perguntas. O ator categorizou o episódio como “o fim de uma perda”. “Ele vinha sendo destruído há tempos. Não podemos culpar um governo só. São muitos os culpados Infelizmente será o primeiro de uma longa série porque existem inúmeros museus nessa condições. Se nada for feito, vamos perder tudo”.
A trajetória teatral de Antonio Fagundes durante a ditadura militar, com montagens que resistiam à censura, foi pauta em outros momentos da conversa.

Com exclusividade ao EM, ele comentou sobre o tema e alertou para as perdas de liberdade no contexto atual do país, mesmo no regime democrático. “Não sei se a gente está vivendo essa liberdade. Estamos vivendo um momento bastante delicado e é preciso dar dois passinhos atrás para perceber. As palavras de ordem estão tomando conta da discussão pública de ideias. Você é atacado por ter uma opinião e isso é uma perda da liberdade de expressão, não só do artista, mas da população em geral”, ponderou.

A presença de muitos fãs e admiradores entre a plateia trouxe para debate também sua carreira televisivas. Uma mãe acompanhada da filha perguntaram sobre a série Carga pesada, cuja primeira temporada foi exibida entre 1979 e 1981 e a segunda entre 2003 e 2007 pela TV Globo. Além de dizer que Stênio Garcia, com quem dividia o protagonismo, se tornou “mais que amigo, mas um irmão”, ele classificou como “muito difícil” a possibilidade de uma nova temporada e justificou contando sobre dificuldades que enfrentaram já em 2003.

“No começo da segunda temporada teve uma cena em que eu e o Stênio tínhamos que correr e subir no caminhão. Depois nos sentamos, cansados, e ele falou, ‘esse caminhão está mais alto?’ e eu respondi: ‘sim, 25 anos mais alto’’, relemrbou o ator hoje com 69 anos.
Ainda sobre suas atuações na TV, ele revelou que gosta de ver seus trabalhos “só depois de muito tempo, porque permite certo distanciamento do que foi feito para ver se ficou bom ou ruim e analisar o personagem”.

 

Veja o que ele disse sobre a participação no Sempre Um Papo:

 

 

 

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