O mais recente livro sobre os primeiros anos do pontificado de Francisco - O Futuro da Fé - lançado agora no Brasil, é uma transcrição de 12 longas entrevistas gravadas no Vaticano. O papa debateu com o sociólogo Dominique Wolton, diretor do Centre National de la Recherche Scientifique, problemas, desafios e metas da Igreja, em conversa descontraída e, ao mesmo tempo, séria e divertida.
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Se não se aprofunda em algumas questões, talvez seja porque o entrevistador não tenha insistido.
O papa garante que não esperava ser eleito no conclave de 2013. Chegou com uma malinha e passagem de volta. "Nas casas de aposta de Londres, eu era o 42.º ou 46.º. Não havia a menor chance, eu nem pensava nisso, havia três ou quatro ‘grandes’ nomes..." Francisco acha graça na surpresa que causou, ao saudar com um familiar ‘boa noite’ a multidão que o aplaudia quando apareceu no balcão da Basílica de São Pedro.
O ex-arcebispo de Buenos Aires diverte-se com as piadas que correm a respeito dele. Por exemplo essa: prova da humildade do sucessor de Pedro é o fato de, apesar de ser argentino, ter-se imposto o nome de Francisco, em vez de se fazer chamar de Jesus II. O sociólogo Dominique Wolton embarca nas brincadeiras, mas o tom do diálogo é sempre sério, ao tratar de teologia, doutrina, pastoral e fé. Autor de mais de 30 livros, o francês se preparou cuidadosamente para entrevistar o papa.
"O ângulo escolhido, para esse livro, volta-se para uma das questões recorrentes da história da Igreja: qual é a natureza de seu engajamento social e político?", adianta Wolton, ao falar do projeto de entrevistar Francisco. Foi tudo negociado, os encontros tiveram a chancela do Vaticano, sob orientação do entrevistado. Teologia da libertação, união civil de pessoas do mesmo sexo, guerra, pedofilia, aborto, ex-padres, mulheres diaconisas, nada foge da conversa. O papa condenou a pena de morte em 2016, dois anos antes de oficializar essa condenação em 2018. Sinaliza para outras mudanças, como, por exemplo, possíveis concessões na questão do celibato sacerdotal.
Diálogo, para Francisco, consiste na construção de pontes. Misericórdia é uma virtude que vai do coração às mãos, em gestos de amor e solidariedade. Política, no sentido querido por Deus, é prova de caridade, um serviço às pessoas, independentemente de crenças. O apoio ao ecumenismo e ao diálogo religioso, realidade nova e crescente desde o Concílio Vaticano II, tem-se traduzido por encontros com judeus, palestinos, muçulmanos, ortodoxos e protestantes. Ações concretas ilustram a orientação do papa. Dois exemplos: decidiu trocar o palácio apostólico por um apartamento modesto na Casa Santa Marta para ficar mais junto das pessoas e transformou a residência pontifícia de Castelgandolfo em museu, para lembrar que ali Pio XII escondeu perseguidos políticos na 2ª Guerra.
Para descansar, prefere os jardins do Vaticano.
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